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segunda-feira, 13 de julho de 2020

15 poemas infantis famosos que as crianças vão adorar

A poesia tem o poder de nos emocionar, de nos transportar para outros mundos e de nos educar acerca da complexidade humana.

 

Por todos esses motivos, e muitos mais, o contato das crianças com a poesia pode ser mágico e potenciar um amor pela leitura que durará a vida toda.

 

Está procurando poemas curtos para ler com as crianças e inspirar os pequenos leitores? Confira as composições que selecionamos, e comentamos, para você.

 

1. Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles

 

Ou se tem chuva e não se tem sol

ou se tem sol e não se tem chuva!

 

Ou se calça a luva e não se põe o anel,

ou se põe o anel e não se calça a luva!

 

Quem sobe nos ares não fica no chão,

quem fica no chão não sobe nos ares.

 

É uma grande pena que não se possa

estar ao mesmo tempo em dois lugares!

 

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,

ou compro o doce e gasto o dinheiro.

 

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…

e vivo escolhendo o dia inteiro!

 

Não sei se brinco, não sei se estudo,

se saio correndo ou fico tranquilo.

 

Mas não consegui entender ainda

qual é melhor: se é isto ou aquilo.

 

Cecília Meireles (1901 – 1964) foi uma notória escritora, artista e educadora brasileira. Considerada uma das maiores poetas nacionais, a autora também se destacou no campo da literatura infantojuvenil.

 

Alguns dos seus poemas dedicados ao público infantil se tornaram verdadeiros clássicos e continuam sendo muito populares entre leitores de todas as idades.

 

O poema em análise, publicado na obra homônima Ou Isto ou Aquilo (1964) é, talvez, o mais famoso. A composição contém um ensinamento fundamental acerca do modo como a vida funciona: temos, constantemente, que fazer escolhas.

 

Isso implica, no entanto, que não podemos ter tudo ao mesmo tempo. Quando optamos por uma coisa, estamos abrindo mão de outra. A poetisa consegue traduzir esse eterno sentimento de incompletude através de exemplos simples, com elementos do cotidiano.

 


 

Conheça mais sobre a poesia de Cecília Meireles.

 

2. Pessoas são Diferentes, de Ruth Rocha

 

São duas crianças lindas

Mas são muito diferentes!

Uma é toda desdentada,

A outra é cheia de dentes…

 

Uma anda descabelada,

A outra é cheia de pentes!

 

Uma delas usa óculos,

E a outra só usa lentes.

 

Uma gosta de gelados,

A outra gosta de quentes.

 

Uma tem cabelos longos,

A outra corta eles rentes.

 

Não queira que sejam iguais,

Aliás, nem mesmo tentes!

São duas crianças lindas,

Mas são muito diferentes!

 

Ruth Rocha (1931) é uma das maiores escritoras de livros infantis do panorama nacional. Sua composição mais popular é, sem dúvida, O Direito das Crianças, onde a autora enumera as condições para uma infância saudável e feliz.

 

Neste artigo, contudo, escolhemos analisar o poema Pessoas são Diferentes, pela sua forte mensagem social. Aqui, a autora ensina o leitor a compreender e a aceitar a diferença.

 

No poema, há a comparação de duas crianças e a conclusão de que contrastam tanto na sua imagem, como nos seus gostos. O sujeito poético deixa evidente que uma não é superior à outra: não existe um jeito certo de ser.

 

Num mundo que ainda é regido por padrões limitados de beleza e comportamento, Ruth Rocha lembra as crianças (e os adultos) que o ser humano é múltiplo e que todas as pessoas merecem o mesmo respeito.

 

3. O Pato, de Vinícius de Moraes

 

Lá vem o pato

Pata aqui, pata acolá

Lá vem o pato

Para ver o que é que há.

O pato pateta

Pintou o caneco

Surrou a galinha

Bateu no marreco

Pulou do poleiro

No pé do cavalo

Levou um coice

Criou um galo

Comeu um pedaço

De jenipapo

Ficou engasgado

Com dor no papo

Caiu no poço

Quebrou a tigela

Tantas fez o moço

Que foi pra panela.

 

Amado pelos adultos, Vinicius de Moraes (1913 — 1980) também foi um poeta e músico muito popular entre as crianças. O Pato faz parte das composições infantis do "poetinha" que foram publicadas na obra A Arca de Noé (1970).

 

Os poemas, focados sobretudo em animais, foram escritos para os filhos do artista, Suzana e Pedro. Anos mais tarde, em parceria com Toquinho, Vinicius lançou adaptações musicais desses versos.

 

O Pato é um poema divertido de ler com as crianças, por causa do seu ritmo e das suas aliterações (repetições de consoantes). Os versos contam a história de um pato que estava fazendo um monte de travessuras.

 

Vamos assistindo, gradualmente, às consequências do seu mau comportamento. Por conta de suas más ações, o pobre pato morre e acaba na panela.

 


 

Conheça mais sobre a poesia de Vinicius de Moraes.

 

4. O Cuco, de Marina Colasanti

 

Mais esperto que maluco

este é o retrato do cuco.

Taí um que não se mata

pra fazer um pé-de-meia

e nem pensa em bater asa

pra construir a casa.

Para ele o bom negócio

é morar em casa alheia,

e do abuso nem se toca.

Os seus ovos, rapidinho,

põe no ninho do vizinho

depois vai curtir um ócio

enquanto a vizinha choca

 

Marina Colasanti (1937) é uma escritora e jornalista ítalo-brasileira, autora de várias obras populares de literatura infantil e infantojuvenil.

 

O Cuco faz parte da obra Cada bicho seu capricho (1992), na qual Colasanti mistura o amor pela poesia com o amor pelos animais. Assim, os seus versos observam e descrevem as singularidades de cada bicho, educando o leitor mirim.

 

O poema em análise se foca no comportamento do cuco, bem diferente da conduta das outras aves. Em vez de construir o próprio ninho, o cuco é famoso por deixar os seus ovos em ninhos alheios.

 

Assim, os ovos dos cucos acabam sendo chocados por pássaros de outras espécies. Esse fato faz com o animal seja encarado, na nossa cultura, como sinônimo de esperteza e independência.

 

5. Mãe, de Sérgio Capparelli

 

De patins, de bicicleta

de carro, moto, avião

nas asas da borboleta

e nos olhos do gavião

de barco, de velocípedes

a cavalo num trovão

nas cores do arco-íris

no rugido de um leão

na graça de um golfinho

e no germinar do grão

teu nome eu trago, mãe,

na palma da minha mão.

 

Sérgio Capparelli (1947) é um jornalista, professor e escritor brasileiro de literatura infantojuvenil que venceu o Prêmio Jabuti nos anos de 1982 e 1983.

 

O poeta escreveu várias composições sobre a figura materna e sua ligação intemporal com os filhos. Em Mãe, temos uma declaração de amor do sujeito à progenitora.

 

Enumerando todas as coisas que vê, ilustra que as memórias e os ensinamentos da mãe estão presentes em cada elemento da realidade, cada gesto do cotidiano.

 

Deste modo, as palavras doces de Capparelli traduzem um sentimento maior que a própria vida e um laço inquebrável entre mães e filhos.

 

6. Pontinho de vista, de Pedro Bandeira

 

Eu sou pequeno, me dizem,

e eu fico muito zangado.

Tenho de olhar todo mundo

com o queixo levantado.

 

Mas, se formiga falasse

e me visse lá do chão,

ia dizer, com certeza:

- Minha nossa, que grandão!

 

Pedro Bandeira (1942) é um escritor brasileiro de obras infantojuvenis que venceu o Prêmio Jabuti em 1986. Este é um dos poemas do livro Por enquanto eu sou pequeno, lançado em 2002. O sujeito parece ser uma criança que está transmitindo o seu "pontinho de vista" sobre a vida.

 

Ele afirma que é visto como pequeno pelos demais e precisa erguer a cabeça para falar com os outros. No entanto, ele sabe que os conceitos não são absolutos e dependem da forma como encaramos as coisas.

 

Por exemplo, na perspectiva de uma formiga, o eu-lírico é enorme, um verdadeiro gigante. Deste modo, e através de um exemplo acessível para as crianças, Pedro Bandeira dá uma importante lição de subjetividade.

 

7. Porquinho-da-Índia, de Manuel Bandeira

 

Quando eu tinha seis anos

Ganhei um porquinho-da-índia.

Que dor de coração me dava

Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!

Levava ele pra sala

Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos

Ele não gostava:

Queria era estar debaixo do fogão.

Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

 

— O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.

 

Manuel Bandeira (1886 — 1968) foi uma das mais importantes vozes do modernismo brasileiro. Sua poesia de linguagem simples e direta cativou, e continua cativando, leitores de várias gerações.

 

Porquinho-da-Índia é uma das suas composições adequadas para o público infantil. Lembrando os tempos da infância, o sujeito poético reflete sobre o seu antigo porquinho-da-índia e a relação difícil que mantinha com o animal.

 

Apesar de oferecer todo o carinho e conforto ao bichinho, ele "só queria estar debaixo do fogão". Nos versos, o eu-lírico fala sobre a primeira vez que sentiu a rejeição, memória que guardou para o resto da vida.

 

Por vezes o nosso amor não é correspondido com a mesma intensidade. Mesmo num tom melancólico, o sujeito encara o fato com leveza e sabe que ele faz parte da vida.

 


 

Conheça mais sobre a poesia de Manuel Bandeira.

 

8. Menina passarinho, de Ferreira Gullar

 

Menina passarinho,

que tão de mansinho

me pousas na mão

Donde é que vens?

De alguma floresta?

De alguma canção?

 

Ah, tu és a festa

de que precisava

este coração!

 

Sei que já me deixas

e é quase certo

que não voltas, não.

 

Mas fica a alegria

de que houve um dia

em que um passarinho

me pousou na mão.

 

Ferreira Gullar (1930 – 2016) foi um poeta, escritor, crítico e ensaísta brasileiro, sendo também um dos fundadores do neoconcretismo.

 

Em Menina Passarinho, o sujeito se dirige a alguém cujos gestos são leves e delicados. Assim, ele compara a garota a um passarinho, que passa voando e pousa na sua mão.

 

Esse breve encontro é capaz de alegrar o sujeito, provocando uma festa no seu coração. Mesmo ciente de que esse momento é efêmero, e que provavelmente não voltará a ver a Menina Passarinho, consegue apreciar a sua recordação.

 

A composição vem lembrar os leitores que as coisas não precisam durar eternamente para serem especiais. Por vezes, os momentos fugazes podem ser os mais belos e também os mais poéticos.

 

Confira uma adaptação musical na voz de Cátia de França:

 


 

Aproveite para explorar melhor a poesia de Ferreira Gullar.

 

9. A Girafa Vidente, de Leo Cunha

 

Com

aquele

pescoço

comprido

espicha

espicha

espicha

a bicha

até parecia

que via

o dia de amanhã

 

Leonardo Antunes Cunha (1966), mais conhecido como Leo Cunha, é um jornalista e escritor brasileiro que tem se dedicado principalmente a criar obras para o público infantil.

 

Em A Girafa Vidente, o poeta se foca numa particularidade bem notória do animal: a sua altura. Como se assumisse o ponto de vista de uma criança, observa o longo pescoço da girafa, que parece quase não ter fim.

 

Por ser tão alta, o sujeito poético sugere que ela conseguiria ver além, podendo até prever o futuro. Também é engraçado reparar que a própria estrutura da composição (uma torre estreita e vertical) parece replicar o formato do animal.

 

10. Espantalho, de Almir Correia

 

Homem de palha

coração de capim

vai embora

aos pouquinhos

no bico dos passarinhos

e fim.

 

Almir Correia é um autor brasileiro de literatura infantojuvenil que também trabalha com animação. Talvez por isso, o poema Espantalho seja uma composição muito assente em aspectos visuais. Formado por apenas seis versos, o poema pinta uma imagem bastante nítida de um espantalho se desintegrando com o tempo.

 

Nada disso é descrito de forma triste ou trágica, pois tudo faz parte da vida. O espantalho, cujo propósito é assustar os pássaros, acaba sendo devorado pelos seus bicos.

 

11. A porta, de Vinicius de Moraes

 

Eu sou feita de madeira

Madeira, matéria morta

Mas não há coisa no mundo

Mais viva do que uma porta.

 

Eu abro devagarinho

Pra passar o menininho

Eu abro bem com cuidado

Pra passar o namorado

Eu abro bem prazenteira

Pra passar a cozinheira

Eu abro de supetão

Pra passar o capitão

 

Conhecido como "poetinha", Vinicius tinha o dom de conferir uma certa magia a acontecimentos e objetos aparentemente banais. Neste poema, o sujeito poético mostra toda a história que pode estar contida em uma simples porta.

 

Deste modo, fica claro que cada elemento do cotidiano faz parte da nossa vida e, se falasse, teria muito para contar sobre nós e aqueles que nos rodeiam. Aqui, existe uma personificação da porta, que escolhe se abrir de formas diferentes para cada personagem que aparece.

 

Escute, abaixo, a versão musicada, na voz de Fábio Jr.:

 


 

12. Amarelinha, de Maria da Graça Rios

 

Maré mar

é maré

mare linha

sete casas a pincel.

Pulo paro

e lá vou

num pulinho

segurar mais um ponto

no céu.

 

Maria da Graça Rios é uma escritora e acadêmica brasileira, autora de várias obras infantis como Chuva choveu e Abel e a fera. Em Amarelinha, o sujeito poético cria vários jogos de palavras a partir do nome da brincadeira famosa.

 

Na composição, o eu-lírico parece ser uma criança que está brincando de amarelinha e vai descrevendo os seus movimentos, até o final do jogo.

 

13. A Boneca, de Olavo Bilac

 

Deixando a bola e a peteca,

Com que inda há pouco brincavam,

Por causa de uma boneca,

Duas meninas brigavam.

 

Dizia a primeira: "É minha!"

— "É minha!" a outra gritava;

E nenhuma se continha,

Nem a boneca largava.

 

Quem mais sofria (coitada!)

Era a boneca. Já tinha

Toda a roupa estraçalhada,

E amarrotada a carinha.

 

Tanto puxaram por ela,

Que a pobre rasgou-se ao meio,

Perdendo a estopa amarela

Que lhe formava o recheio.

 

E, ao fim de tanta fadiga,

Voltando à bola e à peteca,

Ambas, por causa da briga,

Ficaram sem a boneca...

 

Olavo Bilac (1865 - 1918) foi um célebre poeta do parnasianismo brasileiro que também escreveu composições destinadas às crianças. Em A Boneca, o sujeito conta a história de duas garotas que começaram a brigar porque queriam brincar com a mesma boneca.

 

Em vez de partilharem e continuarem a brincadeira, cada uma queria a boneca para si. De tanto puxarem, acabaram destruindo a pobre boneca e, no final, ninguém brincou com ela. O poema vem lembrar as crianças que é fundamental aprendermos a partilhar e que a ganância apenas conduz a resultados ruins.

 

Conheça uma leitura e animação criada a partir do poema:

 


 

14. O Pinguim, de Vinicius de Moraes

 

Bom dia, Pinguim

Onde vai assim

Com ar apressado?

Eu não sou malvado

Não fique assustado

Com medo de mim.

Eu só gostaria

De dar um tapinha

No seu chapéu de jaca

Ou bem de levinho

Puxar o rabinho

Da sua casaca.

 

Neste poema cheio de bom humor, Vinícius brinca com a aparência dos pinguins. Por serem pretos e brancos, parecem estar vestidos de um jeito formal, usando uma casaca.

 

Assim, o sujeito lírico parece ser um garoto que vê o bichinho ao longe e quer se aproximar dele e tocá-lo, tentando não o assustar.

 

Não perca a versão do poema musicada por Toquinho:

 


 

15. Receita de espantar a tristeza, de Roseana Murray

 

Faça uma careta

e mande a tristeza

pra longe pro outro lado

do mar ou da lua

 

vá para o meio da rua

e plante bananeira

faça alguma besteira

 

depois estique os braços

apanhe a primeira estrela

e procure o melhor amigo

para um longo e apertado abraço.

 

Roseana Murray (1950) é uma escritora carioca, autora de obras de poesia e livros direcionados para o público infantil. A escritora publicou o seu primeiro livro, Fardo de Carinho, em 1980.

 

Em receita para espantar a tristeza, a poeta transmite uma mensagem muito especial de ânimo. Quando estamos tristes, o melhor que podemos fazer é interromper esse processo de sofrimento e procurar alguma coisa que nos faça rir (por exemplo, plantar bananeira).

 

Algo que também não pode faltar é a amizade: a simples presença de um amigo pode ser o suficiente para mandar a tristeza embora.

 

Fonte: Blog Cultura Genial

Carolina Marcello

Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

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