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sexta-feira, 20 de maio de 2016

Reposição de aulas ou de aprendizagem?



Júlio Furtado
Professor e Escritor
             Pais e alunos de Brasília estão denunciando que os professores não estão repondo as aulas perdidas durante a greve que ocorreu entre outubro e novembro de 2015. As escolas e o sindicato dos professores dizem que as aulas foram repostas, mas há casos em que em quatro sábados de aula pela manhã ou pela tarde, a escola deu por repostos dezenove dias de aulas perdidos. A elaboração do calendário de reposição das aulas ficou a cargo das escolas já que, em algumas, somente alguns professores fizeram greve, o que torna o problema ainda mais complicado.

            Essa questão traz à tona uma reflexão essencial: o que deve ser reposto são dias de aula ou de aprendizagens? Penso que a reposição deve ser de aprendizagens e não de dias de aula. Primeiro, porque no retorno às aulas, após uma greve, são necessárias algumas aulas de revisão para reaquecer as turbinas e seguir em frente. O processo de aprendizagem não é linear e nem instantâneo e, por causa disso, exige tempo para ser retomado após uma interrupção.

            Em segundo lugar, a aprendizagem não é proporcional aos dias de aula e, por isso, não pode ser tratada de forma simplesmente matemática. Essa desproporção tende a aumentar quando esses dias de reposição são nos finais de semana ou no período de recesso escolar. A predisposição e a motivação dos alunos para aprender (e a dos professores para ensinar) é bem menor quando se tem que ter aulas nos sábados e nas férias. Se queremos de fato repor aprendizagens, isso precisa ser levado em conta.

            A terceira reflexão diz respeito ao baixo nível das aprendizagens que, em média ocorre em nossas escolas. Numa escola que, em média, não garante mais do que vinte por cento do que os alunos deveriam aprender em duzentos dias letivos, o que eles deixaram de aprender em dezenove dias?

            Acredito que a melhor solução seria, com exceção das séries terminais, redimensionar todo o período letivo seguinte. Ao invés de exatos dias perdidos compensados através de subterfúgios “para inglês ver”, a escola deveria avaliar formativamente e fazer um replanejamento do próximo período letivo, ampliando e dinamizando o currículo para que todos aprendam não somente o que deixaram de aprender durante a greve, mas o que deveriam ter aprendido mesmo se a greve não ocorresse.

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