Desestabilizar uma pessoa não precisa criar um conflito direto ou
exercer violência física. O uso de ironias, ridicularização ou insinuações
fazem parte de um tipo de comunicação entre iguais em que um indivíduo é
prejudicado. Falamos de comunicação perversa e pode ocorrer no casal, em
relacionamentos amigáveis e no ambiente de trabalho.
A comunicação perversa refere-se a uma tortura psicológica em relação a
um companheiro, que não faz barulho, mas desestabiliza e confunde aquele a quem
é dirigido. Tudo isso pode começar com uma simples falta de respeito sem, é
claro, qualquer sentimento de culpa por parte da pessoa que o emite.
Para exercer esse tipo de comunicação, basta que um indivíduo zombe dos
gostos pessoais de seu parceiro, de suas conquistas ou expectativas, tanto em
particular quanto em público. Também é comum que ele seja privado da
oportunidade de se expressar ou fazer sugestões sobre o outro sem
esclarecê-los.
Outras vezes é tão simples como deixar de dirigir-lhe a palavra, apesar
das constantes tentativas de verificação feitas pela “vítima” para saber se seu
parceiro o está ignorando sem motivo aparente. Essas ações são geralmente
acompanhadas por comunicação não-verbal através de olhares altivos ou suspiros
excessivos.
Ironia e ridicularização: duas
formas de comunicação perversa
Ironia e escárnio são duas armas que esses indivíduos manipulam e que
determinarão seu círculo de relacionamentos. A priori, essa atitude pode dar a
impressão de um indivíduo forte, pois, diante da galera, o coloca na posição
“daquele que supostamente sabe”.
A persistência dessa atitude leva à crença coletiva de que essa pessoa
“é assim”. Basicamente, o que ela faz é criar climas e atmosferas desagradáveis
não recomendados em todas as áreas ou facetas de sua vida às quais ela estende
sua atitude. Uma atitude que ao mesmo tempo contribui para nunca conseguir
criar espaços de comunicação completamente sinceros e íntimos.
Dessa forma, o interlocutor acaba aceitando o sarcasmo, a indiferença e
o desprezo de seu parceiro, amigo ou colega de trabalho, como se fossem o preço
a pagar por manter um relacionamento com aquele parceiro atraente, mas
extremamente complicado.
Sarcasmos e ligeiros desdém são usados como pequenas pinceladas que
aborrecem e incomodam os outros e que muitas vezes ocorrem na presença de
outras pessoas. Além disso, eles geralmente têm o reforço de um cúmplice que
faz parte do grupo. A agressão é tão insidiosa que o receptor duvida se a coisa
é séria ou é uma piada e deveria aceitá-la.
O círculo vicioso desses
relacionamentos tóxicos
Essas ações são tão comuns que parecem a coisa mais normal do mundo.
Elas começam com uma simples falta de respeito, mas levam a ataques contínuos
que terão consequências importantes para a saúde psicológica daqueles que
sofrem.
É algo tão sibilino e que forma parte da vida cotidiana que as vítimas
acabam optando por assumir e aceitá-lo: acabam encobrindo essas pessoas com a
certeza de que é melhor estar com elas do que contra elas. Isso leva a uma
distorção autêntica da relação entre as duas partes.
Marie-France Irigoyen nos fala sobre esse tipo de violência, aquela que
se instala muito furtivamente e muito gradualmente, e que a pessoa que sofre
não reage ao contra-ataque se não manifesta a atitude que alimenta as agressões
encobertas do outro: falamos de uma gentileza excessiva. Eles acreditam que, se
puderem agradar um pouco mais, em algum momento, seu parceiro difícil se
tornará educado.
Não se esqueça que se em algum momento o prejudicado decidir se rebelar
e decidir chutar o balde, o “eu superior” será responsável por desacelerar, anular
qualquer capacidade de pensamento crítico e fazê-lo perder a noção de sua
identidade.
Como parar esses tipos de
relacionamento?
Aquelas pessoas que sentem alguma insegurança de si mesmas são
suscetíveis de serem apanhadas por aqueles que manipulam. Esse tipo de pessoa
coloca suas opiniões acima dos demais porque acreditam que sempre saberão mais
sobre qualquer assunto.
Depois de todo o exposto, quem é o verdadeiro inseguro de si mesmo, quem
é manipulado ou quem precisa manipular para se sentir forte em situações da
vida cotidiana? Por todas estas razões, a necessidade de educar desde cedo em
respeito aos outros. Devemos entender que cada indivíduo é único e irrepetível
e que ele não deve ser uma figura de ameaça para seus pares.
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