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quinta-feira, 2 de março de 2017

QUARESMA: PODE SER DIFERENTE



por Padre Ivo Pedro Oro
A festa da Páscoa é a mais importante no calendário litúrgico da Igreja Católica. Para prepará-la bem, desde os primeiros séculos do cristianismo, costuma-se ter não apenas um ou três dias de preparação, mas quarenta. O número quarenta na Bíblia é simbólico. Lembra o tempo necessário de treinamento para viver uma vida nova, uma nova realidade. Assim, temos os quarenta anos do povo israelita no deserto, preparando-se para chegar à terra prometida. Temos os quarenta dias de retiro e deserto de Jesus, vencendo as tentações de seu tempo, preparando-se para realizar a sua missão.

A quaresma vai da quarta-feira de cinzas até a celebração da bênção dos óleos, na quinta-feira santa. Portanto, um pouco mais de quarenta. Mas a vivência deste tempo deve ter o “espírito de quarenta”, ou seja, de treinamento, fortalecimento, penitência para uma profunda mudança de vida.

 Tempo de penitência e conversão

Este é um tempo forte em que Deus nos convoca a voltarmos para Ele e para os irmãos e irmãs, no amor e fraternidade, vencendo o egoísmo, a ganância e o fechamento. Ninguém muda e se aperfeiçoa sem sacrifício e sem esforço. Para estarmos unidos aos sentimentos de Cristo e trilhando o caminho da Páscoa, fazemos na quaresma nossa “penitência”: um tempo mais denso e intenso de espiritualidade, cultivando a oração, o amor a Deus na escuta de sua Palavra e a solidariedade aos irmãos. Mas não é tempo de tristeza, e sim de alegria interior pela vida nova que, em Cristo, Deus nos oferece.

Tradicionalmente, há séculos, a Igreja estabelecia jejum na alimentação da quarta-feira de cinzas e abstinência de carne todas as sextas-feiras quaresmais. Isso ainda está em vigor, mas pode-se adaptar para outras coisas (abstinência de bebida alcoólica, de doces, de enlatados, do exagero de produtos de embelezamento, de uso de celular ou de outros supérfluos). Isto terá um valor espiritual maior se, o que gastaríamos com tais coisas, for doado em solidariedade aos pobres, sobretudo através de iniciativas e instituições sociais. Senão, seria uma poupança em benefício de si próprio.

As penitências têm para nós um valor pedagógico e teológico. Ao mesmo tempo em que nos fortalecem para termos mais autodomínio e autocontrole sobre nossas tendências e sobre os vícios (as tentações do prazer, do acumular e do poder), nos levam a participar do sofrimento, paixão e morte de Jesus, para ressuscitarmos com Ele para uma vida nova. É como diz a oração do Prefácio da quaresma: “Pela penitência da quaresma, corrigis nossos vícios, elevais nossos sentimentos, fortificais nosso espírito fraterno e nos garantis uma eterna recompensa”; e “o jejum e a abstinência que praticamos, quebrando nosso orgulho, nos convidam a imitar vossa misericórdia, repartindo o pão com os necessitados”.

Cultivar e guardar a criação

A Campanha da Fraternidade constitui um modo excelente de vivermos o sentido de conversão e renovação da quaresma. Neste ano, as Igrejas nos convidam a mudarmos de vida e a prepararmo-nos para a Páscoa cultivando e guardando a obra da criação de Deus, possibilitando a recuperação dos diversos biomas. Sem esse compromisso com a vida do planeta, nossa alegria pascal não será plena.  Somos chamados a viver a paz conosco mesmos (paz interior), com nosso próximo (familiares, vizinhos, colegas e comunidade), com a natureza (defendendo a água, o solo, o ar, as matas, a biodiversidade) e com Deus (dimensão do perdão e da reconciliação).

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