Texto
Prof Marcos L Souza – Pedagogo – Psicopedagogo – Historiador – Escritor e
Pesquisador.
Emilia Beatriz María Ferreiro
Schavi (Buenos Aires, 1936) Psicóloga e pedagoga argentina, radicada no
México, doutora pela Universidade de Genebra, sob a orientação de Jean Piaget.
As mais conhecidas formas tradicionais de alfabetização consistem em
métodos nos quais o professor é o mediador e facilitador transmitindo seus
conhecimentos aos seus alunos. Porém, muitos desses professores não estão
capacitados para compreender algumas dificuldades que a criança enfrenta antes
de entender o verdadeiro sentido da leitura e escrita.
Na aprendizagem inicial as práticas utilizadas são, muitas vezes,
baseadas na junção de silabas simples, com a utilização da fonética e dos sons
para a formação das palavras. A grosso modo a criança é um mero espectador
passivo ou receptor mecânico, pois não é estimulado a participar no processo de
construção do conhecimento.
Para Ferreiro (1996) a leitura e escrita são sistemas construídos
paulatinamente. As primeiras escritas feitas pelos educandos no início da
aprendizagem devem ser consideradas como produções de grande valor, porque de
alguma forma é considerada uma interpretação em conjunto com o esforço merecido
para atingir certo objetivo.
Emilia Ferreiro realizou diversos estudos acerca do processo de
alfabetização da criança, a autora explica os processos e formas mediante as
quais a criança chega a ler e escrever.
DESENVOLVIMENTO:
Segundo Ferreiro (1996, p.24) “O desenvolvimento da alfabetização ocorre,
sem dúvida, em um ambiente social (Teoria de Vygotsky). Mas as práticas sociais
assim como as informações sociais, não são recebidas passivamente pelas
crianças.”. Atualmente, muitos professores ainda definem erroneamente o
processo de alfabetização como sinônimo de uma técnica. De acordo com suas
experiências com crianças, Ferreiro (1999, p.44-7), esquematiza algumas
propostas fundamentais sobre o processo de alfabetização inicial. – Restituir a
língua escrita seu caráter de objeto social; – Desde o início (inclusive na
pré-escola) se aceita que todos na escola podem produzir e interpretar
escritas, cada qual em seu nível; – Permite-se e estimula-se que a criança
tenha interação com a língua escrita, nos mais variados contextos; – Permite-se
o acesso o quanto antes possível à escrita do nome próprio; – Não se
supervaloriza a criança, supondo que de imediato compreendera a relação entre a
escrita e a linguagem.
Em detrimento ao estímulo a escrita e a alfabetização, o educador deve
relevar a correção à primeira vista sobre o contexto específico ligado a
correção imediata dos erros encontrados na escrita que a criança produz.
Entretanto no processo de alfabetização inicial, nem sempre esses
critérios são obedecidos. Sabemos que os professores ensinam da mesma maneira
como aprenderam quando eram alunos (Isomorfismo), e não aceitam os erros que
seus alunos cometem. Ferreiro (1999, p.47) afirma que “a alfabetização não é um
estado ao qual se chega, mas um processo cujo início é na maioria dos casos
anterior a escola, ou seja, a criança começa a ser alfabetizada no ambiente
familiar e no convívio social, comunitário, e não termina ao finalizar a escola
primária”.
A autora defende que, de todos os grupos populacionais as crianças são
as mais facilmente alfabetizáveis e estão em processo continuo de aprendizagem,
enquanto que os adultos já fixaram formas de ação e de conhecimento mais
difíceis de modificar, porque estão acostumados a interpretar os sons das
palavras e identificar a grafia de forma errada. Ressalta ainda que: Há
crianças que chegam à escola sabendo que a escrita serve para escrever coisas
inteligentes, divertidas ou importantes. Essas são as que terminam de
alfabetizar-se na escola, mas começaram a alfabetizar muito antes, através da
possibilidade de entrar em contato, de interagir com a língua escrita. Há
outras crianças que necessitam da escola para apropriar-se da escrita e se
desenvolver de acordo com a sua capacidade cognitiva. (Ferreiro, 1999, p.23)
Goodman (1980 Apud Ferreiro & Palácio, 1987, p.86). Cita alguns
princípios que as crianças descobrem e aprendem a controlar à medida que
desenvolvem um sistema de escrita: – Os princípios funcionais desenvolvem-se à
medida que a criança soluciona o problema de como escrever e para que escrever.
A significação que a escrita tenha em seu dia a dia terá consequências
no desenvolvimento desses princípios e as funções especificas dependerão da
necessidade que a criança sentirá da linguagem escrita, ou seja, interpretar de
forma correta os sons e identificar a grafia na linguagem manuscrita.
Os princípios linguísticos desenvolvem-se à medida que a criança
consegue identificar de que forma e como a linguagem escrita está elaborada
para extrair significados na cultura. Nessas formas estão incluídas as regras
ortográficas, grafo fônicas, sintáticas, semânticas e pragmáticas de linguagem
escrita. – Os princípios relacionais desenvolvem-se à medida em que a criança
resolve o problema de como a linguagem escrita chega passa a ter significado.
Assim a criança passa a compreender como a linguagem escrita representa as
ideias e os conceitos que as pessoas, os objetos no mundo real juntamente com
linguagem oral possuem em uma determinada cultura.
De acordo com Ferreiro (2000, p.29), tradicionalmente, as decisões a
respeito da pratica alfabetizadora tem-se centrado na polemica sobre os métodos
utilizados. Métodos analíticos contra os métodos sintéticos, fonéticos, contra
global, entre vários outros. A metodologia normalmente utilizada pelos
professores parte daquilo que é mais simples, passando para os mais complexos.
Para Ferreiro & Teberosky (1985, p.18) a preocupação dos educadores tem-se
voltado para a busca do melhor ou do mais eficaz dos métodos, levando a uma
polemica entre dois tipos fundamentais; método sintético e método analítico.
Método Sintético
O método sintético preserva a correspondência entre o oral e o escrito,
entre som e a grafia. O que se destaca neste método é o processo que consiste
em partir das partes do todo, sendo letras os elementos mínimos da escrita.
Parte do estudo da divisão das sílabas para a formação da palavra completa.
Método Analítico
O método analítico insiste no reconhecimento global das palavras ou
orações; a análise dos componentes se faz posteriormente (Ferreiro &
Teberosky, 1985, p.19).
O que seria correto, na concepção de Ferreiro, seria se interrogar,
“através de que tipo de prática a criança é introduzida na linguagem escrita, e
como se apresenta esse objeto no contexto escolar” (2000, p.30).
Existem práticas que levam a criança às convicções de que o conhecimento
é algo que os outros possuem e que só se pode adquirir da boca destes,
deixando, assim, de ser participante da construção, induzindo a criança a não
querer participar de sua própria construção de conhecimentos. Algumas práticas
levam a pensar que aquilo que existe para conhecer já foi estabelecido, como um
conjunto de coisas que não podem se modificar. Há por fim, práticas que levam o
sujeito (a criança neste caso) fique sem participar do conhecimento, exercendo
o papel de espectador ou receptor somente, daquilo que o professor ensina.
Ferreiro afirma que “nenhuma pratica pedagógica é neutra. Todas estão
apoiadas em certo modo de conceber o processo de aprendizagem e o objeto dessa
aprendizagem” (2000, p.31). O professor não pode, então, se tornar um prisioneiro
de suas próprias convicções; as de um adulto já alfabetizado. Para ser eficaz
“deverá adaptar seu ponto de vista ao da criança. Uma tarefa que não é nada
fácil” (Ferreiro, 2000, p.61).
A escrita pode ser considerada como uma representação da linguagem ou
como um código de transcrição gráfica das unidades sonoras. A diferença
essencial é a seguinte: no caso da codificação, tanto os elementos como as
relações já estão predeterminados. No caso da criação de uma representação, nem
todos os elementos, nem as relações estão determinadas.
A invenção da escrita foi um processo histórico de construção de um
sistema de representação de símbolos sonoros, não um processo de codificação.
No caso dos dois sistemas envolvidos no início da escolarização (o sistema de
representação dos números e o sistema de representação da linguagem), as
dificuldades que as crianças enfrentam soa dificuldades conceituais semelhantes
às da construção do sistema e por isso podem-se dizer, em ambos os casos, que a
criança reinventa esse sistema.
Pode-se entender que as escritas alfabéticas (tanto que as escritas
silábicas) são caracterizadas como sistema de representação cujo intuito
original e primordial é representar as diferenças entre os significantes, ao
contrário das escritas de tipo ideográfico que poderiam ser caracterizadas como
sistemas de representação cuja intenção primeira ou primordial é representar
diferenças nos significados. Ao concebermos a escrita como um código de
transcrição que converte as unidades sonoras em unidades gráficas coloca-se em
primeiro plano a discriminação perceptiva nas modalidades envolvidas (visual e
auditiva).
Mas se concebe a aprendizagem da língua escrita como a compreensão do
modo de construção de um sistema de representação. Embora se saiba falar
adequadamente, e se façam todas as discriminações perceptivas aparentemente
necessárias, isso não resolve o problema central: compreender a natureza desse
sistema de representação. A consequência trágica desta dicotomia se exprime em
termos ainda mais dramáticos; se a escrita é concebida como um código de
transcrição, sua aprendizagem é concebida como a aquisição de uma técnica; se a
escrita é considerada como um sistema de representação, sua aprendizagem se
converte na apropriação de um novo objeto de conhecimento, ou seja, em uma
aprendizagem conceitual (FERREIRO & TEBEROSKY, 1985)
Para Ferreiro, é necessário que o professor considere as escritas do
ponto de vista construtivo, respeitando a representatividade e a evolução de
cada criança, é preciso que haja uma reestruturação interna na escola com
relação à alfabetização e também no que se refere às formas de alfabetizar caso
haja necessidade de tal atitude frente a construir um modelo de alfabetizar
eficaz, sempre levando em conta os aspectos sociais, comunitários, culturais
etc.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FERREIRO, Emilia. Alfabetização
em Processo. São Paulo: Cortez, 1996. 144p. FERREIRO, Emilia. Com Todas as Letras. São Paulo: Cortez,
1999. 102p v.2. FERREIRO, Emilia; Teberosk, Ana. A Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Medicas 1985.
284p. FERREIRO, Emilia. Reflexões Sobre Alfabetização. São Paulo: Cortez, 2000.
104p.
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