Qual
é a origem do Dia de Ação de Graças?
O feriado mais importante dos EUA começou como uma festa de comemoração
de colheita – quem vive de plantar e colher festeja esse segundo momento com
intensidade, pois é ele que garante a sobrevivência do plantador, claro.
Esse tipo de comemoração, então, existe desde que o mundo é mundo. E o
mundo é mundo, as we know it, há mais
ou menos 15 mil anos, quando a criação da agricultura. As técnicas de plantar e
colher surgiram primeiro no Oriente Médio. E foi lá, naturalmente, que a
humanidade teve suas primeiras festas agrícolas.
Uma delas segue viva até hoje: você conhece como “Páscoa”. A coisa
começou como uma comemoração de colheita, há uns bons milhares de anos. Mas
“recentemente”, por volta de 800 a.C., os israelitas incluíram essa comemoração
em suas tradições, e passaram a comemorar o Êxodo do Egito, tradição fundadora
da identidade judaica, na época dessa festa. Daí ela ganhou seu nome atual (que
veio de “Pesach”, “passagem” em
hebraico). Depois, os primeiros cristãos incluiriam a data em suas próprias
tradições, relacionando a data da ressurreição de Cristo à Páscoa.
Mas estamos falando aqui do Dia de Ação de Graças. E ele tem tradições
bem peculiares.
A raiz do Thanksgiving remonta
a Henrique 8o (1491-1547), o rei inglês que rompeu com a Igreja Católica,
criando uma Igreja para chamar de sua, a anglicana, que segue firme como a
congregação religiosa oficial da ilha.
Como o rompimento, Henrique 8o acabou com uma série de feriados
católicos. Para compensar, a Igreja anglicana criou comemorações-tampão para
colocar no lugar: os Dias de Jejum e os Dias de Ação de Graças. Os de Ação de
Graças ficaram relacionados às festas de colheita.
E foram religiosos ingleses acostumados a celebrar essas festas de
colheita/de Ação de Graças que começaram a colonizar os EUA, a partir da costa
leste, no início dos anos 1600.
A tradição americana diz que o “primeiro Dia de Ação de Graças” em algum
território que faça parte dos EUA aconteceu em outubro de 1621, em Plymouth, no
atual Massachusetts. É um equívoco. Sabe-se hoje que houve uma série de
celebrações de Ação de Graças nos anos anteriores, principalmente na região do
atual estado da Virgínia, que também recebeu colonos britânicos bem cedo.
O de Plymouth, porém, ganhou aura mitológica por ter reunido colonos
britânicos e nativos americanos, da tribo dos Wampanoags. As versões infantis
da história dizem que os índios ensinaram os colonos a plantar e caçar, e todos
ficaram “amigos”. Fantasia pura.
O que houve entre colonos de Plymouth e os Wampanoags foi uma aliança
militar. A tribo sofria os efeitos de uma praga, que dizimou boa parte de sua
população, e começou a ser atacada por tribos rivais. Os Wampanoags, porém,
tinham um trunfo. Um de seus membros, um sujeito chamado Squanto, já tinha sido
escravo na Espanha e na Inglaterra – a colonização das Américas, afinal, “é
sobre” pilhagem, poder e escravidão lá no Hemisfério Norte também.
Dada sua experiência prévia, Squanto falava inglês. E quem se comunica,
Chacrinha já dizia, não se trumbica. Com Squanto fazendo o meio de campo
linguístico, a chefia dos nativos entrou num acordo com a dos colonos, e nasceu
a aliança militar. Aliança que acabou marcada pelo tal Dia de Ação de Graças
multiétnico, com 90 Wampanoags e uns 50 britânicos – que eram de uma seita
cristã radical, a dos Pilgrims (Pelegrinos), mas essa é outra história.
O que importa é o seguinte: esse dia de ação de graças (em letras
minúsculas) comemorado entre cristãos e índios se tornou o Dia de Ação de
Graças com letra maiúscula. Um dia que não comemora uma colheita, mas a própria colonização da América – e que
só se tornou um feriado oficial em 1863, no governo Lincoln.
Àquela altura, a população indígena da costa leste já estava praticamente
dizimada. A graça de um, afinal, costuma ser a desgraça do outro.
Fonte:
Revista Superinteressante
Nenhum comentário:
Postar um comentário