Por Iara
Fonseca
O novo lançamento da Netflix “O menino que descobriu o vento” vem
sendo ovacionado pelos críticos como um dos melhores longas do ano. O motivo
para tanto burburinho é a sensibilidade que envolve a história, aparentemente
triste, mas que nos envolve em esperança e motivação.
A história gira em torno de um menino de 13 anos, excepcionalmente
resiliente chamado William Kamkwamba (Maxwell Simba). Com problemas financeiros
visíveis, a família não consegue pagar a escola que ele tanto ama, parte do
filme que muitas famílias se identificaram, visto o alto custo das escolas no
Brasil! Muitas, nesses últimos anos, tiveram que passar pela mesma dor, de
tirar o filho da escola particular e ter que colocá-lo em uma escola pública.
Mas o que mais emociona é a vontade que o menino demonstra em querer
ajudar a família e a sua comunidade. Ele então volta escondido para a
biblioteca de antiga escola e abre um livro que ensinava como construir uma
bobina eólica. A partir daí, ele entra em um universo totalmente novo e prova
que com dedicação e curiosidade a nossa mente pode ir longe e realizar grandes
coisas!
Seu pai Trywell (Chiwetel Ejiofor), tinha uma bicicleta velha, e ele a
usou para construir a tal bobina eólica que, em seguida, salvaria a sua aldeia
da fome.
O filme retrata a miséria de um povo comandado por um líder político
populista e ditador que os mantém escravos da pobreza e são controlados de
forma violenta a cada contrariedade. O filme é tão atual, e revela uma
realidade vivida por muitos países que enfrentam a ditadura hoje em dia. Vide o que vem acontecendo na Venezuela, com Maduro.
As cenas demonstram total descaso do governo em relação a população que
enfrenta todos os tipos de dificuldades, com escassez de produtos básicos para
a sobrevivência e um sofrimento descomunal.
O vilarejo de Malawi, parece um local que enfrentou uma guerra,
devastado e triste. A história se passar em 2000, e é baseada em fatos reais. O
pequeno William Kamkwamba realmente existe e é essa realidade nua e crua que
nos emociona. A fome de saber do menino e a sua inteligência nos leva a pensar
quantos “willians” podem estar, nesse exato momento, perdidos, pobres,
impossibilitados de estudar, mesmo tendo tanto a contribuir com a sua
comunidade.
A trama passa uma mensagem muito profunda sobre a importância dos livros
e do estudo para o crescimento de uma nação. E mostra como os governos
ditadores fazem para controlar o povo os mantendo longe do conhecimento e
ignorantes.
Tantos ensinamentos podemos tirar desse filme! Que vão muito além da
meritocracia que ele aborda.
O menino se entristece com a falta de luz que o impede de estudar a
noite, e tantos por aqui possuem luz e também preguiça de estudar… Mas o que
mais me prendeu na história, não foi a meritocracia, foi pensar que, como
William, muitos meninos e meninas querem estudar, muitos possuem capacidade
para fazer grandes melhorias e transformações nas vidas de seu povo, mas são
impedidos, por governantes impiedosos e cruéis, que minam as suas chances,
restringindo a possibilidade de desenvolvimento intelectual desses.
Muitos, que acreditam na meritocracia vão dizer: Mas olha o exemplo do
William, quem quer, vai lá e faz, não importa a dificuldade. Exemplos como do William
são bonitos e tristes ao mesmo tempo, afinal, nenhuma criança deveria ter que
passar pelo que William passou, começa aí a injustiça. E não tem conversa sobre
isso. Ao invés de ficar levantando bandeira para meritocracia deveriam levantar
e lutar para que crianças tenham as melhores condições de se desenvolverem
intelectualmente e fisicamente, pois não é só de escola que se vive, comida e
saúde também são essenciais.
Eu me pergunto: Até quando deixaremos essas mentes doentias comandarem
nações inteiras e destruírem o sonho de tantas famílias e de tantas crianças
como William?
A pobreza de espírito de muitos de nós, alimentam esses ditadores que se
empoderam e dominam todos os espaços que acabamos deixando vazios. E deixamos,
muitas vezes, por preguiça, por falta de compaixão, por falta de sendo de
comunidade. E isso tudo, sobra em William, pois ele não quer conseguir uma
melhoria apenas para sua família, ele quer conseguir para toda a sua
comunidade. E ele mostra isso a todo momento, e se alegra em pensar que o que
ele está fazendo poderá salvar o seu povo da fome.
A inversão de papeis de quem ensina quem, mostrada no filho é de encher
o coração. O pai aprende que não é por ser pai que sabe mais do que o filho, em
uma cena emocionante, o filho diz ao pai “EU sei coisas que você não sabe”, e o
pai fica em silêncio, porque o menino tem razão. Muitas vezes, não escutamos
nossos filhos, pois no alto da nossa arrogância e prepotência, achamos que uma
criança não pode saber mais do que a gente. Mas estamos enganados! Muito
enganados!
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