NUNCA TIVEMOS
UMA GERAÇÃO TÃO TRISTE
Escrito por Liliane Prata
Augusto Cury, o famoso psiquiatra que tem livros publicados em mais de
70 países e dá palestras para multidões no Brasil e lá fora, lançou
recentemente uma versão para crianças e adolescentes do seu best-seller Ansiedade – Como Enfrentar o
Mal do Século. O autor conversou com jornalistas do site “MdeMulher” sobre os
desafios de se criar os filhos hoje e não poupou críticas à maneira como a
família e a escola têm educado os pequenos.
Excesso de estímulos
“Estamos assistindo ao assassinato coletivo da infância das crianças e
da juventude dos adolescentes no mundo todo. Nós alteramos o ritmo de
construção dos pensamentos por meio do excesso de estímulos, sejam presentes a
todo momento, seja acesso ilimitado a smartphones, redes sociais, jogos de
videogame ou excesso de TV. Eles estão perdendo as habilidades socioemocionais
mais importantes: se colocar no lugar do outro, pensar antes de agir, expor e
não impor as ideias, aprender a arte de agradecer. É preciso ensiná-los a
proteger a emoção para que fiquem livres de transtornos psíquicos. Eles
necessitam gerenciar os pensamentos para
prevenir a ansiedade. Ter consciência crítica e desenvolver a concentração.
Aprender a não agir pela reação, no esquema ‘bateu, levou’, e a desenvolver
altruísmo e generosidade.”
Geração triste
“Nunca tivemos uma geração tão triste, tão depressiva. Precisamos
ensinar nossas crianças a fazerem pausas e contemplar o belo. Essa geração
precisa de muito para sentir prazer: viciamos nossos filhos e alunos a receber
muitos estímulos para sentir migalhas de prazer. O resultado: são intolerantes
e superficiais. O índice de suicídio tem aumentado. A família precisa se
lembrar de que o consumo não faz ninguém feliz. Suplico aos pais: os
adolescentes precisam ser estimulados a se aventurar, a ter contato com a
natureza, se encantar com astronomia, com os estímulos lentos, estáveis e
profundos da natureza que não são rápidos como as redes sociais.”
Dor compartilhada
“É fundamental que as crianças aprendam a elaborar as experiências. Por
exemplo, diante de uma perda ou dificuldade, é necessário que tenham uma
assimilação profunda do que houve e aprender com aquilo. Como ajudá-las nesse
processo? Os pais precisam falar de suas lágrimas, suas dificuldades, seus
fracassos. Em vez disso, pai e mãe deixam os filhos no tablet, no smartphone, e
os colocam em escolas de tempo integral. Pais que só dão produtos para os seus
filhos, mas são incapazes de transmitir sua história, transformam seres humanos
em consumidores. É preciso sentar e conversar: ‘Filho, eu também fracassei,
também passei por dores, também fui rejeitado. Houve momentos em que chorei’.
Quando os pais cruzam seu mundo com os dos filhos, formam-se arquivos saudáveis
poderosos em sua mente, que eu chamo de janelas light: memórias capazes de
levar crianças e adolescentes a trabalhar dores perdas e frustrações.”
Intimidade
“Pais que não cruzam seu mundo com o dos filhos e só atuam como manuais
de regras estão aptos a lidar com máquinas. É preciso criar uma intimidade real
com os pequenos, uma empatia verdadeira. A família não pode só criticar
comportamentos, apontar falhas. A emoção deve ser transmitida na relação. Os
pais devem ser os melhores brinquedos dos seus filhos. A nutrição emocional é
importante mesmo que não se tenha tempo, o tempo precisa ser qualitativo.
Quinze minutos na semana podem valer por um ano. Pais têm que ser mestres da
vida dos filhos. As escolas também precisam mudar. São muito cartesianas,
ensinam raciocínio e pensamento lógico, mas se esquecem das habilidades socioemocionais.”
Mais brincadeira, menos
informação
“Criança tem que ter infância. Precisa brincar, e não ficar com uma
agenda pré-estabelecida o tempo todo, com aulas variadas. É importante que
criem brincadeiras, desenvolvendo a criatividade. Hoje, uma criança de sete
anos tem mais informação do que um imperador romano. São informações
desacompanhadas de conhecimento. Os pais podem e devem impor limites ao tempo
que os filhos passam em frente às telas. Sugiro duas horas por dia. Se você não
colocar limite, eles vão desenvolver uma emoção viciante, precisando de cada
vez mais para sentir cada vez menos: vão deixar de refletir, se interiorizar,
brincar e contemplar o belo.”
Parabéns!
“Em vez de apontar falhas, os pais devem promover os acertos. Todos os
dias, filhos e alunos têm pequenos acertos e atitudes inteligentes. Pais que só
criticam e educadores que só constrangem provocam timidez, insegurança,
dificuldade em empreender. Os educadores precisam ser carismáticos, promover os
seus educandos. Assim, o filho e o aluno vão ter o prazer de receber o elogio.
Isso não tem ocorrido. O ser humano tem apontado comportamentos errados e não
promovido características saudáveis.”
Conselho final para os pais
“Vejo pais que reclamam de tudo e de todos, não sabem ouvir não, não
sabem trabalhar as perdas. São adultos, mas com idade emocional não
desenvolvida. Para atuar como verdadeiros mestres, pai e mãe precisam estar
equilibrados emocionalmente. Devem desligar o celular no fim de semana e ser
pais. Muitos são viciados em smartphones, não conseguem se desconectar. Como vão
ensinar os seus filhos e fazer pausas e contemplar a vida? Se os adultos têm o
que eu chamo de síndrome do pensamento acelerado, que é viver sem conseguir
aquietar e mente, como vão ajudar seus filhos a diminuírem a ansiedade?”
Nenhum comentário:
Postar um comentário