Acredito que, de todos os enfrentamentos por que uma
pessoa passa, nesse período, a depressão vem a ser o mais difícil deles, por
conta da incompreensão.
Nesses momentos, tenho a sensação de que surgem
pessoas com aquela necessidade incrível de rotular quem está passando por um
momento de luta, no caso, a depressão. Quando eu passei por essa fase, escutei
o discurso cansado de que eu precisava ocupar a minha cabeça; também ouvi o tal
“isso aí é falta de fé” e que, de
certa forma, eu não estava confiando em Deus. Outras vezes, ouvia que eu não
estava me ajudando e que “ah, você
precisa se levantar dessa cama”, como se isso fosse tão simples.
Quantas e quantas vezes escutei falas que mais me
afundaram do que propriamente me ajudaram. Eu já estava me amando de menos e
todas essas frases, em tom de “ajuda”,
na verdade faziam com que eu me achasse ainda mais o problema, afinal, tudo era
tão simples aos olhos dos outros, mas tão doloroso e complicado aos meus olhos.
Então, eu chegava à conclusão de que o problema estava comigo.
Cansei-me de tanto escutar a frase: “Existem pessoas em condições tão piores que
a sua e você aí, com problemas pequenos e se entregando por tão pouco.”
Claro, isso certamente me ajudou bastante (ironia). A verdade é que ninguém
entendia o quanto era difícil sair do meu quarto, o quanto eu queria dormir
para aliviar aquela dor e ver o tempo passar depressa. Aliás, eu sentia que o
tempo não passava e a angústia fazia cada vez mais morada em mim.
E, embora isso tudo tenha acontecido um bom tempo
atrás, é triste ver que esses discursos permeiam ainda os dias de hoje. Até
quando as pessoas vão acreditar que ir ao psicólogo é coisa de louco? Sabe, eu
tenho visto muita gente deixando de procurar ajuda por vergonha, por achar que
quem precisa de um psicólogo é realmente louco – ideia totalmente errônea. Mas,
que atire a primeira pedra quem não tem nada a melhorar, quem não tem
angústias, conflitos e quem não precisa de mudança. Todos nós precisamos, o erro
está em procurar ajuda apenas quando adoecemos.
Então, eu percebo que se fala tanto em depressão, mas
pouco em empatia. Damos muita atenção às doenças do corpo, mas nos esquecemos
da alma e da mente, como se não ter disposição para ir ao trabalho por conta da
depressão fosse de fato encarado como preguiça. Não se leva em conta as noites
sem dormir por conta da insônia, ou o excesso de sono causado pelos remédios,
ou até mesmo a falta de energia.
De uma vez por todas, que fique bem claro que
depressão não é frescura, depressão não é preguiça, não é desculpa, não é falta
de fé e não tem nada a ver com religiosidade. Depressão é luta.
Por isso, eu partilho da ideia de que o mal do século
não é a depressão, mas a falta de empatia. É a incompreensão de pessoas que
soltam suas falas que mais doem do que curam, que mais machucam do que saram,
que mais pesam do que aliviam, que mais empurram para o buraco do que ajudam
alguém a sair dele. Afinal, incompreensão também mata.
Fonte: Site Papo Reto Live
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