Um Romance sobre Desigualdade
Com uma prosa dinâmica e contundente, Eduardo Sens apresenta um dos
clássicos dilemas da humanidade na obra De Quando Éramos Iguais.
Um promotor tem diante de si mais um caso criminal, em que seu papel é o
da acusação. Seria mais um caso em sua carreira, não fosse este fato
conflitante: o réu à sua frente é um amigo de infância, acusado pelo
assassinato de um pai de família.
A partir desse reencontro inusitado, uma profusão de pensamentos e
lembranças leva o protagonista a se ver também no papel de réu. No tribunal da
memória, resurge um doloroso episódio que o marcou na infância, pelo qual ele
se sente responsável. Revisitando o passado, o promotor busca, por sua vez,
provar a si mesmo a própria inocência. Com este mote, Eduardo Sens desenvolve a
trama do seu novo romance, De quando éramos iguais, que acaba de ser lançado
pela Editora Penalux.
“O livro narra um júri na visão de um promotor de justiça de meia idade.
Ele é conservador, possui prêmios honorários. Então surge esse réu, que foi seu
amigo de infância. Os dois brincavam quando crianças, mas desde então, ou seja,
há mais de trinta anos, não se viam. À época, o pequeno amigo morava numa
favela próxima à sua casa, num bairro de classe média”. – Eduardo Sens
Para Sens, a ideia principal é debater a questão da meritocracia. “Como, com começos tão diferentes, as pessoas querem igualar as
vidas? Um criminoso e um promotor. Que bifurcações as vidas desses dois
personagens tomaram para estarem agora em lados tão opostos?”,
propõe.
Além dessas questões, o livro também discute o preconceito racial e a
importância da posição social para que se tenha um julgamento justo. Nas
palavras do autor “é um retrato de um
país de desigualdades complexas”.
“Em algum momento — hoje olhando para trás
percebo —, nossas vidas, as dos meus amigos de infância, dos meus colegas,
essas vidas que até ali seguiam o que parecia ser uma fila indiana, acabaram
escorregando por bifurcações distintas. Não dá para chamar de opção, coisa que
exige um mínimo de reflexão. Pareciam decretos, cominações, um selo carimbado
na hora do nascimento. É injusto batizar de sorte, destino, sina, desses nomes
que roubam das palavras a culpa que carregam. Nem deixa de ser normal: é
improvável que estivéssemos hoje aqui, do mesmo lado. Essa seleção antinatural
vai construindo pontes para uns e cavando oceanos para outros.” – De Quando
Éramos Iguais