A autoestima começa a se desenvolver numa pessoa
quando ela é ainda um bebê. Os cuidados e os carinhos vão mostrando a criança
que ela é amada e cuidada. Nesse começo de vida, ela está aprendendo como é o
mundo a sua volta e, conforme se desenvolve, vai descobrindo seu valor a partir
do valor que os outros lhe dão. É quando se forma a autoestima essencial.
A autoestima continua a se desenvolver conforme a
pessoa se sente segura e capaz de realizar seus desejos e, futuramente suas
tarefas. É a autoestima fundamental.
Para os pais, o amor incondicional que sentem pelos
filhos está claro, mas para os filhos nem sempre esse amor é tão claro assim.
Toda criança se preocupa em agradar à mãe e ao pai e
acredita que ao fazer isso estará garantindo o amor deles. Para ela, o sorriso
de aprovação dos pais é amor, e a reprovação com um olhar sério ou uma bronca é
não-amor.
É importante que fique claro para a criança que, mesmo
que a mãe e o pai reprovem determinadas atitudes dela, o amor que sentem por
ela não está em jogo.
Para que a criança se sinta amada incondicionalmente,
é necessário, acima de tudo, que seja respeitada.
Respeitar os
filhos significa:
• Dar espaço para que tenham seus próprios
sentimentos, sem por isso ser julgados ajudando a expressá-los de maneira socialmente
aceitável. Não é errado nem feio sentir raiva. O que pode ser reprovado é a
expressão inadequada da raiva, como bater em alguém.
• Aceitá-los como são, mesmo que não correspondam às
expectativas dos pais. Precisam ter os próprios sonhos, pois não nasceram para
realizar os dos pais.
• Não os julgar por suas atitudes. Crianças erram
muito, pois é assim que aprendem. Mãe e pai podem e devem julgar as atitudes,
mas não os filhos. Se a atitude foi egoísta, o que deve ser mostrado é o
egoísmo, mas não consagrá-lo dizendo “você é muito egoísta’: Frases do tipo
“você é terrível” e “você não tem jeito mesmo” ensinam à criança que ela é
egoísta, terrível e não tem jeito mesmo. Portanto, essas ‘qualificações” passam
a ser sua identidade.
O respeito a criança lhe ensina que ela é amada não
pelo que faz ou tem, mas pelo simples fato de existir. Sentindo-se amada, ela
se sentirá segura para realizar seus desejos. Portanto, deixá-la tentar, errar
sem ser julgada, ter seu próprio ritmo, descobrir coisas permite a criança
perceber que consegue realizar algumas conquistas. Falhar não significa uma
catástrofe afetiva. Assim, a criança vai desenvolvendo a autoestima, grande
responsável por seu crescimento interno, e fortalecendo-se para ser feliz,
mesmo que tenha de enfrentar contrariedades.
[…]
Alegria ou prazer adquiridos são logo digeridos e as
crianças ficam à espera de receber mais alegrias ou prazeres. Quando não
recebem, fazem birra, tornam-se infelizes. Por tanto, esse método, além de não
desenvolver a autoestima, cria muito mais dependência (de pessoas, de drogas),
pois é dela que as pessoas passam a se alimentar para estar bem.
O que alimenta a autoestima é sentir-se amado
incondicionalmente e também o prazer que a criança sente de ser capaz de fazer
alguma coisa que dependa só dela. Não o prazer ganho. O filho desenvolve a autoestima
quando brinca com o que ganhou, interage e cria novas brincadeiras; guarda o
brinquedo dentro de si, sente sua falta e principalmente cuida dele. O
brinquedo ganho, adquire, então, significado para ele. Crianças que ganham uma
infinidade de brinquedos que mal conseguem guardar não têm como desenvolver
autoestima suficiente para gerar felicidade.
O presente que vai alimentar a autoestima do filho é
aquele que ele sente que merece. Sem dúvida, é muito prazeroso para os pais dar
presentes que agradem aos filhos. Todos ficam contentes, os pais por dar e os
filhos por receber. Mas o princípio educativo é que os filhos sejam pessoas
felizes, e não simplesmente alegres. A alegria é passageira e a capacidade de
ser feliz deve pertencer ao filho. O prazer do “sim” é muito mais verdadeiro e
construtivo quando existe o “não’
[…]
A autoestima é a força interior da felicidade.
Uma dica importante aos pais: quando proibirem alguma
coisa ao filho, encontrem outras que ele possa fazer. A simples proibição é
paralisante. A educação é mobilizar a criatividade para o bem comum.
– Içami Tiba, no livro “Quem ama, educa”. São Paulo Editora Gente. 2002.
Breve Biografia
Içami Tiba
nasceu em 1941, filho de imigrantes japoneses, foi um médico psiquiatra,
psicodramatista, colunista, escritor de livros, educador e palestrante.
Trabalhando durante mais de três décadas com adolescentes e conflitos
familiares, o psiquiatra Içami Tiba foi um dos maiores especialistas nessa área
no Brasil.
Professor em
diversos cursos no Brasil e no exterior, criou a Teoria da Integração
Relacional, que ajuda na compreensão e a aplicação da psicologia por pais e
educadores.
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