A extraordinária fábula “A cigarra e a formiga” de três autores: Esopo, La Fontaine e Monteiro Lobato
Por Revista Prosa Verso e Arte
A máxima popular que diz: Quem conta um conto, aumenta um ponto, pode
muito bem ser referência para as fábulas, que assim como os enigmas e as
crônicas, também é uma narrativa e, por sinal, extremamente encantadora. Visto
que vem há vários séculos povoando o imaginário das crianças e, por que não,
dos adultos, pois foi elaborada inicialmente para outro tipo público, tendo
inclusive conotação política.
A Cigarra e a formiga pelos autores:
Esopo, La Fontaine e Monteiro Lobato. Além da versão poética de José Paulo
Paes:
A
cigarra e a formiga – Esopo (versão Ruth Rocha)
A cigarra passou o verão cantando, enquanto a formiga juntava seus
grãos.
Quando chegou o inverno, a cigarra veio à casa da formiga para pedir que
lhe desse o que comer.
A formiga então perguntou a ela:
— E o que é que você fez durante todo o verão?
— Durante o verão eu cantei — disse a cigarra.
E a formiga respondeu:— Muito bem, pois agora dance!
“MORAL DA HISTÓRIA:
Trabalhemos para nos livrarmos do suplício da cigarra, e não aturarmos a
zombaria das formigas.”
–
Esopo, em “Fábulas de Esopo”. [tradução Ruth Rocha]. São Paulo: Salamandra,
2010.
A
cigarra e a formiga – La Fontaine (versão Bocage*)
La Fontaine – La Cigale et la Fourmi,
illustration Jean-Jacques Grandville (1847)
Tendo a cigarra em cantigas
Folgado todo o Verão
Achou-se em penúria extrema
Na tormentosa estação.
Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.
Rogou-lhe que lhe emprestasse,
Pois tinha riqueza e brilho,
Algum grão com que manter-se
Té voltar o aceso Estio.
«Amiga, diz a cigarra,
Prometo, à fé d’animal,
Pagar-vos antes d’Agosto
Os juros e o principal.»
A formiga nunca empresta,
Nunca dá, por isso junta.
«No Verão em que lidavas?»
À pedinte ela pergunta.
Responde a outra: «Eu cantava
Noite e dia, a toda a hora.»
«Oh! bravo!», torna a formiga.
– Cantavas? Pois dança agora!»
“LIÇÃO DE VIDA: Os que não
pensam no dia de amanhã, pagam sempre um alto preço por sua imprevidência.”
– La
Fontaine em “Fábulas de La Fontaine”. [tradução Bocage, Rio de Janeiro: Editora
Brasil- América, 1985.
La Fontaine – ‘La Cigale et la Fourmi’,
illustration Gustave Doré
*Bocage
Manuel Maria de Barbosa l’Hedois du Bocage (Setúbal, 15 de Setembro de
1765 — Lisboa, 21 de Dezembro de 1805), Poeta português, possivelmente, o
maior representante do arcadismo lusitano. Árcade e pré-romântico, sonetista
notável, um dos precursores da modernidade em seu país.
|
A
cigarra e a formiga – Monteiro Lobato
A
cigarra e a formiga – Monteiro Lobato
Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé dum
formigueiro. Só parava quando cansadinha; e seu divertimento então era observar
as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas.
Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas. Os animais todos,
arrepiados, passavam o dia cochilando nas tocas.
A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes
apuros, deliberou socorrer-se de alguém.
Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro.
Bateu – tique, tique, tique…
Aparece uma formiga friorenta, embrulhada num xalinho de paina.
– Que quer? – perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a
tossir.
– Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu…
A formiga olhou-a de alto a baixo.
– E o que fez durante o bom tempo, que não construiu sua casa?
A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois dum acesso de tosse.
– Eu cantava, bem sabe…
– Ah! … exclamou a formiga recordando-se. Era você então quem cantava
nessa árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas?
– Isso mesmo, era eu…
– Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua
cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho.
Dizíamos sempre: que felicidade ter como vizinha tão gentil cantora!
Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa durante todo o mau tempo.
A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos
dias de sol.
“MORAL DA HISTÓRIA: Os
artistas: poetas, pintores, músicos, são as cigarras da humanidade.”
–
Monteiro Lobato, em “Fábulas”. São Paulo: Brasiliense, 1995.
Sem
barra – (versão poética de José Paulo Paes)
The Ant and the Grasshopper – by Jr Casas
Enquanto a formiga
Carrega a comida
Para o formigueiro,
A cigarra canta,
Canta o dia inteiro.
A formiga é só trabalho.
A cigarra é só cantiga.
Mas sem a cantiga
da cigarra
que distrai da fadiga,
seria uma barra
o trabalho da formiga.
–
José Paulo Paes, em “Poemas para brincar”. São Paulo: Ática, 1989.