Adolescência, educação e participação
democrática
Uma educação com foco no potencial
nos permite ver, pensar, sentir e agir em relação aos mais jovens a partir do
que eles são e podem, mas nunca de suas carências e seus riscos.
Segundo o art 2º da LDB diz: “A
Educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e
nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento
do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para
o trabalho.”
Assim temos a liberdade como princípio na LDB e, em nossa proposta educativa,
isso se traduz em formação para a autonomia,
ou seja, para que o jovem seja capaz de fazer escolhas bem fundamentadas na
vida e se autodeterminar. A LDB propõe ainda que a educação tenha como ideal a solidariedade e prepare para o
exercício da cidadania, isso se traduz em nossa proposta educativa no jovem
solidário, capaz de preocupar com o outro e de participar ativamente da
sociedade. E, por último, a LDB propõe que a educação prepare para o trabalho, isso se traduz na ideia de jovem
competente, ou seja, que leve suas competências
para o mundo, inclusive para o mundo do trabalho.
Portanto apresentamos os três
eixos indissociáveis neste trabalho:
EDUCAÇÃO PARA
VALORES
Conduz
à Autonomia: dá subsídios para que o jovem possa capacitar-se para tomada de
decisões.
|
PROTAGONISMO
JUVENIL
Conduz
à solidariedade: estimula a participação do adolescente nos problemas
concretos de sua comunidade.
|
TRABALHABILIDADE
Conduz
à competência no mundo do trabalho: auxilia o jovem a compreender o novo
mundo do trabalho e as habilidades que precisa dominar para ingressar e
permanecer nele.
|
O termo “protagonismo juvenil”
Ø Origem grega
Ø Proto: O
primeiro, o principal
Ø Agon: Luta
Ø Agoniste:
Lutador
Ø Protagonista: O lutador
principal (de uma contenda na Grécia antiga)
ü
O ator principal (teatro)
ü
O personagem principal
Aqui temos a
origem da palavra protagonismo, para conceituar a palavra juventude não é
tarefa fácil porquê:
Ø
O conceito de juventude varia de acordo com o
interesse específico de quem o maneja.
Ø
O contexto econômico, social e cultural é outro fator
de variabilidade do conceito.
Ø
Há que se ter em conta a conceituação de que de si
mesmos fazem os próprios jovens.
Quando
falamos em protagonismo juvenil, que conceito de jovem estamos usando? Que jovem é esse?
Ø
Definições de Juventude
-
Critério cronológico (ONU) 15 a 24 anos
-
Definição clássica: trânsito entre a infância e a
idade adulta.
-
Definições do mundo adulto são voltadas mais para o
dever de ser do que para o ser.
-
Não existe um paradigma hegemônico para se definir
juventude.
JOVEM
“Adolescente
é um ser que se procura e se experimenta”
(Paul
Eugène Charbonneau)
Portanto
vamos trabalhar, com este conceito, numa perspectiva pedagógica de educar para
valores, de construção de autonomia e de protagonismo.
Experimentar
é a pré-disposição natural do jovem de vivenciar, de incorporar os valores pela
vivência. Assim ao contrário do que costumamos pensar, o jovem adolescente é um
terreno forte para o trabalho com valores.
PROTAGONISMO
JUVENIL
Conceito: método de ação social e educativa capaz de
possibilitar ao jovem o desenvolvimento da sua cidadania, por meio de geração
de espaços e situações propiciadoras da sua participação criativa, construtiva
e solidária na solução de problemas reais na escola, na comunidade ou na vida
social mais ampla.
Objetivo: contribuir para a formação de jovens capazes de
exercer a cidadania plena, participando do encaminhamento e resolução de questões
que dizem respeito ao bem comum de forma crítica, criativa, construtiva e
solidária.
Então, os jovens
protagonistas vão trabalhar numa dimensão da realidade ao seu redor para
melhorá-la concretamente. É o jovem como solução ao exercer cidadania em favor
do bem comum.
FUNDAMENTOS
BÁSICOS DO PROTAGONISMO JUVENIL
Ø O jovem é parte da solução e não pode ser considerado
problema;
Ø Na ação social e educativa, o jovem é parceiro e
interlocutor da equipe de educadores;
Ø É preciso apoiar nas forças e não nas fraquezas dos
jovens;
Ø O jovem é fonte de iniciativa (ação) liberdade (opção)
e compromisso (responsabilidade);
Ø A ação protagônica é um caminho para sair do conceito
de participação e chegar à prática autêntica;
Ø Uma visão sistêmica do protagonismo juvenil tem a participação como base, cooperação como meio e a autonomia do
jovem como fim;
Ø Uma ação social e educativa de qualidade ajuda o jovem
a construir sua identidade e seu projeto de vida.
A
participação como base;
A
cooperação como meio;
A
autonomia como fim.
JOVENS MOBILIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO
Falar em mobilização
participação de jovens na escola implica em discutir algumas questões iniciais,
como papel e a função da escola frente às demandas sociais, especialmente no
tocante à formação de cidadãos.
A Escola que se quer,
é integradora e faz parte do movimento interno da sociedade; discute o que
acontece fora de seus muros com seus agentes; uma escola que saiba lidar com as
diferenças levando os alunos a respeitá-la; que construa valores, como a
tolerância e a solidariedade; que acolha os jovens de maneira a desenvolver sua
autoestima. Uma escola que integra, acolhe e realiza, ao mesmo tempo, sua
função de desenvolver competências e de construir conhecimentos experiências e
crítica social, formando cidadãos. Tedesco (1998) afirma que um dos problemas
mais sérios relativos à formação do cidadão atualmente corresponde ao “déficit
de socialização”. Segundo o autor, a família e a escola estão perdendo capacidade
para transmitir, com eficácia, valores e normas culturais de coesão social.
Falamos da
participação dos alunos:
Uma ação protagonista
pressupõe etapas a serem percorridas; isto é não alcança sua autonomia sem ter
vivenciado algumas formas de relação com a escola.
ETAPAS
DE UMA AÇÃO PROTAGÔNICA FORMAS DE RELAÇÃO EDUCADOR-EDUCANDO.
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ETAPAS
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DEPENDÊNCIA
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COLABORAÇÃO
|
AUTONOMIA
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1.
Iniciativa da ação.
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Iniciativa unilateral dos
educadores.
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Educadores e Educandos
discutem a ação.
|
Iniciativa dos jovens
|
2.
Planejamento da ação.
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Educadores planejam sem os
jovens
|
Planejam juntos
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Os jovens planejam a ação.
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3.
Execução da Ação
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Educadores executam e
jovens recebem
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Executam juntos
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Os jovens executam junto o
que foi planejado.
|
4.
Avaliação da Ação
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Educadores avaliam os
jovens.
|
Avaliam juntos
|
Os próprios jovens avaliam
a ação.
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5.
Apropriação dos resultados da ação.
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Resultados apropriados
pelos educadores.
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Compartilham resultados.
|
Os jovens se apropriam do
resultado.
|
Antonio
Carlos Gomes da Costa (2000)
Se os objetivos da
Educação é promover o desenvolvimento pessoal do aluno, todos os esforços no
sentido de incentivar nas escolas ações que estimulem o desenvolvimento de sua
autonomia e, muito a sua autonomia intelectual, devem ser realizados.
Por isso, é essencial
que os alunos tenham voz (e vez) na escola, através da concepção e elaboração
de projetos curriculares, da organização das atividades que levem a reflexão e
busca de soluções de forma coletiva e compartilhada. A escola precisa não
somente recuperar o significado do seu currículo para os alunos, mas suas
formas de relacionamento, valorizando a criatividade e a ousadia que os jovens
possuem.
Muitas são as
competências construídas quando os alunos se mobilizam e têm espaço para
participar do cotidiano da escola: saber ouvir e respeitar a opinião do outro,
trabalhar em grupo, interagindo com o diferente, selecionar o que é
significativo, aprender a aprender, experimentar, argumentar, criticar, tomar
decisões.
Uma das maneiras de
estimular sua participação é integrar à vivência escolar aspectos de suas
culturas. É preciso que os jovens tenham identidade com a escola. Neste
sentido, é necessário que ela conheça seus alunos e os novos padrões culturais
dos jovens, articulando-os aos seus desenhos curriculares.
“As significativas diversidades na
cultura juvenil se apóiam em alguns elementos comuns: a importância do corpo,
da música, de algumas formas personalizadas de religião, o predomínio da imagem,
a empatia com a utilização das novas tecnologias, a importância fundamental da
afetividade como dimensão das relações sociais e o predomínio do presente como
dimensão temporal dominante.” Tedesco –2001.
Mobilizar jovens a participarem
ativamente da construção do seu conhecimento e da vida escolar é incentivá-los
a redesenhar uma escola onde tenham voz para compartilhar seus sonhos, seu
poder criativo e sua alegria. E isto é dever de todos que dela participam. É
oportunizar sua capacidade de ser cidadão pleno, de poder intervir no mundo em
que vivem e na reconstrução do contexto em que se encontram, atuando por uma
sociedade mais justa, solidária e que aceita as diferenças, ampliando os
espaços de construção coletiva.
O QUE SIGNIFICA PENSAR NO PROTAGONISMO DO PONTO DE
VISTA DO CURRÍCULO?
Pode-se pensar em
três perspectivas:
1.
Dimensão didática pedagógica, protagonismo significa garantir certa autonomia ao
estudante nos próprios processos de aprendizagem. Trata-se de planejar o
currículo, os programas e as aulas de forma a estimular e assegurar a
participação do aluno na construção do seu próprio conhecimento, na definição
de conteúdos, no desenvolvimento das aulas e no processo de avaliação.
2. Dimensão
social, significa integrar os
conteúdos curriculares de forma a dar condições ao jovem de, a partir desse
conhecimento integrado, interferir efetivamente na realidade, por meio de
projetos interdisciplinares que prevejam ações sociais a serem desenvolvidas com
a população. O contato com a comunidade
gera sociabilidade e favorece a solidariedade. A possibilidade de usar o que se
aprende na escola, por sua vez, estimula o desejo de saber mais e, ao mesmo
tempo, favorece o desenvolvimento de competências e habilidades que sirvam aos
jovens uma inserção no mercado de trabalho.
3.
Dimensão Cultural: significa abrir espaço no currículo para a participação do jovem em
atividades culturais, permitindo que ele interfira também na produção cultural.
“Por meio da produção cultural realizada
por grande parte dos grupos [juvenis], os jovens se colocam como produtores
ativos. As músicas que criam, os shows que fazem e os eventos culturais que
promovem são espaços de construção de autoestima, possibilitando a formação de
identidades positivas”. (Juarez
Dayrell).
O PAPEL DO
EDUCADOR/MEDIADOR
A adesão à perspectiva pedagógica do protagonismo juvenil vai muito além
da assimilação pelo educador de algumas noções e conceitos sobre o tema. Antes
de tudo, essa adesão deve traduzir-se em um compromisso de natureza ética entre
o educador e o adolescente. O protagonismo deve ser vivido como participação do
adolescente no ato criador de ação educativa em todas as etapas de sua
evolução.
Além de um compromisso ético, a opção pelo desenvolvimento de propostas
baseadas no protagonismo juvenil exige do educador uma clara vontade política
no sentido de contribuir, através de seu trabalho, para a construção de uma
sociedade que respeite os direitos de cidadania e aumente progressivamente os
níveis de participação democrática de sua população.
Mas a clareza conceitual,
o compromisso ético e a vontade política só potencializam verdadeiramente sua
ação quando o educador está comprometido em níveis que ultrapassam em
profundidade o conhecimento do assunto, ou seja, quando ele está emocionalmente
envolvido com a causa da dignidade plena do adolescente. Para que isso ocorra,
o educador deve evitar posturas que inibam a participação plena dos jovens. Eis
um pequeno elenco de posturas assumidas pelos adultos ao trabalhar com adolescentes.
1- anunciar aos jovens decisões já tomadas, reservando-lhes apenas o dever de
acatar;
2- decidir previamente e depois tentar convencer o grupo a assumir
a decisão tomada pelo educador, como se fora sua própria decisão.
3- apresentar uma proposta de decisão e convocar o grupo para
discuti-la;
4- o educador apresenta o problema, colhe sugestões e decide com
auxílio do grupo;
5- o educador estabelece os limites de determinada situação e
solicita aos adolescentes que tomem decisões dentro desses limites;
6- o educador deixa a decisão a cargo do grupo, sem interferir no
processo que a originou.
A evolução do trabalho com um grupo de adolescentes
empenhados em decidir a partir de uma ação protagônica segue de modo geral as
seguintes etapas:
-
apresentação da situação problema de modo mais realista e desafiante possível.
É necessário embasa-la em dados informações e objetivos.
-
proposta de alternativa ou vias de solução deve-se procurar extrair do grupo o
maior número de alternativas de solução para o problema apresentado.
-
discussão das alternativas de solução apresentadas. O grupo deve estar
consciente de que são ideias e não as pessoas que as apresentarem que estão em
julgamento.
Em seu trabalho com
jovens envolvidos na realização de ações protagônicas, cabe ao educador:
-
ajudar o grupo a identificar situações-problema e a posicionar-se diante delas;
-
empenhar-se para que o grupo não desanime nem se desvie dos objetivos
propostos;
-
favorecer o fortalecimento dos vínculos entre os membros do grupo;
-
animar o grupo, não o deixando abater-se pelas dificuldades;
-
zelar permanentemente para que a ação dos jovens seja compreendida e por todos
os que com eles se relacionam no curso do processo;
-
manter um clima de empenho e mobilização do grupo;
-
colaborar na avaliação das ações desenvolvidas pelo grupo e na incorporação de
suas conclusões nas etapas dos seguintes do trabalho.
O Educador deverá em seu
trabalho:
-
ter consciência de que a participação na solução de problemas reais da
comunidade é fundamental para o desenvolvimento pessoas e social de um
adolescente;
-
conhecer os fundamentos, a dinâmica e a evolução do trabalho com grupos;
-
compreender adequadamente o projeto e ser capaz de explicá-lo quando
necessário;
-
ter capacidade de administrar oscilações de comportamento entre os
adolescentes, como conflitos, passividade, indiferença, agressividade e
destrutibilidade;
-
ser capaz de conter-se para proporcionar aos educandos a oportunidade de pensar
e agir livremente;
-
respeitar a identidade, o dinamismo e a dignidade de cada um dos membros do
grupo;
PROTAGONISMO JUVENIL: EXISTEM AÇÕES EM SUA ESCOLA?
1-
Roteiro de Investigação.
A.
Retomar o
projeto político-pedagógico da escola, procurando identificar ações que sejam
de fato orientadas pelo princípio do protagonismo juvenil. Observar:
· o tipo de participação dos alunos nos projetos
desenvolvidos nas disciplinas;
· o tipo de participação dos alunos nos conselhos de
escola e de classe;
· o tipo de participação dos alunos nos momentos de
avaliação;
· até que ponto a metodologia de trabalho adotada pela
maioria dos professores permite a
participação do aluno nas ações pedagógicas;
· em que medida os interesses e as necessidades do aluno
e as expectativas da comunidade escolar são considerados na definição das ações
educativas;
· se existem ações educativas que acolhem as culturas
juvenis;
· se estão previstas ações educativas que acolhem as
culturas juvenis;
· se estão previstas ações educativas para serem
planejadas, desenvolvidas e avaliadas pelos alunos;
· se existem projetos sociais e culturais voltados para
a comunidade para serem planejados, desenvolvidos e avaliados pelos alunos.
B. Observar nas ações cotidianas da escola:
o
Se existem canais de comunicação para que os
alunos se manifestem, dando sugestões, relatando problemas ou sugerindo
soluções, a respeito de questões cotidianas;
o
O tipo de
tratamento dado aos alunos pelos diferentes profissionais que atuam na escola;
o
Como o aluno participa
das decisões sobre a utilização do espaço escolar;
o
Qual atuação da
equipe escolar para garantir a existência de espaços específicos de
participação dos alunos- por exemplo, um grêmio;
o
O modo pelo qual
as culturas juvenis são aceitas e promovidas no espaço escolar.
“Na
relação educativa não se ensina somente aquilo que se sabe e que se quer
ensinar. Ensina-se aquilo que se é. O propósito do ato de educar é – a partir
do que somos, sabemos e aspiramos – exercer sobre o outro uma influência verdadeiramente
construtiva.”
Antonio Carlos Gomes da Costa.
Bibliografia:
1- COSTA, Antônio Carlos Gomes da – Protagonismo
juvenil: adolescência, educação e participação democrática. Salvador: Fundação
Odebrecht, 2000.
2- SUPERAÇÃO JOVEM – Fio Condutor para a Formação
de Educadores. Instituto Ayrton Senna.