Dia
da Espiga ou Quinta-feira da Ascensão
É
Quinta-feira da Ascensão. Assim se denomina este dia em virtude de no
calendário litúrgico se comemorar a Ascensão de Jesus Cristo ao Céu, encerrando
um ciclo de quarenta dias que se seguem à Páscoa. Mas, este dia tem a
particularidade de se celebrar também o “dia da espiga” ou “quinta-feira da
espiga”. Manhã cedo, rapazes e raparigas vão para o campo apanhar a espiga e
flores campestres. Formam um ramo com espigas de trigo, rosmaninho, malmequeres
e folhagem de oliveira que pode incluir centeio, cevada, aveia, margaridas,
pampilhos e papoilas. Depois, o ramo é guardado ao longo de um ano, pendurado
algures dentro de casa.
Crê-se
que este costume, com mais incidência nas regiões a sul de Portugal, tenha as
suas raízes num antigo ritual cristão que consistia na bênção dos primeiros
frutos, mas as suas características fazem-nos adivinhar origens bem mais
remotas, muito provavelmente em antigas tradições pagãs naturalmente associadas
às festas consagradas à deusa Flora que ocorriam por esta altura e a que a
tradição dos maios e das maias também não é alheia.
É
crença do povo que a espiga apanhada na quinta-feira da Ascensão proporciona
felicidade e abundância no lar. Aliás, a espiga de trigo propriamente dita
representa a abundância de pão, o ramo de oliveira simboliza a paz, as flores
amarelas e brancas respectivamente o ouro e a prata que significam a fartura e
a prosperidade.
Noutros
tempos, era costume na cidade, as moças que estavam de criadas de servir, ainda
arraigadas a antigas usanças das suas terras de origem, pedirem às patroas para
que lhes concedessem licença nesse dia para irem apanhar a espiga… não raras às
vezes, um bom pretexto para irem ao encontro do namorico, pois quase sempre
apenas tinham permissão de folga ao domingo. Aliás, devido em grande medida à
liberdade que a festa proporcionava aos jovens nesse dia, a apanha da espiga
adquiriu bem depressa um sentido mais malicioso sempre que as pessoas a ela se
referem.
Atualmente,
algumas ruas de Lisboa enchem-se de vendedoras de ramos de espigas, as quais
são cada vez mais solicitadas inclusive por pessoas cujas raízes culturais já
nada têm a ver com tais costumes mais próprios do meio rural. Provavelmente,
atraídas pela beleza com que se apresentam os ramos. Em todo o caso, procurando
cumprir um ritual que ajuda a preservar uma tradição!
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