Júlio Furtado
Professor e
Escritor
Essa questão traz à tona uma
reflexão essencial: o que deve ser reposto são dias de aula ou de
aprendizagens? Penso que a reposição deve ser de aprendizagens e não de dias de
aula. Primeiro, porque no retorno às aulas, após uma greve, são necessárias
algumas aulas de revisão para reaquecer as turbinas e seguir em frente. O
processo de aprendizagem não é linear e nem instantâneo e, por causa disso,
exige tempo para ser retomado após uma interrupção.
Em segundo lugar, a aprendizagem
não é proporcional aos dias de aula e, por isso, não pode ser tratada de forma
simplesmente matemática. Essa desproporção tende a aumentar quando esses dias
de reposição são nos finais de semana ou no período de recesso escolar. A predisposição e a motivação dos alunos para aprender (e a dos professores para
ensinar) é bem menor quando se tem que ter aulas nos sábados e nas férias. Se
queremos de fato repor aprendizagens, isso precisa ser levado em conta.
A terceira reflexão diz respeito ao
baixo nível das aprendizagens que, em média ocorre em nossas escolas. Numa
escola que, em média, não garante mais do que vinte por cento do que os alunos
deveriam aprender em duzentos dias letivos, o que eles deixaram de aprender em
dezenove dias?
Acredito que a melhor solução
seria, com exceção das séries terminais, redimensionar todo o período letivo
seguinte. Ao invés de exatos dias perdidos compensados através de subterfúgios
“para inglês ver”, a escola deveria avaliar formativamente e fazer um
replanejamento do próximo período letivo, ampliando e dinamizando o currículo
para que todos aprendam não somente o que deixaram de aprender durante a greve,
mas o que deveriam ter aprendido mesmo se a greve não ocorresse.
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