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quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Leitura: O Presente, de Cecília Ahem



Todos os dias, Lou Suffern luta contra o tempo. Ele tem sempre dois lugares para ir, tem sempre duas coisas a fazer. Quando dorme, sonha com os planos do dia seguinte, e, quando está em casa, com a esposa e os filhos, sua mente está, invariavelmente, em outro lugar. Numa manhã de inverno, Lou encontra Gabe, um morador de rua, sentado no chão, sob o frio e a neve, do lado de fora do imenso edifício onde Suffern trabalha. Os dois começam a conversar, e Lou fica muito intrigado com as informações que recebe de Gabe; informações de alguém que tem observado uniões improváveis entre os colegas de trabalho de Lou, como os encontros da moça de sapatos Loubotin com o rapaz de sapatos pretos… Ansioso por saber de tudo e por manter o controle sobre tudo, Lou entende que seria bom ter Gabe por perto — para ajudá-lo a desmascarar associações que se formam fora de suas vistas — e lhe oferece um emprego. Mas logo o executivo arrepende-se de ajudar Gabe: sua presença o perturba. O ex-mendigo parece estar em dois lugares ao mesmo tempo, e, além disso, Gabe lhe fala umas coisas muito incomuns, como se soubesse do que não deveria saber… Quando começa a entender quem é realmente Gabe, e o que ele faz em sua vida, o executivo percebe que passará pela mais dura das provações. Esta história é sobre uma pessoa que descobre quem é. Sobre uma pessoa cujo interior é revelado a todos que a estimam. E todos são revelados a ela. No momento certo.

Repleto de metáforas, O Presente é o livro de Cecelia Ahern perfeito para ser lido com o objetivo de se refletir sobre o que realmente importa na vida. Em terceira pessoa, é narrada a história de Lou, o ambicioso empresário que prioriza seu trabalho – e os lucros decorrentes dele – acima de tudo.

Como dito, a autora fez uso de inúmeras metáforas em sua obra, não apenas para transmitir mensagens com ela, mas também para criar frases mais elaboradas e impactantes, o que me agradou bastante durante a leitura. Foi impossível não apreciar os quotes criados por Ahern no sentido de admirar sua escrita; enquanto eu lia, parava por alguns instantes para degustar suas palavras.

“Esta história é sobre pessoas, segredos e tempo. Sobre pessoas que, assim como os embrulhos, guardam segredos, escondem-se sob várias camadas, até encontrarem as pessoas que poderão desembrulhá-las e ver o que há dentro. Às vezes é preciso se entregar a alguém para perceber quem você realmente é. Às vezes é preciso remexer as coisas para chegar ao âmago.”
páginas 13 e 14

Ainda que eu estivesse bastante curiosa para compreender os mistérios da história e quem, afinal, realmente seria Gabe, O Presente passou longe de ter sido uma leitura frenética. Ao contrário, foi um livro lido aos poucos e calmamente.

Lou foi um personagem que me causou extrema angústia. Suas decisões e prioridades me causaram repulsa, em um primeiro instante, de forma que tornavam quase impossível aceitar sua personalidade egoísta e materialista. E conforme a história foi se desenvolvendo, trazendo consigo aprendizados e amadurecimentos subsequentes, minha angústia se transformou na aflição de acompanhar as consequências daquilo semeado pelo próprio Lou.

Cecelia Ahern me surpreendeu no final ao encerrar a história de uma forma que eu não havia esperado, embora, talvez, não tenha sido um fim tão imprevisível assim. De qualquer maneira, fechei o livro com o sabor agridoce e controverso de ter gostado do final ao mesmo tempo em que ele representou algo que eu não gostaria que tivesse acontecido.

Em linhas gerais, O Presente passou longe de ter me encantado e envolvido como os demais livros da autora lidos por mim. Contudo, embora tenha sido uma leitura lenta, foi também uma bela história que cumpriu muito bem seu papel em transmitir uma importante e reflexiva mensagem.

Fonte: Blog Minha Vida Literária

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