Por
Luiza Drubscky,
Supervisora
de Marketing na Rock Content.
Você
já deve ler muitos artigos sobre o assunto. Por isso, que tal aprender com uma
filmografia incrível sobre a Língua Portuguesa?
O cinema é uma excelente fonte de entretenimento e autoconhecimento.
Inclusive, os filmes também têm muito a ensinar sobre os mais variados
assuntos, concorda?
Portanto, que tal utilizá-los como ferramenta para entender mais a fundo
a Língua Portuguesa? Com certeza, você vai aprender muito enquanto se diverte!
Há diversas produções, dos mais diferentes gêneros e épocas, cujas
propostas estão intrinsecamente conectadas a nosso idioma materno.
Assisti-los representa um verdadeiro mergulho no Português, seja
enquanto idioma ou quanto língua original de obras fascinantes de literatura.
Quer embarcar nessa? Então, continue a leitura!
1. Os Inconfidentes (1972)
Lançado por Joaquim Pedro de Andrade, Os Inconfidentes é uma co-produção
entre Brasil e Itália que narra a história da Inconfidência Mineira. Um grupo
de intelectuais e membros da alta elite brasileira se juntam para libertar o
país da opressão portuguesa.
De todos, Tirandentes (José Wilker) é aquele que está disposto a ir até
o fim, custe o que custar. O filme foi baseado nos livros Os Autos da Devassa e
Romanceiro da Inconfidência. Apresenta a reconstrução do período e influenciou
diversas produções literárias.
Além de ilustrar um importante momento da história brasileira, a obra
também é interessante por contar acontecimentos políticos que influenciaram
fortemente o trabalho de autores como Santa Rita Durão, Tomás Antônio Gonzaga e
Basílio da Gama.
Além disso, vale a pena conferir o roteiro de Cecília Meireles, Eduardo
Escorel e do próprio Joaquim Pedro de Andrade!
2. Dona flor e seus dois
maridos (1976)
A obra de Bruno Barreto é uma adaptação do livro homônimo de Jorge
Amado. Dona Flor (Sônia Braga) fica viúva de Vadinho (José Wilker), um
verdadeiro malandro. Então, ela resolve se casar com o farmacêutico Teodoro
Madureira (Mauro Mendonça).
Acontece que, de repente, ela se sente entediada e passa a chamar pelo
antigo marido. Vadinho aparece do além e, assim, Dona Flor começa um
relacionamento à três. Os traços da oralidade de Jorge Amado estão muito
presentes na película dentro de uma linguagem bem regional.
Não é à toa que ele sempre foi conhecido por manter uma afinidade com a
figura popular e levar essa marca para a literatura.
Em 2017, o filme ganhou nova versão com a atuação de Juliana Paes como
Dona Flor, Marcelo Faria como Vadinho e Lenadro Hassum como Teodoro.
3. Sociedade dos poetas mortos
(1990)
John Keating (Robin Williams) é o novo professor de inglês do
tradicional internato no qual foi um aluno brilhante. O ensino é rígido como
uma academia militar e, por esse motivo, muitos veem a didática dele como
reacionária.
Tudo pelo fato de que Keating é do tipo que entra na sala assoviando,
diverte os alunos, pratica aulas ao ar livre, incentiva a criação de poesias
espontâneas e estimula a vontade de viver intensamente.
Em uma das aulas, ele pede que os alunos rasguem algumas páginas do
livro para que possam pensar por si mesmos. No início, todos relutam. Com o
tempo, o grupo começa a gostar de literatura e a sensação de viver a poesia.
Então, certo dia um deles descobre que o professor foi membro da
Sociedade dos Poetas Mortos e pede mais informações sobre essa formação. John
hesita, mas fala da época em que ele e os colegas costumavam se reunir para
estudar poesia em um local secreto.
Isso foi o bastante para que todos quisessem reativar o movimento e
deixar as inspirações fluírem. Ao mesmo tempo, os estudantes tiveram que lidar
com as adversidades do mundo real.
4. Carlota Joaquina, Princesa
do Brasil (1995)
O filme de Carla Camurati é um marco na história do cinema brasileiro.
Participou de mais de 40 festivais ao redor do mundo e levou mais de 1,5 milhão
de espectadores aos cinemas em 1995.
Com um orçamento modesto para a época, de 600 mil reais, Carlota
Joaquina, Princesa do Brasil é estrelado por Marieta Severo e Marco Nanini.
Trata-se de uma obra histórica, mas com um pesado tom satírico, que
mostra a vinda da corte portuguesa para o Brasil através do ponto de vista de
Carlota Joaquina, a princesa espanhola que foi prometida em casamento a D. João
VI quando era uma garota de apenas dez anos de idade. Assim, ela cresceu e
construiu seu lugar na então colônia portuguesa.
5. Central do Brasil (1998)
Uma das obras brasileiras que ficaram famosas no exterior por conta da
indicação ao Oscar, Central do Brasil mostra a vida simples de Dora (Fernanda
Montenegro). Ela é uma ex-professora de português que escreve cartas para as
pessoas que não sabem ler nem escrever.
O cenário é a Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Certo dia, Dora
recebe uma senhora que deseja se comunicar com o marido por escrito. O motivo é
que seu filho quer conhecê-lo. Segundos depois de fechar o envelope, a mulher
morre atropelada e Dora se sente obrigada a levar o garoto até o pai.
Do ponto de vista da Língua Portuguesa, é interessante observar as
partes em que a escritora monta a narrativa das cartas. Além disso, cada pessoa
tem um tipo de linguagem: a maioria não teve a oportunidade de frequentar uma
escola. Então, vemos vários tipos de expressões tipicamente brasileiras.
6. Auto da Compadecida (2000)
A peça Auto da Compadecida não podia ficar de fora dessa lista. A obra
foi escrita por Ariano Suassuna e transformada em uma série que foi transmitida
na Globo em janeiro de 1998. O sucesso foi tão grande que o diretor Guel Arraes
adaptou para filme em 2000.
A história acontece no interior da Paraíba, conhecida como a “Roliúde Nordestina”.
Chicó (Matheus Nachtergaele) e João Grilo (Selton Melo) conseguem um emprego na
padaria da cidade.
Quando a cadela do padeiro passa mal, os dois tentam convencer o padre a
benzê-la, mas sem sucesso. Depois de fazer uma enorme confusão com a morte do
animal, João resolve vender um gato afirmando que ele “descomia” dinheiro. Ou
seja, saia dinheiro pela boca.
Ambos também enganam Severino, um cangaceiro perigoso. Eles pedem que
ele sopre uma gaita mágica para visitar seu padrinho Padre Cícero, com a
garantia de voltar à vida depois.
É evidente o cunho de sátira por meio das características das
personagens, assim como a presença marcante dos neologismos mais criativos. A
história trabalha o tema religioso da moral católica totalmente focada no
contexto nordestino.
7. Memórias Póstumas (2001)
Memórias Póstuma de Brás Cubas, a obra-prima de Machado de Assis, deu
origem ao realismo brasileiro em 1881. Mais de um século depois, André Klotzel
lança a adaptação para os cinemas, intitulada apenas Memórias Póstumas e
estrelada por Reginaldo Faria, Sônia Braga e Marcos Caruso.
O roteiro, assinado por Klotzel ao lado de José Roberto Torero, conta
com frases retiradas diretamente do livro, mas com algumas peculiaridades
próprias que buscam aproximar o filme ainda mais de sua fonte de inspiração.
Portanto, trata-se de uma produção repleta de ironias e de comicidades. Você
vai se divertir enquanto se delicia com esse novo olhar sobre uma das maiores
obras da literatura brasileira.
8. Caramuru: A Invenção do
Brasil (2001)
Dirigido por Guel Arraes e escrito por ele ao lado de Jorge Furtado,
Caramuru: A Invenção do Brasil é baseado no livro homônimo de Santa Rita Durão,
que faz parte do arcadismo.
Mas, apesar de contar acontecimentos históricos, o filme investe em uma
forte pegada cômica que narra os conflitos entre portugueses e índios de uma
forma irreverente.
O jovem Diogo Álvares (Selton Mello) é um talentoso pintor português
cujo estilo busca realçar a beleza da realidade. Ele é contratado pelo
cartógrafo do rei para ilustrar os mapas que guiariam Pedro Álvares Cabral em
suas viagens marítimas.
Entretanto, Diogo envolve-se com Isabelle (Débora Bloch), uma sedutora
francesa que frequenta a Corte portuguesa e que rouba o mapa do artista.
Ele, então, é deportado para o Brasil, onde conhece as irmãs índias
Paraguaçu (Camila Pitanga) e Moema (Deborah Secco). É o início do primeiro
triângulo amoroso da história do país.
9. Poeta de Sete Faces (2002)
O documentário conta a história de Carlos Drummond de Andrade desde os
primeiros anos de vida, a mudança para o Rio de Janeiro até o ápice da
carreira, ou seja, é imperdível!
Além de apresentar a trajetória de vida do poeta mineiro, o diretor
Paulo Thiago disseca as diversas fases de toda a produção literária de um dos
maiores gênios do nosso país. Para tanto, o filme é dividido em três partes,
acompanhando cada momento de sua vida e carreira.
Assim, o Poeta de Sete Faces registra desde o nascimento de Drummond, na
pequena Itabira, em Minas Gerais, até a sua mudança para o Rio de Janeiro, a
publicação de seus primeiros livros, sua relação com o modernismo brasileiro de
1922 e o surgimento de seus versos metafóricos e irônicos.
Além disso, é claro, a atuação de Andrade na política e seu uso da
literatura como ferramenta de crítica social não ficam de fora.
Para encerrar, o cineasta também explora os prêmios recebidos e a glória
alcançada por Drummond, assim como o legado deixado por sua obra na forma de
adaptações, memórias e estudos.
10. Dom (2003)
Em Dom, o diretor e roteirista Moacyr Góes presenteia o espectador com
uma forma totalmente nova de se relacionar com outra obra-prima da nossa literatura,
também de autoria de Machado de Assis.
No filme acompanhamos Bento (Marcos Palmeira), filho de um casal
apreciador de Machado e que decide dar ao filho o nome do protagonista de Dom
Casmurro. Isso faz com que o garoto cresça sob a sombra do autor carioca,
levando-o a tentar incorporar características da personalidade e elementos da
vida do personagem em sua própria existência.
A essência do filme encontra-se no romance nascido do reencontro de
Bento com sua melhor amiga de infância, Ana Clara — que ele insistia em chamar
de Capitu.
11. Língua — Vidas em
Português (2004)
Co-produção entre Brasil e Portugal, o documentário Língua — Vidas em
Português conta a história desse idioma que embala as vidas de mais de duzentas
milhões de pessoas ao redor do mundo.
Poemas escritos, paixões declaradas, desavenças reveladas, segredos
descobertos, músicas compostas, piadas declamadas… A Língua Portuguesa
acompanha o cotidiano de pessoas no Brasil, em Portugal, em Cabo Verde, no
Japão, na França, na Índia, nos Estados Unidos, Moçambique, Angola, entre
tantos outros lugares.
Não somente como língua oficial, o Português foi uma língua amplamente
difundida pelo mundo durante as Grandes Navegações.
Como resultado, muitos falantes nativos do português fizeram de outros
países o seu novo lar.
Para retratar tudo isso, além de personagens anônimos, o documentário
também conta com a participação especial de José Saramago, João Ubaldo,
Martinho da Vila, Mia Couto e Teresa Salgueiro para trazer um embasamento mais
aprofundado compartilhado por pessoas que fizeram da convivência com a Língua
Portuguesa o seu modo de viver.
Língua — Vidas em Português mostra nosso idioma falado em vários cantos
do mundo, permitindo que conheçamos as peculiaridades de cada grupo de falantes
e as formas com que o idioma se adapta e evolui.
12. Narradores de Javé (2004)
O filme foi rodado no interior da Bahia, na cidade de Gameleiro da Lapa.
Conta a história de uma localidade chamada Javé. Tudo está prestes a ser
totalmente destruído por conta de uma autorização para a construção de uma
usina hidrelétrica.
Os habitantes procuram uma solução para o problema e decidem se unir
para escrever a história do vilarejo, já que não havia nenhum registro que
comprovasse a existência daquele lugar.
Acontece que a maioria dos habitantes é analfabeta. O personagem de
Antônio Biá, vivido por José Dumont, recebe a importante missão de colocar o
plano em prática. Afinal, é o único que sabe ler.
Então, ele bate na porta de cada morador para coletar as informações
necessárias. Durante as entrevistas, é possível perceber as características
daquela comunidade, cultura, costumes e a identidade marcante de um grupo
social. Uma boa dica para quem deseja se aprofundar na construção da língua.
13. Dentro da casa (2013)
Germain (Fabrice Luchini) é um professor de literatura que sente uma
enorme frustração pela mediocridade dos alunos. Ele se surpreende com a redação
de Claude (Ernest Umhauer), texto que relata os problemas pessoais de um colega
de sala.
Ao mesmo tempo em que aprende literatura, o aluno escreve a sequência de
uma verdadeira obra que ganha descrições poéticas sob o seu olhar. O grande
dilema do filme é essa reflexão sobre o certo e o errado: o professor deve
incentivar a liberdade criativa do garoto ou censurá-lo?
A história preza muito mais pelas palavras que pelas formas. O
comportamento do professor mostra o tamanho da influência da ficção também na
visão de espectador. Acontece que consequências reais são ignoradas em nome de
uma boa história. Qual o limite da escrita? Ela deveria ter um? Muitas
perguntas pairam no ar.
Viu como é bom mergulhar no fascinante mundo da Língua Portuguesa por
meio desses filmes? Só em ler a sinopse já bate uma vontade de assistir!
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