Uma breve reflexão sobre a paixão e a
resistência do educador
“As verdadeiras questões da educação
resultam de que nas escolas há pessoas jovens, que devem ser ajudadas, tanto
quanto possível, a serem felizes".(...)
Nós, professores e professoras de
todos dias, mergulhamos no complexo desafio de humanizar crianças,
adolescentes, jovens e adultos a partir da construção do conhecimento. Os
tempos mudam, mas não mudou o papel da escola. A escola é o grande laboratório
onde se geram a socialização e convivência interpessoal, bem como a construção
do conhecimento, a partir das ideias e iniciativas inerentes à criatividade
humana.
Abençoada seja a nossa missão de
educar. Abençoados sejam nossos propósitos, mesmo nem sempre compreendidos
pelos alunos, pais e comunidade. Abençoadas sejam nossas famílias que se geram
neste contexto que exige ousadia, paciência, preparo e persistência, em resumo,
em doação à vida dos outros. Abençoada seja a nossa saúde física e mental, pois
não podemos adoecer e nem fraquejar. Abençoados sejam todos aqueles e aquelas
que, por nossas mãos, mentes e coração aceitaram e aceitam o desafio de fazer-se
gente, a partir dos seus potenciais e da superação de seus limites. Abençoados
todos aqueles que acreditam no trabalho do professor.
Nada mais gratificante em nossa
profissão do que o reconhecimento de alunos e alunas que, mesmo tardiamente,
fazem questão de afirmar que a gente fez diferença em suas vidas. Não há como
medir, no cotidiano da vida escolar, quando e como realizamos ações ou atitudes
que marcaram positivamente a vida de um de nossos alunos. Afinal, a gente nunca
foi e nunca será gênio para adivinhar; sempre seremos visionários para
arriscar, mudar e ousar. Nisto, sempre fomos mestres.
O que entristece a nossa vida é que
tanto cuidamos da vida, dos sonhos e dos problemas dos outros, mas nem sempre
somos bem cuidados. Queríamos, sim, reconhecimento por nosso maior feito:
preservar a importância da educação e da escola para o nosso país, para o
mundo.
Muitos falam de educação, mas não são
professores. Arriscam palpites sobre melhorias na educação, mas não perguntam
sobre o que a gente tem a dizer. Não se importam com nossos baixos salários,
muito menos com nossas dificuldades de lidar com as múltiplas dimensões e
necessidades presentes nos nossos alunos. Nestes últimos quesitos, lutamos
solitários. Embora não tenha mudado o papel da escola e da educação, mudaram as
exigências para que possamos construir uma boa aprendizagem. Temos observado
que nem todo aluno e nem todos os pais veem a escola como uma forma de inserção
na vida social e científica. Que as necessidades dos nossos alunos estão muito além
para aquilo que a escola consegue oferecer. Que escolas e professores nem
sempre estão em condições de dar conta de tudo o que está “depositado” neles.
O fato é que, a complexidade de nosso
mundo é a complexidade da nossa escola; esta complexidade está nos distintos
recantos de nosso país. O que muda de uma escola para o outra é o modo de
conduzir os processos de aprendizagem e de interação social, mediados pelo
conhecimento. A especificidade de cada escola e de cada contexto é que precisam
ser sempre avaliados, reconhecidos e apoiados.
O professor, neste contexto, está
fragilizado, exposto e pressionado por resultados e expectativas que não
dependem somente de sua atuação. Mas professores e professoras resistem
bravamente. Sabem que a dureza dos desafios cotidianos supera-se na disposição
de lutar por melhores dias na educação, mas também na sua disposição de amar e
sentir compaixão. Como escreveu Paulo Freire, “não é possível refazer este
país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando
de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se
a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade
muda”.
Nosso alento, “esperança de dias
melhores".
(Prof.Nei Alberto Pies - Jornal Mundo
Jovem)