1) Na antiga escrita em rolos,
não havia espaços separando as palavras, não se usava pontuação e não existiam
letras maiúsculas e minúsculas. Como se lia em voz alta, o olho precisava
desembaralhar aos poucos aquelas letras, formando palavras.
2) Agostinho, professor de
retórica do século IV (que hoje chamamos de Santo Agostinho), se horrorizava ao
presenciar alguém lendo em silêncio. Para ele, “o texto escrito era uma
conversação, posta no papel para que o parceiro ausente pudesse pronunciar as
palavras destinadas a ele”.
3) Desde os tempos das tabuletas
sumérias, as palavras escritas destinavam-se a serem pronunciadas em voz alta.
4) Tanto em aramaico como em
hebreu, que são as línguas primordiais da Bíblia, o mesmo verbo é usado para o
ato de ler e o ato de falar.
5) No século XI, um teólogo
estabeleceu regras para a leitura do Corão, entre as quais estava ler alto o
suficiente para que o leitor escute, o que afastaria as distrações do mundo
externo.
6) O modo como lemos no mundo
ocidental (da esquerda para a direita e de cima para baixo) não tem nada de
universal e varia de época para época. Hebreu e árabe eram lidos da direita
para a esquerda; chinês e japonês eram lidos em colunas, de cima para baixo;
alguns escritos da Grécia antiga eram escritos com linhas alternadas em
direções opostas.
7) Alguns religiosos temiam a
leitura silenciosa e ficaram muito desconfiados quando ela virou moda. Eles
achavam que, além de estimular o pecado da preguiça, ela abriria espaço para se
sonhar acordado.
8) Na sociedade cristã do começo
da Renascença, alguns aristocratas (e, depois do século XIII, os burgueses)
achavam que ler e escrever eram ocupações menores, coisa de clérigo pobre.
Apesar disso, os ricos eram praticamente os únicos a ter esse privilégio.
9) Na Idade Média, alguns
moralistas acreditavam que as meninas deviam ser proibidas de aprender a ler e
escrever, a menos que quisessem ser freiras. Eles temiam que elas se
envolvessem com a escrita de cartas amorosas!
[Informações
retiradas do livro “Uma história da leitura”, de Alberto Manguel]
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