O que acontece, e o que sempre aconteceu em todos os momentos cruciais
da história humana, é que o homem não consegue encontrar a si mesmo e completar
sua vida com aquilo que lhe falta. Daí que se tenha chamado o ser humano de
ente imperfeito, porque requer aperfeiçoar-se, isto é, chegar a completar-se,
pois não é mais que um fragmento de uma figura que é necessário terminar.
Uns
têm o que falta a outros, e o que a uns falta, outros têm
Isso acontece com todos, sejam ricos ou pobres, belos ou feios. Uns têm
o que falta a outros, e o que a uns falta, outros têm. Mas o grande problema
reside em que ninguém quer dar ao outro o que tem, porque pretende que o que
tem seja melhor do que o que lhe falta e o outro tem. É nesse verdadeiro
labirinto de cotações dos fragmentos humanos onde se encontra a causa maior de
todas as dissensões, e é, ao mesmo tempo, de onde parte a equivocada posição de
todos os seres, sem exceção, que poderia ser definida com uma só palavra:
incompreensão.
Isso se agrava ainda mais pelo fato de que os homens, por momentos,
compreendem uma coisa e, depois, manifestam ignorá-la ou não compreendê-la; e
não havendo segurança nas ações ou nos pensamentos, não perdurando o que deve
ser permanente, a desconfiança toma corpo e se estende como algo contagioso por
todas as partes. Entretanto, há mais ainda: muitos emprestaram ou deram ao
semelhante o que lhe faltava e a eles sobrava, mas depois, por qualquer
circunstância como, por exemplo, uma desavença passageira, retomaram o que lhe
haviam dado, deixando-o outra vez carente dessa peça que lhe era tão
necessária. E assim vem seguindo a humanidade: dando e tirando sem chegar nunca
a se completar.
Não existiu, por certo, palavra alguma que, percorrendo todos os âmbitos
do mundo –onde hoje, como ontem, como desde o princípio, desde os primeiros
tempos, estamos habitando –, ensinasse aos homens essas verdades, razão pela
qual têm sobrevindo tantas calamidades. Nada de positivo, nada de permanente
haverá nesta Terra enquanto não se fixar no ser humano o verdadeiro conceito do
eterno; e o eterno é o que não muda, que não deve mudar; aquilo que cada um
consagra dentro de si mesmo como bom, como justo, como belo.
Extraído
do livro Introdução ao Conhecimento Logosófico, pág. 190.
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