Eles
passarão, eu passarinho: Há 113 anos, nascia Mario Quintana
Poeta
gaúcho é considerado um dos maiores nomes da literatura brasileira
Vinícius
Buono
Mario
Quintana – Reprodução
Há exatos 113 anos, em 1906, nascia em Alegrete, pequena cidade no Rio
Grande do Sul, o poeta Mario Quintana.
Apesar de ser o mais novo de 11 irmãos, Mario de Miranda Quintana — sem
acento mesmo, como fora registrado, de acordo com o próprio — viveu uma vida
solitária. Alfabetizado em casa pelos pais, já falava francês aos sete anos.
Foi enviado por eles ao Colégio Militar, em Porto Alegre, uma grande decepção
em sua vida — no entanto, foi na revista do colégio que seus primeiros escritos
foram publicados.
Descoberto por outro renomado escritor gaúcho, Érico Veríssimo, com quem
teve uma longa amizade, Quintana trabalhou por muitos anos na Editora Globo,
onde traduziu inúmeros livros como Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust,
e Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf.
Enquanto isso, também escrevia suas próprias obras, focado
principalmente em poesia e livros infantis. Seu primeiro livro de poesias, Rua
dos Cataventos, foi publicado em 1940 e o lançou no cenário literário do país.
Quintana escrevia de maneira prolífica e silenciosa, mantendo-se
distante dos holofotes. Seu estilo irônico dava certo tom de comicidade à sua
obra, mesmo com os temas mais recorrentes sendo a morte, o tempo, e a ideia de
infância perdida.
Solteiro até o fim da vida, o poeta tinha o hábito de viver em hotéis. O
Hotel Majestic, onde viveu por 12 anos em Porto Alegre, é hoje a Casa de
Cultura Mario Quintana. Se estivesse vivo, Quintana provavelmente repudiaria a
ideia. Certa vez, disse que “preferia ser alvo de um atentado do que de uma
homenagem”.
A acidez não era só característica de sua obra, mas sim do próprio
autor. Quando foi definido pelo amigo Veríssimo como um anjo, respondeu que
preferia o diabo, pois ele é mais divertido. Homenageado em sua cidade natal de
Alegrete com um busto de bronze, foi chamado pelo prefeito para compor a
inscrição que acompanharia a estátua. A frase composta por ele foi simples e
objetiva: “Um engano em bronze é um
engano eterno”.
Sua aversão à política foi motivo de críticas ao longo de sua carreira
(afinal, passou pelo Estado Novo e pela Ditadura Militar, momentos de grande
repressão no país), e foi o motivo de seu embate com a Academia Brasileira de
Letras.
Quintana candidatou-se por três vezes a uma vaga na instituição, mas foi
rejeitado nas três por não ter conseguido a cota necessária de 20 votos.
Lamentou que a casa fundada por Machado de Assis tivesse se tornado tal antro
de politicagem e, quando chamado para se candidatar pela quarta vez sob a
promessa de unanimidade, recusou.
Fumante em grande parte de sua vida, faleceu em 1994, aos 87 anos, em
decorrência de uma insuficiência respiratória. Ainda vive, no entanto, em seus
inúmeros poemas, contos, livros infantis e traduções.
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