Por
Gema Sánchez Cuevas – do site La Mente es Maravillosa
Amar
a si mesmo tem o poder de curar feridas e recompor partes quebradas. É o
antídoto contra a apatia e a autodepreciação. Agora, o que podemos fazer para
cultivá-lo?
Quanto você ama a si mesmo? Pense nisso. Você pode não ter feito essa
pergunta ou mesmo pensado sobre isso. Nada acontece. É mais normal do que você
imagina. Nós temos um mau hábito de esquecer de nós. É como se não
existíssemos, como se fôssemos invisíveis aos nossos olhos, como se cuidar de
nós mesmos estivesse fora de nossa lista de prioridades. Além disso, atrevo-me
a dizer que o amor-próprio não ocupa um lugar nelas.
Como você se trata? Você já parou para refletir sobre isso? A maneira
como falamos de nós mesmos, a concepção que temos sobre quem somos e, em última
análise, como nos valorizamos influenciam a maneira como nos sentimos. O
problema é que mal pensamos sobre isso.
Nós tendemos a viver na ponta dos pés, por cima, sem nos aprofundarmos
em como isso nos afeta, o que acontece ao nosso redor. É como se não déssemos
importância ao nosso bem-estar pessoal. A questão é que, com o passar do tempo,
o peso do dia a dia aumenta e, se negligenciamos, podemos nos envolver em uma
névoa cinzenta que, pouco a pouco, nos atormenta.
Viver desconectado de nosso interior tem suas consequências, embora não
tenhamos consciência disso. Podemos observá-lo no protagonista do curta que
aparece no final do artigo. Agora, o que podemos fazer para nos libertar da
teia do automatismo? Como podemos impedir que os rótulos negativos e as
mensagens que recebemos cresçam em nosso interior? Vamos nos aprofundar.
O peso das mensagens recebidas
De pequeno, crescemos recebendo todo tipo de mensagens sobre quem somos,
o que devemos sentir e como agir. Pais, parentes, professores, amigos,
companheiros de vida… todo mundo tem algo a nos dizer, na maioria das vezes com
boas intenções – mesmo que nem sempre seja favorável ou apropriado para nós.
De “isso é impossível, mantenha os
pés no chão” ou “você está perdendo
tempo, concentre-se no que é importante” para “você não vai conseguir” ou simplesmente “você é muito sonhador”. O ponto é que todas as mensagens que
recebemos nos afetam de uma forma ou de outra, especialmente durante a nossa
infância. De fato, algumas delas moldam nossa identidade, e outras funcionam
como mandatos para nos governar, e quando não o fazemos, nos sentimos culpados.
Em alguns casos, essa culpa aprendida origina a ferida emocional da
rejeição. Uma pegada muito profunda e dolorosa que se traduz em um profundo
sentimento de autodepreciação, que tem como consequência a subvalorização de si
mesmo e um vazio no amor-próprio. Assim, crescer com essa ferida molda uma
realidade muito dolorosa.
“Demorei
muito tempo para aprender a não me julgar pelos olhos de outro.”
-Sally Field-
Os
julgamentos do crítico interno
Sentir-se rejeitado pelos outros e, por fim, por si mesmo gera uma
armadilha mental originada pelo crítico interno. Aquela voz que vem de dentro
de nós e que se dedica a julgar como pensamos, sentimos e agimos. Para isso,
utiliza qualquer estratégia: comparações, críticas destrutivas ou
desqualificações diversas.
“Eu não deveria ter dito isso”, “Eu deveria ter agido diferente”, “Eu não entendo nada direito” ou “Eu sou um desastre” são apenas alguns
exemplos de diálogos realizados por nosso crítico interno. O problema é que não
questionamos isso, muito pelo contrário. Temos esse tipo de mensagem tão
integrada que lhes damos o valor da verdade absoluta e, de fato, tudo o que
fazemos confirma isso. Porque se não nos consideramos válidos para um trabalho,
para liderar uma equipe ou para escrever, provavelmente nem tentaremos ou
boicotaremos para banir a esperança mínima que temos em nossas mentes.
A
influência das redes sociais
Um dos problemas que aumentam grandemente as comparações e a autocrítica
negativa atualmente são as redes sociais, pois criam realidades alternativas
que podem nos prender se não estivermos atentos. Estar horas e horas submersas
nesse cenário de aparências e sentimentos simulados pode nos fazer acreditar
que essa é a única coisa que existe; A verdade é que é apenas uma vitrine, na
qual cada pessoa pode controlar a imagem que deseja dar aos outros.
Segundo a psicoterapeuta Sherrie Campbell, as redes sociais podem criar
uma falsa ilusão de pertencimento e conexão com os outros, o que nos encoraja a
dar mais peso a esse mundo on-line
imaginário.
A questão é que, se desprezamos e rejeitamos, isto é, se tivermos uma
imagem negativa de nós mesmos, as redes sociais aumentarão essa percepção. Na
verdade, são os testes – falsos – que confirmam o quão entediantes são nossas
vidas, quão pouco divertidos somos e quão solitários somos.
Não é fácil acompanhar o ritmo de vida que outras pessoas mostram nas
redes sociais. Um estudo da Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia (EUA),
afirma que muitas vezes as redes sociais geram inveja e a crença distorcida de
que os outros têm uma vida muito mais original, feliz e interessante.
Como vemos, somos especialistas em nos maltratar, mas acima de tudo em
comparar nossas vidas com as dos outros, sem perceber que é um absurdo. Por que
perder tempo comparando se as condições, características, perspectivas e
experiências das pessoas são diferentes umas das outras?
A protagonista do curta-metragem Vencedor é um exemplo de como as redes
sociais podem ser uma faca de dois gumes; Acima de tudo, se há feridas do
passado que não foram curadas, uma vez que a pessoa que suporta o peso de uma
ferida geralmente filtra a realidade através dela. Sua mente frequentemente
opera a partir de distorções cognitivas (formas errôneas de processamento de
informações ou interpretações errôneas), como abstração seletiva,
personalização, rotulação ou raciocínio emocional, e as redes sociais estimulam
esse tipo de mecanismo.
“No
passado, você era o que você tinha, agora você é o que você compartilha.”
-Godfried
Bogaard-
Amor-próprio:
a reunião consigo mesmo
O que fazer para impedir o crítico interno? Como reconstruir nossas
partes quebradas? É possível parar o labirinto mental que nos prende na
autodepreciação? Parece que o protagonista do nosso curta, finalmente, descobre
o ingrediente secreto: o amor-próprio.
“Você
é tão incrível quanto se permite ser.”
-Elizabeth
Alraune-
No entanto, não é fácil reconciliar-se consigo mesmo, muito menos quando
na maior parte do tempo a coisa é negativo. São muitos anos treinando na
crítica, na demanda, na desqualificação, de modo que, de repente, quase por
magia, começamos a amar uns aos outros. São necessárias muitas doses de
paciência, esforço, aceitação e, claro, compromisso consigo mesmo.
Abraçar nossas partes quebradas envolve, a princípio, sofrimento, mas
também muita coragem e capacidade de perdoar e nos perdoar. Ser capaz de nos
dar amor quando é o que mais precisamos – e não sabíamos disso – requer muita
força e muito esforço. Por essa razão, há vários aspectos que devemos levar em
consideração:
• Considerar-nos valioso. Somos muito mais que nossos erros e fracassos,
muito mais que nossos resultados. Somos edição limitada e ninguém pode roubá-la
de nós. Talvez tenhamos crescido sem perceber e que mesmo nesses momentos é
difícil para nós acreditarmos, mas nunca é tarde demais para olhar no espelho e
começar a ver todo o potencial que temos.
• Praticar a autocompaixão. Entender e aceitar nossos erros e limitações
com respeito é essencial para seguir em frente. Sabendo que nos confundir é uma
oportunidade para aprender e que julgar a nós mesmos é um hábito que não nos
ajuda a mudar nossa perspectiva. De fato, de acordo com um artigo da revista Personality and Social Psychology, a
autocompaixão facilita a realização pessoal.
• Perdoar. O perdão é um ato libertador dos laços do passado. Perdoar é
uma oportunidade para curar nosso ressentimento, o que em algum momento causou
tanto dano. Agora, não só devemos perdoar os outros, mas também a nós mesmos
pelo tratamento que nos dedicamos.
• Viver com intenção. Estar ciente do momento presente é uma forma de
deixar ir o passado e evitar que o futuro nos sobrecarregue com suas
preocupações. Viver no dia a dia, saborear o que acontece a cada momento,
comprometido em cuidar de nós mesmos e nos servir é um mecanismo de proteção.
• Desconectar para conectar. Apesar de estar na era da conexão digital,
é aconselhável se desconectar deste mundo intangível para se conectar com o que
é revelado diante de nossos olhos e, claro, com as pessoas ao nosso redor.
Desta forma, impediremos que o teatro das aparências domine nossas vidas.
“O
amor é uma cura milagrosa. Amar a nós mesmos faz milagres em nossas vidas”.
-Louise
L. Hay-
Como podemos ver, o amor-próprio é construído pouco a pouco, tecido com
delicadeza e regado todos os dias. É essa luz que todos carregamos por dentro,
mas que, às vezes, é tão difícil para nós carregá-la com intensidade.
Querer-nos é o apoio do nosso bem-estar, o abraço que nos protege e o bálsamo
que cura nossas feridas.
Finalmente, deixamos você com este maravilhoso curta metragem.
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