Avaliar é uma tarefa que fazemos cotidianamente. Toda vida do homem é pautada por referenciais, dados ou por julgamentos que faz sobre seus atos.
Para compreendermos adequadamente o que se propõe, importa estar ciente de que a avaliação em geral e a avaliação da aprendizagem escolar em específico, são meios e não fins em si mesmas, estando deste modo delimitadas pela teoria e pela prática que nos rodeiam. Portanto a avaliação não se dá nem se dará, num vazio conceitual, mas sim dimensionada por um modelo teórico de mundo e de educação, traduzido em prática pedagógica.
Estando a atual prática da avaliação escolar a serviço de um entendimento teórico conservador da sociedade e da educação, temos que situá-la num contexto pedagógico atual, colocando-a a serviço de uma pedagogia que entenda e que objetive a educação como mecanismo de transformação social.
O processo de transformação pretendido, encontra várias barreiras, no que tange a internacionalização de referências quanto a avaliação, diante dos procedimentos históricos evidenciados.
“Nos últimos cinco anos, venho realizando encontros, cada vez mais frequentes, sobre a avaliação, com grupos de professores, da pré-escola à universidade. É esse contato com diferentes realidades educacionais (escolas públicas, particulares e assistenciais, escolinhas rurais, universidades federais e particulares) que me permite perceber com clareza, que a prática avaliativa do professor reproduz e revela fortemente suas vivências como estudante e como educador. (...) Tenho solicitado a esses professores no início de nossos encontros, que relacionem a palavra “AVALIAÇÃO” a algum personagem. É um jogo interessante, cujas respostas revelam imagens de dragões, monstros de várias cabeças, guilhotina, túneis escuros, labirintos e carrascos... Outras imagens evocam objetos surpresas ou de controle: Bolo de faz-de-conta, embrulho de presente, radar, termômetro, balança... Raras vezes surgem imagens de cunho positivo relacionados à palavra”. (HOFFMMANN, 1991, p.13)
Para os alunos, a imagem não é diferente, pois quase todas têm as mesmas marcas de situações de avaliação, onde o medo da prova e a angústia que a procede estão ainda presentes, no cotidiano pessoal e escolar.
A avaliação tem sido tratada, nas escolas, com formas fantasiosas construídas no imaginário dos alunos tal é o horror e o medo que desperta, quando se tenta discuti-la. Tanto ela é vista dessa forma pelos professores, como pelos alunos, de modo geral, o significado construído está ligado ao fato de saberem como é complexo avaliar, e como o chamado momento da avaliação é desconfortável para todos, sem falar nos desdobramentos desse tal momento – a correção das provas.
Assim a avaliação é considerada como o ponto crítico no processo educativo formal. No contexto educacional, tem-se utilizado a avaliação para tão diferentes funções, o que implica uma não unanimidade de seu conceito. Avalia-se para diagnosticar uma situação-aprendizagem, para punir e/ou coagir, para classificar aspectos cognitivos e/ou comportamentais, etc.
Pensar na avaliação é muito mais que a soma do que se sabe, é em última instância, desvendar o sentido profundo da existência do fenômeno educativo, do educador, do educando.
“Configura-se a avaliação educacional, a meu ver, em mito e desafio. O mito é decorrente de sua história que vem perpetuando os fantasmas do controle e do autoritarismo a muitas gerações. A desmistificação, por outro lado, ultrapassa o desvelamento dessa história e análise dos pressupostos teóricos que fundamentam a avaliação até então. Parece-me necessário desestabilizar práticas rotineiras e automatizadas a partir de uma tomada de consciência coletiva sobre o significado dessa prática. E se é um desafio que se tem a enfrentar, o maior dentre os desafios é ampliar seu universo dos educadores preocupados com o “FENÔMENO AVALIAÇÃO”, estender-se a discussão do interior das escolas a toda a sociedade, pois, considerando-se que o mito é decorrente de sua história, temos o compromisso de construir outra história para as futuras gerações, descaracterizadas da feição autoritária que ainda a reveste, em busca de uma ação libertadora”. (HOFFMANN, 1991:27)
Assim, como se tem discutido tantos os aspectos decorrentes das práticas pedagógicas, a avaliação também envolve mitos e preconceitos, que precisam ser desvelados.
Para que possamos entender a avaliação, buscamos entender o que ela revela, e por que expressa-se dessa maneira.
Conforme FREIRE, (1983:68-70), diferentemente do que se vem sustentando até agora como concepção da avaliação e educação.
A avaliação que a maioria dos professores pratica, e que a maioria dos alunos conhece, revela:
Ø Um modelo de escola que não se preocupa em buscar o porquê da educação, mas trabalha como se a educação fosse meio para chegar a algum lugar. Na sociedade em que se vive, diz-se que esse lugar é de ascensão social que se deve estudar, porque este é o único meio de subir na vida.
Ø Uma visão de que o conhecimento é algo pronto, acabado, e que acumulado pelos homens, deve ser doado aos que vão à escola, que nada sabem e que devem aprendê-lo memorizando, fixando tudo o que determina e que a classe social considera importante saber. O conhecimento é despejado sobre as cabeças vazias dos alunos, como se depositando em um banco. (FREIRE in Pedagogia do Oprimido, 1983:71).
Ø Uma ideia do que só o professor ensina, sabe, pensa, fala, escolhe, atua, escolhe os conteúdos que a disciplina é necessária para assegurar a autoridade do professor e que para conseguí-la se usam vários “instrumentos pedagógicos”.
Ø Um entendimento de que só o professor é sujeito e que os alunos são objetos passivos e mudos diante dele.
Ø Que a escola, como sociedade, deve hierarquizar os alunos, classificando-os em bons, maus, médios, fracos, fortes; colocando-os em seus lugares, porque, na vida, não há lugar igual para todos; então é bom que eles aprendam desde logo...
Não se está dizendo que os professores são cruéis mas há muita crueldade nesta forma de fazer acontecer o que dizemos que é educação. Nem sempre os professores tem clareza sobre o que está por traz de sua prática e de seus discursos, por que os cursos de formação de professores os ajudam a pensar assim, achando ser esta maneira a mais adequada a ver a realidade.
A escola que se quer para os jovens e adultos; que se tenta construir não pode deixar de refletir sobre estas práticas autoritárias, a serviço da exclusão e da dominação, reforçando a lógica da sociedade. Nesse sentido, a avaliação assume um papel importante, quanto a democratização do ensino.
“A avaliação escolar envolve uma relação tríade- professor, aluno e conhecimento. Não se pode avaliar um desses elementos sem considerar a inter-relação entre eles. E não se pode avaliar o conhecimento a ser socializado, desvinculado de um projeto pedagógico, de uma proposta de trabalho docente, de um projeto político de escola, de educação”. (FREIRE, 1993:75)
Ainda segundo FREIRE (1983) do professor, exige-se a formação técnica, política e humana para que exerça com competência o ato de avaliar. A escola tem considerado o aluno como ser sem fala, sem olhos, sem ouvidos, inerte a tudo que o circunda.
A busca de alternativas como a interdisciplinaridade, tem sido proposta como uma melhora que visa a democratização do ensino, uma vez que a recuperação do conhecimento como saber global e articulado faz-se necessário e urgente.
Uma avaliação para ser justa, deve ser abrangente e isso só é possível com uma real participação de todos os indivíduos no processo.
O papel de avaliador nesta perspectiva de trabalho, não cabe só ao professor nem envolve apenas o desempenho dos alunos.
É responsabilidade de todos que, participando da construção e da avaliação de suas aprendizagens, decidem, discutem, recriam, propõe, sugerem, criticam coletivamente, as práticas pedagógicas da sala de aula, o currículo e o Projeto Político Pedagógico da Escola.
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