Alessandra
Piassarollo
A máxima bíblica “não julgueis
para não serdes julgados” parece não encontrar o seu lugar. Tampouco, o
corre-corre da vida moderna é capaz de evitar esse desperdício de tempo. Ele
ainda é gasto com a feia mania de falar da vida alheia e repreender as escolhas
e caminhos dos outros como se fossem propriedade pública e disponível.
Chico Xavier revelou ter aprendido a importância e a beleza de não
julgar, dizendo: “Uma das mais belas
lições que tenho aprendido com o sofrimento: Não julgar, definitivamente não
julgar a quem quer que seja.”
Acontece que o julgamento costuma ser atrelado à maledicência, ao saber
tudo sobre todos, e isso é uma inverdade absoluta. Mesmo acompanhando uma
pessoa de perto, convivendo com bastante proximidade, não é possível conhecer
todos os desejos, motivos e motivações do coração de alguém.
“O coração dos outros é terra
onde ninguém vai”, assegura um ditado antigo. E é exatamente disso que
se trata. Ninguém sabe o suficiente sobre alguém, a ponto de ter poder ou
conhecimento de causa para julgá-lo. É impossível conhecer todas as verdades
contidas dentro do coração de uma pessoa. Da mesma forma, não é dada a ninguém
a capacidade de compreender todas as emoções e sentimentos que essa pessoa já
viveu; todas as dores, incertezas e angústias que ela já experimentou. Isso é
motivo claro e suficiente para afirmar que ninguém deve julgar ninguém por atos
ou escolhas que tenham sido adotados.
De outro lado, e com base nesses mesmos argumentos, ninguém deve se
intimidar pelos dedos indicadores que lhes são apontados, se o que levar a isso
for apenas um julgamento. É sabedoria conseguir concentrar-se nos valores que
regem os atos e na consciência tranquila. Se ao terminar de um dia, eles não
acusam nem condenam, não há o que temer.
Não podemos nos tornar reféns do que pensam sobre nós. Madre Teresa de
Calcutá afirmou: “Quem julga as pessoas
não tem tempo para amá-las.” E vê-se claramente que o amor tem se tornado
cada vez mais condicional. Há amor enquanto cabemos em uma determinada medida,
somos de determinado jeito, pensamos de tal forma. Fora de certo padrão não
servimos bem, incomodamos, somos julgados. E julgados por pesos e medidas
particulares, baseados em convicções e perspectivas pouco amplas. Somos
comparados às expectativas que tinham sobre nós e quando elas não se realizam,
pronto: há um julgamento instantâneo e pouco misericordioso.
Cada pessoa tem uma história que foi feita por erros e acertos e que
merece ser respeitada. Tentar, acertar e errar faz parte da vida de cada um de
nós, julgar é que não precisa fazer. É
perfeitamente dispensável.
A isso acrescenta-se o fato de que cada sentença pode dizer mais sobre
quem a proferiu do que sobre a quem ela se refere. Renato Russo repetiria que “quem insiste em julgar os outros sempre tem
alguma coisa para esconder”. Há sempre vidro rondando nossos telhados,
afinal. E sendo assim, nenhum de nós está apto a julgar, não é mesmo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário