A Síndrome do Pequeno Poder é
um transtorno de comportamento individual que mina as relações sociais e pode
esfacelar qualquer chance de estabelecimento de convivência.
Ana
Macarini
A Síndrome do Pequeno Poder é um transtorno de
comportamento individual que mina as relações sociais e pode esfacelar qualquer
chance de estabelecimento de convivência, em detrimento da satisfação de um
indivíduo arrogante, autoritário e abusivo.
Pessoas acometidas por essa Síndrome costumam ter auto estima extremamente
prejudicada, sendo levadas a ter a necessidade de humilhar o outro na tentativa
de cessar um sentimento de menos valia. Diminui-se o outro para se sentir
maior.
Esses indivíduos costumam viver inseridos em ambientes dentro dos quais
não encontram lugar, sentem-se inferiores e, por causa disso, reagem
agressivamente contra qualquer um que possa representar o mínimo questionamento
à sua “autoridade”.
Autoridade é um bem que se
conquista. É fruto do reconhecimento a uma habilidade desenvolvida, a um
esforço empenhado, a um desempenho de papéis que explicita a competência. Autoridade
depende da anuência do entorno.
Já o autoritarismo é outra coisa. É a instauração de um poder à força. É
a atitude agressiva que busca subjugar o outro. O autoritarismo nasce da
incompetência, da falta de recursos para administrar conflitos.
Dean
Drobot, Shutterstock
Lidar com uma pessoa tomada pela Síndrome
do Pequeno Poder é dificílimo. Essas pessoas têm uma enorme dificuldade em
estabelecer limites de convivência. Uma vez que ela tenha enxergado no outro
uma ameaça ao seu suposto poder, ela não medirá ações ou modos para fazer valer
a sua ilusória “autoridade”.
O poder verdadeiro emana do
saber. Quanto mais sabemos sobre algo mais poder teremos sobre isso. E tudo o que
estiver envolvido nesse saber depende do caráter ético e moral de quem o
possui. Depende. Depende da importância social daquilo que se sabe, do que vai
ser feito com esse saber; depende, ainda, de como e com quem esse conhecimento
será partilhado.
As relações de poder na atualidade constroem-se a partir de uma rede
complexa de relações. O modelo de hierarquia sólida, que já funcionou tão bem
em outros momentos históricos anteriores, hoje não funciona mais. Ainda bem! E
o indivíduo com visões distorcidas de poder não conta com recursos para
perceber e gerir essa mobilidade.
O conhecimento foi incrivelmente democratizado, graças ao
desenvolvimento tecnológico. Qualquer pessoa, dotada da capacidade de ler e
compreender o que lê, tem acesso a uma infinita variedade de informações, sejam
elas relevantes ou fúteis. Nunca foi tão fácil satisfazer uma curiosidade ou
interesse de aprendizagem sobre o que quer que seja.
Antonio
Guillem, Shutterstock
Esse acesso aberto ao
conhecimento, no entanto, exige de nós uma dose muito maior de responsabilidade. Hoje precisamos
ser agentes das decisões tomadas. O nosso fazer político, por exemplo… de nada
nos adianta ter o poder de eleger nossos representantes se ainda teimamos em
escolhê-los de forma irresponsável.
Pensando numa esfera institucional menor que o Estado; uma empresa, por
exemplo. Em qualquer empresa, ainda que vigore uma estrutura de cooperação,
alguém precisa estar em uma posição de mediador das relações; precisa haver um
líder que seja responsável por garantir que haja organização, equilíbrio e
produtividade. Sem uma liderança que prese por valores e pelas necessidades
coletivas, instaura-se o caos.
E, uma vez instaurado o caos, todos ficam à deriva. O individualismo é o caos. Cada um
pensando nos próprios interesses é o caos. A nossa natureza exploratória gerou
o caos, numa crise ambiental sem precedentes. De tanto brincarmos de algozes,
acabamos vítimas de nossa própria ambição desmedida.
Estaria tudo perdido? Não haveria salvação para nossa “raça humana”? Há.
E ela está em nossas mãos, mais concretamente do que nunca esteve. Precisamos
entender o que representa exatamente esse tamanho poder. Precisamos
ressignificar o nosso papel nas relações com o outro e com o mundo.
O poder é necessário para impulsionar mudanças, para vencer obstáculos.
Sua natureza é de cunho transformador. O
que vai modular esse poder é o caráter de quem o exerce. E não importa se o
autor do comportamento abusivo é um líder de governo, o segurança da balada, o
pai de família ou um parceiro de trabalho. O abuso precisa ser detido.
O abusador é alguém que faz mau uso do poder que tem, ou imagina ter. E,
não raras vezes a única forma de fazê-lo parar é garantir que ele não tenha
nenhuma chance de sequer pensar que pode mais que os outros. Nenhuma relação
interpessoal pode basear-se em posturas de dominação e exploração.
Infelizmente, em muitos casos não adianta insistir, porque para falta de caráter
ainda não inventaram remédio.
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