Depressão não é coisa de gente “fresca”. Depressão é
coisa de gente, porque todos nós estamos sujeitos a queda, a dor e ao
sofrimento. A única diferença direciona-se ao modo como cada um se comporta
diante da pedra no meio do caminho.
De repente você não tem ânimo para nada. Não quer sair
do quarto, que, a propósito está uma bagunça sem fim; não tem vontade de ver o
mundo; não possui força sequer para fazer atividades que faziam/fazem parte do
seu cotidiano. Você se enxerga no fundo do poço, sem qualquer recurso ou sinal
que faça recuperar a esperança. A vida nesse limiar de tristeza torna-se ainda
mais frágil e por que não dizer insignificante, já que afundada em uma
depressão, ela perde a sua razão de ser.
A depressão não é do jeito que descrevi, ela é muito
pior e o mais importante: não é coisa de gente “fresca”. Depressão é coisa de
gente, porque todos nós estamos sujeitos a queda, a dor e ao sofrimento. A
única diferença direciona-se ao modo como cada um se comporta diante da pedra
no meio do caminho. Entretanto, julgar algo precipitadamente ou achar que uma
doença tão terrível é simplesmente “frescura” é ser despido totalmente do
mínimo de sensibilidade.
Bauman assevera que não há como medir a dor que alguém
sente, pois: “Cada angústia fere e
atormenta no seu próprio tempo”. Dessa maneira, há de se considerar que
todos nós possuímos nossos monstros e que eles nos assustam de maneira
distinta. Ou seja, aquilo que aflige e esmaga o meu peito não necessariamente
será a mesma dor que o outro sente, de modo que cada um sofre de acordo com as
suas idiossincrasias e dores únicas.
Isso implica o entendimento de que a pluralidade só
existe em função da singularidade que cada um possui e, assim, por mais que o
problema do outro pareça aos meus olhos algo bobo, devemos buscar compreender
que cada dor tem seu tempo e lugar, pois, como diz a letra da música: “Cada um
sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Sendo assim, deve-se ter empatia para
que possamos imaginar o sofrimento que existe em relação às particularidades de
cada um.
Apesar de a empatia ser fundamental para que as
pessoas que estão ao redor de quem sofre de depressão possam compreendê-la e
ajudá-la, é necessário que a pessoa que sofre do problema busque analisar a
raiz do seu sofrimento e de que modo ela tem contribuindo para a perpetuação
deste. Não estou dizendo que o indivíduo não deve chorar, ficar aflito ou
angustiado em função de determinada situação, e sim, que deve, por meio de uma
introspecção, tentar perceber em que momento a mágoa deixou de machucar por si
só e passou a ser uma rememoração desencadeada pela própria cabeça.
Isto é, quantas vezes nós ficamos remoendo dores do
passado, remexendo em feridas já cicatrizadas e fazendo-as tornar a sangrar? A
depressão nunca é culpa de quem a possui, mas se martirizar por algo que não
pode ser consertado não ajuda em nada, afinal, não se pode voltar no tempo e,
mesmo que pudéssemos, outras coisas nos incomodariam e outras pedras
existiriam, de maneira que teríamos que lidar com outros problemas, pois como é
dito no filme “Questão de Tempo” – “Ninguém pode te preparar para o amor e para
o medo”.
Eu sei que falar é muito mais fácil do que colocar em
prática, tanto para quem tem depressão, quanto para quem está ao lado, porque
lidar com o problema de modo que possa resolvê-lo depende de empatia, de
perdão, de autoperdão, de resiliência, de esperança, de humor. Depende de um
olhar doce para um mundo que tanto nos faz chorar, já que só assim conseguimos
fazer das lágrimas uma aquarela de cores para pintar um arco-íris, uma jiboia
engolindo um elefante, uma árvore que dá pipoca, um dragão que cospe sorvete
(que bom seria, hein?) ou qualquer coisa que quisermos.
Quando não conseguimos ter essa doçura no olhar, a depressão
torna-se um casulo que transforma borboletas em lagartas e isso é triste,
porque a beleza daquelas está na sua capacidade de se transformar, demonstrando
que por trás de todo casulo há uma borboleta e que de toda depressão existe uma
vontade enorme de ser feliz, cabe a nós escolher o que sai do casulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário