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quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Leitura: Quarto de despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus



Quarto de despejo – diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus, é material poético. Não da poesia metafórica, mas a da realidade. A poesia de estar vivo, mesmo que com muita fome de amor, de paz, de atenção e de humanidade.



Escrito nos anos de 1950, o texto é um apanhado dos diários escritos por uma mulher negra, pobre, mãe solteira e praticamente analfabeta. Sim, a autora tinha apenas o segundo ano primário, mas conseguiu “pintar”, por meio dos seus textos, um retrato político/cultural/sociológico da primeira grande favela de São Paulo, a Canindé, que a partir de 1960 começou a ser desocupada para dar espaço à atual Marginal Tietê.



É interessante esse tipo de leitura para percebermos que pouca coisa mudou na relação entre os ricos (que ocupam as salas principais das grandes cidades) e os pobres (que são jogados, como 'coisas sem valor', nos imensos quartos de despejos ainda espalhados pelo Brasil e pelo mundo).



A leitura é forte, assim como a autora o é. Mas é também um grito de resistência (individual ou coletivo). É uma forma de não se conformar com as injustiças. É, mais do que tudo, uma maneira de dizer: eu tenho caráter e princípios, ainda que os outros apontem todos os dez dedos para mim.

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