Parabéns ao artista escritor, que usa de
sua criatividade, imaginação e sensibilidade para escrever, em versos, as
poesias que faz.
A poesia tem espaço especial no calendário brasileiro.
No Brasil, dedicamos um dia para celebrar a poesia nacional. Até meados do ano
de 2015, a data era comemorada em 14 de Março, uma homenagem a um de nossos
maiores poetas, Antônio Frederico de
Castro Alves, nascido na cidade de Curralinho, nessa data, no ano de 1847.
Porém, essa celebração não era oficial. Houve uma proposta de lei para que a
comemoração fosse oficializada no dia 14 de Março de 2015, mas o Projeto foi
arquivado. A presidente Dilma, então, em 3 de junho de 2015, sancionou a Lei
13.131/2015, que criou oficialmente o Dia Nacional da Poesia. Esse Projeto de
Lei, sugerido pelo senador Álvaro Dias, teve proposta aceita para que o Dia Nacional da Poesia fosse comemorado
no dia 31 de Outubro, nascimento do poeta Carlos
Drummond de Andrade.
Drummond, nascido em Minas Gerais, no ano de 1902, é
um dos maiores poetas brasileiros, sendo reconhecido internacionalmente. Em
Belo Horizonte, estudou, trabalhou como funcionário público e iniciou sua
carreira como escritor. Fundador do periódico A Revista, órgão oficial do
modernismo mineiro, foi destaque desse movimento literário. Em 1930, publicou
sua primeira obra, Alguma poesia, quando o modernismo já estava consolidado em
terras brasileiras. Com poemas que abordam temas de nosso cotidiano (família e
amigos, conflitos sociais, existência humana etc.) e uma escrita com toques de
ironia e pessimismo, Drummond é um marco na literatura brasileira.
Em 1987, infelizmente, no Rio de Janeiro, o autor
faleceu, doze dias após a morte de sua filha única, Maria Julieta Drummond de
Andrade, amor maior da vida do autor.
Confira o que Drummond nos deixou e entenda o porquê
do autor ser o homenageado e ter o dia de seu nascimento marcado no calendário brasileiro
como o Dia Nacional da Poesia.
Série
“Nova Reunião”, da Editora Best Seller
Capa de
Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade, Acervo Instituto Moreira Salles,
1920
Alguns poemas de
Drummond
No meio do
caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Receita de ano
novo
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra
birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Liberdade
O pássaro é livre
na prisão do ar.
O espírito é livre
na prisão do corpo.
Mas livre, bem livre,
é mesmo estar morto.
Declarações do
poeta sobre a vida e a literatura
→ Carlos
Drummond de Andrade em documentário de Fernando Sabino e David Neves. 1972.
Antologia
Poética, Carlos Drummond de Andrade, pela Editora Record
Fonte:
Brasil Escola
Nenhum comentário:
Postar um comentário