Para início de conversa
Ecologia parece ser o tema da moda.
Nos jornais e na televisão ele está cada vez mais presente. Até nos comerciais
e nas embalagens de diversos produtos constantemente são mostradas cenas de
florestas e de animais. Grupos ou pessoas identificadas como ecologistas ou
defensores do meio ambiente ganham espaço na mídia. Difundem-se slogans como “Respeite a natureza” e
“Preserve o verde”.
Uma recente pesquisa de opinião (O
que o brasileiro pensa da ecologia – 1993) apontou que o nosso povo manifesta
grande interesse pelo meio ambiente: valoriza a natureza, é favorável a sua
preservação e, até, a considera sagrada. Mas as posturas favoráveis à natureza
revitalizam-se à medida que os temas ganham concretude ou proximidade. O
brasileiro desconhece ou não tem informações sobre as questões ambientais e, em
nível pessoal, não acredita estar ao seu alcance uma ação ativa e efetiva pelo
meio ambiente.
Quando solicitado a enumerar os
componentes do meio ambiente, menciona em primeiro lugar, os elementos
naturais: as matas, os animais selvagens, os rios, o ar e o solo. Atribui pouca
importância à presença humana ou fatores sociais.
Os dados dessa pesquisa demonstram
que a população brasileira tem dificuldade em entender que ecologia, pobreza e
desenvolvimento são faces de uma mesma moeda. Dessa forma, é precária a
compreensão de que a degradação ambiental está evidentemente associada ao
padrão de produção, distribuição e consumo do atual modelo de desenvolvimento.
Será que a ecologia ou meio ambiente
dizem respeito à natureza, como pensa majoritariamente o brasileiro, e que,
portanto, Educação Ambiental significa somente explicar como funcionam os
ciclos naturais e incentivar as pessoas para que amem e respeitem as plantas e
os animais? Ora, de uma forma ou de outra, isso já é feito nas escolas há muito
tempo; é a prática corrente ensinar a fotossíntese e comemorar o Dia da Árvore.
Qual a novidade?
É preciso ter em mente que, nos dias
atuais, quando pensamos em ecologia devemos considerar:
- as complexas relações de
interdependência entre os diversos elementos da natureza, nos quais o homem se
situa;
- que o homem é capaz de conhecer e
transformar a natureza, atribuindo-lhe significados e valores que se modificam
ao longo da história;
- que o homem não se relaciona com a
natureza apenas como indivíduo, mas principalmente por meio do trabalho e de
outras práticas sociais, e que, portanto, tal relação tem dimensões econômicas,
políticas e éticas.
Por isso, discutir acerca do meio
ambiente significa tratar questões bastante complexas, como agricultura,
indústria, pobreza e desenvolvimento. A Educação Ambiental não pode limitar-se
a ensinar os mecanismos de equilíbrio da natureza. Fazer Educação Ambiental é
também revelar os interesses de diferentes grupos sociais em jogo nos problemas
ambientais. Além do amor à natureza e do conhecimento de seus mecanismos, é
preciso aprender a fazer valer nossos ideais com relação aos destinos da
sociedade em que vivemos e do planeta que habitamos.
Educação Ambiental: uma abordagem pedagógica dos temas da atualidade.
Centro Ecumênico de Documentação e Informação – CEDI/Koinonia –
Presença Ecumênica e Serviço / Ação Educativa/CRAB –
Movimento de Atingidos por Barragens. Rio de
Janeiro, 1994, p. 9-10.
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