Em maio, falei da questão da pandemia e suas interferências no processo escolar, ou como queriam, no processo pedagógico da aprendizagem. A partir do texto, muitas dúvidas me foram apresentadas sobre a aprendizagem, sobre o ano letivo, sobre o que fazer nessa situação.
Inicialmente é preciso repetir o que já disse: estamos vivendo uma situação inédita. Ninguém de nós, pais, professores, escolas, sociedade, ou até, melhor dizendo, raça humana esperava ou sequer estava preparada.
Evidentemente que isso mexeu e está mexendo, com tudo e com todos. Ao passar dos dias vemos os casos se aproximarem de nós, as pessoas têm nome, endereço e muitas são até conhecidas. O medo, a incerteza e a angústia, muitas vezes, toma conta de nós. Sabemos que vai passar, mas quando?
As escolas tentam fazer o melhor que podem para diminuir as perdas e consequências da falta de aulas como sempre temos vivido, pois pelo menos, na educação infantil e nos anos iniciais, nunca se viveu tais experiências de ensinar e aprender de forma remota ou, se quisermos, não presencial.
A verdade é que as escolas, sejam públicas ou privadas estão fazendo o que podem, revolucionando, reinventando, “dando duro” para manter, de alguma forma o ensino.
Os pais, mesmo os que se julgam incapazes de fazer alguma coisa, estão, a seu modo, auxiliando as crianças. E isso é que faz a diferença. Nem a escola, nem os pais e nem os professores sabiam que um dia passariam por isso e, de fato, muitos não sabem o que fazer.
Os governos, os conselhos de educação, o conselho nacional de educação, o Ministério da Educação, tentam, de alguma forma, dar alguns indicativos e/ou respostas para a situação, porém, o contexto das escolas brasileiras é muito heterogêneo. E, não estou apenas comparando redes privadas ou públicas. Mesmo nas mais diferentes situações, cada escola é um contexto, é uma realidade, que depende de muitos fatores. Por isso mesmo, não há receitas para resolver a questão de ensinar e aprender em meio à pandemia.
Pessoalmente penso que todas as ações merecem respeito e apoio. Todas as tentativas de mitigar as dificuldades por que passam as crianças e as famílias, merecem respeito.
Grandes dúvidas, como a questão do ano letivo, povoam a cabeça de pais e professores, e, de modo muito especial, dos gestores das escolas.
Para essa questão, a única resposta possível, nesse momento, é que se deve esperar e ter paciência. Não há o que fazer. A questão do isolamento social, especialmente dos pequenos, é fundamental nesse momento crítico. Não queremos que sejam eles a trazer para casa a infecção. Por isso, é de suma importância, a compreensão de que devem ficar em casa.
Ano letivo pode ser ganho de outras formas. A vida e a saúde são muito mais importantes que um “período letivo”. Especialmente para nossas crianças. Por isso, calma, por pior que a situação seja, calma, para poder planejar o que pode ser feito no momento em que os governos disserem que podemos retomar a presencialidade nas escolas.
O Conselho Nacional de Educação, por meio do Parecer 05/20 traz instruções para todos os níveis, modalidades e etapas de ensino. São questões legais que devem ser consideradas pelos sistemas estaduais e municipais de educação. Com base no Parecer do CNE podemos “suavizar” um pouco os “estragos” dessa pandemia no setor escolar.
Pais, professores, gestores das escolas e autoridades precisam ter consciência de que a matemática de uma pandemia é clara: a não ser que pratiquemos distanciamento social radical, teremos milhares de casos de Covid-19 no Brasil. Países que agiram rapidamente conseguiram evitar o colapso de seus sistemas de saúde e reduziram taxas de mortalidade. No tabuleiro da saúde pública, escolas e universidades tornaram-se peças centrais.
Por isso é fundamental entender que os estudantes precisam estar afastados da sala de aula por tempo ainda indeterminado e, por isso, é fundamental que as famílias e as escolas encontrem formas, criem estratégias para que as crianças continuem aprendendo, de forma saudável e viável, durante a crise.
Nenhum de nós acha que vai mover a escola para dentro de casa em um passe de mágica. Isso é ilusão. É impossível conseguir “cobrir” o mesmo currículo, é irreal achar que professores terão tempo para executar todos os seus planos de aula online e é cruel exigir que crianças e adolescentes passem toda uma manhã em videoconferência.
E pais, provavelmente, não vão ter tempo ou formação para acompanhar as atividades das crianças por semanas a fio. O primeiro passo, portanto, é ajustar nossas expectativas e entender que qualquer solução agora será insuficiente e que nossas expectativas precisam ser realistas.
Por isso, meu apelo a todos os professores e pais: façamos o que é possível. Mantenhamos o contato com nossas crianças. Tragamos esperança no dia de amanhã. Expliquemos que o ano letivo será recuperado de alguma forma, que a aprendizagem não será esquecida ou perdida. Que é importante fazer atividades escolares, mesmo que se tenha alguma dificuldade.
E, em especial aos pais: ninguém está lhes pedindo para serem pedagogos, apensas para exercerem a parentalidade também nesse momento inusitado para a educação de seus filhos.
Para os professores, não exagerem, passem atividades e conteúdos que as crianças possam entender e se encantar em resolver. Depois vocês retomam e explicam o que ficou menos compreendido.
Para todos nós, o ano letivo, um período no ano, é muito menos importante do que as nossas vidas, a gente recupera, só não poderemos recuperar a vida, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
* Dirceu Antonio Ruaro é assessor pedagógico da Faculdade Mater Dei e membro do CEE/PR
Artigo publicado no Diário do Sudoeste.
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