Quarto de despejo – diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus, é material poético. Não da poesia metafórica, mas a da realidade. A poesia de estar vivo, mesmo que com muita fome de amor, de paz, de atenção e de humanidade.
Escrito nos anos de 1950, o texto é um apanhado dos diários escritos por
uma mulher negra, pobre, mãe solteira e praticamente analfabeta. Sim, a autora
tinha apenas o segundo ano primário, mas conseguiu “pintar”, por meio dos seus
textos, um retrato político/cultural/sociológico da primeira grande favela de
São Paulo, a Canindé, que a partir de 1960 começou a ser desocupada para dar
espaço à atual Marginal Tietê.
É interessante esse tipo de leitura para percebermos que pouca coisa
mudou na relação entre os ricos (que ocupam as salas principais das grandes
cidades) e os pobres (que são jogados, como 'coisas sem valor', nos imensos
quartos de despejos ainda espalhados pelo Brasil e pelo mundo).
A leitura é forte, assim como a autora o é. Mas é também um grito de
resistência (individual ou coletivo). É uma forma de não se conformar com as
injustiças. É, mais do que tudo, uma maneira de dizer: eu tenho caráter e
princípios, ainda que os outros apontem todos os dez dedos para mim.
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