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sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Eles passarão, eu passarinho, Mario Quintana


Eles passarão, eu passarinho: Há 113 anos, nascia Mario Quintana

Poeta gaúcho é considerado um dos maiores nomes da literatura brasileira

Vinícius Buono

 Mario Quintana – Reprodução

Há exatos 113 anos, em 1906, nascia em Alegrete, pequena cidade no Rio Grande do Sul, o poeta Mario Quintana.

Apesar de ser o mais novo de 11 irmãos, Mario de Miranda Quintana — sem acento mesmo, como fora registrado, de acordo com o próprio — viveu uma vida solitária. Alfabetizado em casa pelos pais, já falava francês aos sete anos. Foi enviado por eles ao Colégio Militar, em Porto Alegre, uma grande decepção em sua vida — no entanto, foi na revista do colégio que seus primeiros escritos foram publicados.

Descoberto por outro renomado escritor gaúcho, Érico Veríssimo, com quem teve uma longa amizade, Quintana trabalhou por muitos anos na Editora Globo, onde traduziu inúmeros livros como Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, e Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf.

Enquanto isso, também escrevia suas próprias obras, focado principalmente em poesia e livros infantis. Seu primeiro livro de poesias, Rua dos Cataventos, foi publicado em 1940 e o lançou no cenário literário do país.

Quintana escrevia de maneira prolífica e silenciosa, mantendo-se distante dos holofotes. Seu estilo irônico dava certo tom de comicidade à sua obra, mesmo com os temas mais recorrentes sendo a morte, o tempo, e a ideia de infância perdida.

Solteiro até o fim da vida, o poeta tinha o hábito de viver em hotéis. O Hotel Majestic, onde viveu por 12 anos em Porto Alegre, é hoje a Casa de Cultura Mario Quintana. Se estivesse vivo, Quintana provavelmente repudiaria a ideia. Certa vez, disse que “preferia ser alvo de um atentado do que de uma homenagem”.

A acidez não era só característica de sua obra, mas sim do próprio autor. Quando foi definido pelo amigo Veríssimo como um anjo, respondeu que preferia o diabo, pois ele é mais divertido. Homenageado em sua cidade natal de Alegrete com um busto de bronze, foi chamado pelo prefeito para compor a inscrição que acompanharia a estátua. A frase composta por ele foi simples e objetiva: “Um engano em bronze é um engano eterno”.

Sua aversão à política foi motivo de críticas ao longo de sua carreira (afinal, passou pelo Estado Novo e pela Ditadura Militar, momentos de grande repressão no país), e foi o motivo de seu embate com a Academia Brasileira de Letras.

Quintana candidatou-se por três vezes a uma vaga na instituição, mas foi rejeitado nas três por não ter conseguido a cota necessária de 20 votos. Lamentou que a casa fundada por Machado de Assis tivesse se tornado tal antro de politicagem e, quando chamado para se candidatar pela quarta vez sob a promessa de unanimidade, recusou.

Fumante em grande parte de sua vida, faleceu em 1994, aos 87 anos, em decorrência de uma insuficiência respiratória. Ainda vive, no entanto, em seus inúmeros poemas, contos, livros infantis e traduções.

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