Novo
livro de Augusto Cury, “Inteligência
Socioemocional” traz ferramentas para combater a ansiedade e a depressão
Augusto Cury ressalta a importância de pais e professores na gestão da
emoção de filhos e alunos: “Mentes
felizes e saudáveis têm maior possibilidade de formar mentes livres,
contemplativas e bem resolvidas”.
Em seu novo livro, Augusto Cury
se debruça sobre o que ele chama de a
era das trevas emocionais. O termo remonta ao período da Idade Média, mas a
escuridão do passado jamais deixou de avançar pelos séculos seguintes, embora
por vezes timidamente. O breu permanece até hoje. É justamente o tempo presente
o cenário de estudo do múltiplo Cury, psiquiatra, cientista, pesquisador e
escritor com milhões de livros vendidos. “Inteligência
Socioemocional” segue a rota de outros títulos do autor ao identificar
certas amarras para, habilmente, afrouxá-las. Aqui, ele apresenta ferramentas
para se desvencilhar da escuridão provocada pelo medo, pela lei do menor
esforço e pela desumanidade. “Estamos
coletivamente vivenciando a era da falência emocional e do esgotamento
cerebral, algo só experimentado em campos de batalha. Mas onde está a guerra
que travamos?”, pergunta. Para ele, a resposta só pode ser uma: a mente. É por ela que a luta contra a
ansiedade, a depressão, a solidão e o estresse deve começar.
Gestão da emoção
Vivemos numa época de conexão aparentemente ilimitada e irrestrita. A
camada tecnológica, por sua vez, camufla as consequências de seu progresso:
mais interações virtuais – ou apenas ilusões de interação – e menos diálogo
frente a frente. Menos desculpas, menos erros reconhecidos, menos paciência
para o encontro. Mais solidão, mais angústia, mais preocupações. Mais excesso
de notícias, mais estresse, mais respostas prontas e menos informação
confiável. Mais discriminação e menos qualidade de vida. Mais armas e menos
conversa. Há um desequilíbrio nessa balança. Diante dessa configuração, ele
atesta: “É muito mais fácil sermos pais
comuns e educadores entediantes do que sermos pais inspiradores e professores encantadores”.
Destaco esses dois termos, porque são instâncias que o interessam muito.
Afinal, pais inspiradores e professores encantadores são essenciais na
construção de outro tipo de vida. Uma vida iluminada. E, sim, são eles que
iluminam. O emaranhado de constatações tristemente realistas sobre esse tempo
encontra uma chave de mudança: a gestão
da emoção. Trata-se de outro termo fundamental para o escritor, pois ele entende
“Inteligência Socioemocional” como
uma obra de treinamento que busca mapear falhas para auxiliar em nossa
reinvenção, num processo de educação que nos tira o sentimento de culpa,
reelabora a ideia de imperfeição e nos convida à troca e ao convívio harmonioso.
A gestão de emoção é uma semente plantada para evitar a repetição de um
ciclo perverso no futuro: “Mentes
infelizes e doentias têm mais chances de formar filhos e alunos infelizes e
traumatizados. Mentes felizes e saudáveis têm maior possibilidade de formar
mentes livres, contemplativas e bem resolvidas”. Esse não parece ser um
ponto pacífico? Então, por que tanta resistência?
O papel dos pais e educadores
O tema esbarra justamente na ação de pais e professores. Há muitos
deles, bem-intencionados, que se tornam predadores de filhos e alunos por não
serem capazes de lidar com seu próprio arcabouço emocional. Assim, também não
têm a capacidade de orientar. O mal-estar é repassado de geração em geração,
dando origem a traumas e fobias, estimulando a intolerância e o revanchismo. Há
uma obviedade urgente nessa ideia: a educação dos filhos/alunos passa
necessariamente pela educação dos pais/professores. Se não ficou claro ainda,
Cury fala de uma educação humanista. Daí a importância da gestão da emoção. “Os educadores, se não gerirem a própria
emoção, se não fizerem a oração dos sábios – ou seja, se não pensarem antes de
reagir –, elevarão o tom de voz, criticarão excessivamente, repetirão
enfadonhamente a mesma correção. Eles se tornarão predadores de seus filhos e
alunos, reproduzindo mecanismos primitivos presentes nas savanas africanas”,
resume o autor.
Segundo Cury, pais e professores encantadores são aqueles que conduzem
filhos e alunos ao encontro do que eles têm de melhor, conscientes dos
descaminhos da mente. O objetivo passa longe de formar máquinas de estudar, mas
pensadores generosos. É preciso, o escritor defende, que o esforço de produzir
conhecimento técnico seja equiparado à atenção dada à prevenção de transtornos
emocionais. No entanto, pouco se fala sobre isso, embora quase ninguém mais
duvide que nossos grandes sabotadores moram mesmo dentro de nós. O resultado é
uma sociedade adoecida, incapaz de educar as gerações mais novas.
O escritor lembra que ser um eterno aprendiz é a marca de um ser humano
verdadeiramente grande. Cury aponta ações necessárias para se lançar nesse
caminho que, embora longo, nos leva mais longe: mapear nossa história, reciclar
erros e conflitos, superar a necessidade de ser perfeito, crescer diante da
dor, lidar com o estresse, ter metas claras. São esses alguns dos pilares da
gestão da emoção. Em “Inteligência
Socioemocional”, Cury traz cinco ferramentas relacionadas a esse conceito
e, aqui, você conhece melhor duas delas:
Ser autor da própria história
A primeira ferramenta é norteada pela ideia de autoconhecimento. É importante pensarmos aqui sobre o quanto nos
conhecemos intimamente e a nossa disposição em investigar nossas fragilidades.
A mente livre é pré-requisito para uma vida saudável, insiste Cury, mas ela não
é possível com os bloqueios montados a partir de mazelas emocionais jamais
curadas – algumas sequer investigadas. As escolas não ensinam como enfrentá-las
e reciclá-las “Que tipo de ferramentas
você usa diante dos medos que furtam a tranquilidade? Os medos ou fobias vêm e
aparentemente vão embora depois de minutos ou horas, mas nos enganamos. Eles
não vão embora. Na verdade ficam depositados nos bastidores da memória e pouco
a pouco vão desertificando o território da emoção”, explica Cury.
A liberdade da mente é possível por meio de um treinamento que desarme
as armadilhas nas quais nos acostumamos a cair. O exercício leva ao
empoderamento da mente, fixando o Eu como autor da própria história, sem jamais
atá-la a uma viagem egocêntrica. O sentimento que rege esse reencontro deve ser
outro, o de encantamento com a vida e com o ser humano. “Lembre-se
sempre de que a vida que pulsa dentro de nós, independentemente de nossos
erros, acertos, status e cultura, é uma joia única no teatro da existência. E
nunca se esqueça de que cada ser humano é um mundo a ser explorado, uma
história a ser compreendida, um solo a ser cultivado”, ressalta.
O escritor afirma que o Eu representa a nossa capacidade de analisar
situações, duvidar, criticar, fazer escolhas, exercer o livre-arbítrio,
corrigir rotas, estabelecer metas, administrar o psiquismo. O desenvolvimento
dessas habilidades é uma das metas da inteligência socioemocional. Ser autor da
própria história é ter consciência de que a vida é um grande livro e que é sua
responsabilidade escrevê-la.
Gerenciar os pensamentos
A segunda habilidade apontada por Cury visa capacitar o Eu. Isso implica
em abandonar o conforto da plateia para sermos protagonistas de nossas vidas,
assumindo as rédeas. A metáfora é conhecida, mas ainda pouco aplicada
efetivamente, porque o controle da mente – movimento essencial para estabelecer
o controle – prescinde de um exercício contínuo, uma disposição atacada pela
fadiga crônica desse tempo, no qual concordamos em ser espectadores passivos.
Vive-se assim ignorando o curto intervalo que separa a infância da velhice, e
as chances de reinvenção entre essas pontas. “Para as pessoas superficiais, a rapidez da vida as estimula a viver
destrutivamente, sem pensar nas consequências do próprio comportamento. Para os
sábios, a brevidade da vida os convida a valorizá-la como um diamante de
inestimável valor”, frisa.
O verdadeiro sábio não é aquele que não comete erros, mas sim o que
aprende com cada deslize e o que entende o fracasso como uma chance de
recomeço. A sabedoria deveria ser o motor que gerencia nossos pensamentos, pois
ela ajuda a manter a qualidade de vida como alvo principal de nossas ações e a
expandir a mente, explorando os campos da criatividade. Nesse sentido, a
compreensão dos elementos de formação do Eu, especialmente os alojamentos da
memória, é primordial para a tomada de consciência exigida pela vida plena. “Pensar é excelente, mas pensar demais e sem
qualidade pode ser um grande problema. Se o Eu não aprender a gerenciar os
pensamentos, nossa mente pode se transformar num canteiro de pesadelos”,
adverte Cury.
O escritor destaca três elementos que estruturam e fortalecem a
liderança do Eu: Duvidar, Criticar e Determinar. “A arte de
duvidar é o princípio da sabedoria na filosofia. A arte de criticar é o
princípio da sabedoria na psicologia. E a arte da determinação estratégica é o
princípio da sabedoria na área de recursos humanos. A cada momento, você deve
duvidar de tudo que o controla, criticar todo pensamento perturbador e
determinar estrategicamente aonde quer chegar”, explica ele, reforçando que
isso deve ser feito no silêncio da nossa mente várias vezes por dia, com emoção
e coragem. Estão prontos para isso?
Por Filipe
Isensee,
Blog
Editora Sextante
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