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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Para pensar....

Eu não queria mesmo...


Isabel Parolin

Aprender a ganhar é tão importante quanto aprender a perder. Nossas crianças, ao jogarem, quer sejam jogos de tabuleiro ou corporais, aprendem, não apenas o conteúdo do jogo em si e suas regras, mas que jogar implica em arriscar-se a ganhar ou perder. Ensinamento importante e que ajuda a amadurecer.

O mesmo se espera que as crianças aprendam ao serem torcedoras, em qualquer esporte. A competição implica em preparar-se, treinar, ajustar procedimentos e jogar para avaliar se o que se trabalhou foi o suficiente e adequado. O torcedor tem de ter claro que jogo é jogo – pode surpreender, pois inúmeros fatores interferem na competição. Nenhum jogo está ganho ou perdido, antecipadamente, e o torcedor faz um pacto nessa incerteza… E torce! E vive o resultado! Comemorar a vitória e chorar a derrota faz parte, abandonar o barco é covardia.

Entender que ganhar é resultado de um conjunto estratégias que deram certo, não significa que a pessoa é invencível e nem que aquele grupo de procedimentos dará certo em outra ocasião, em outro jogo e com outro adversário. Ou seja, quando a criança ganha, é importante ajudá-la a analisar o que foi assertivo e motivo do sucesso. Também é fundamental lembrá-la que poderia ser ela a derrotada, naquele momento.

Fui assistir um campeonato de tênis entre crianças, num clube e confesso: assustei-me com a falta de controle emocional dos pais, ao assistirem a disputa e dos filhos, ao disputarem. Uma jovenzinha, que acabara de ganhar a competição, ria destemperada da colega que estava chorando, igualmente fora da medida para o quilate do campeonato. A Jovem, animada afirmava pra mãe: “Sou o máximo né mãe?” E a mãe, igualmente efusiante, exclamava alto: “Com certeza minha filha, você vai longe!” A mãe da outra jogadora, com os olhos em lágrimas, abraçava a filha e a consolava: “Injustiça! Injustiça. Você era a melhor em jogo…”

Em outra ocasião, num campo de futebol para crianças pequenas,  os pais gritavam com os jogadorezinhos. Um deles, berrava, salientando o erro: “Presta atenção fulano! Tá dormindo na quadra? Errar estupidamente o chute desse jeito? Que vergonha…” A criança em questão, amoleceu, fisicamente e em sua têmpera, passou a errar repetidas vezes, visivelmente desfocada e desmotivada. Ao sair da quadra, o gurizinho retrucou, aos gritos: “Eu não queria mesmo!” O pai foi embora bravo e o menino, atrás dele, igualmente pisando duro.

Qual o sentido disso tudo? O que essas crianças e jovens aprendem em situações como essas?

Que pena! Claro que a menina que ganhou foi melhor que a outra, naquele jogo, naquele dia e naquela situação. É claro que a outra menina poderia superar suas dificuldades, em outro momento ou até mesmo, ao longo da partida, se o estado emocional dela fosse outro. Também é claro que aquele menino queria fazer gols e ganhar. Só que ele parou de competir antes do término, não se esforçou por que não é resiliente. Sem condições de controle emocional diante da adversidade, da dificuldade e da batalha, desiste, pois não encontra forças para se refazer e não sabe lutar. Ele só aprendeu a ganhar!  Emocionalmente abalado, perde a possibilidade de reorganizar-se. Toda disputa tem dois lados, igualmente comprometidos com o esporte. Mas é apenas, e tão somente, um esporte – uma competição!

Pais, prestem atenção no que ensinam aos seus filhos quando os levam a praticar esportes, a torcer ou quando jogam com eles. Ser resiliente é, antes de tudo, aprender a identificar a emoção, tomar contato com elas e autorregular-se, para que não se perca a competência e a possibilidade de êxito.

Analisar o que deu certo e o que deu errado, propor novos rumos, lembrar a criança que o esporte nos ensina a competir, nem sempre perdendo (espera-se) e nem sempre ganhando. Sobretudo, ensinar que esse momento é um pedaço da sua vida e que não representa toda a existência.

Por outro lado, os pais teriam de ser modelo e o esteio da criança, o porto seguro, onde eles expressam as emoções e vivem a solidariedade e o compromisso. Quando os pais são incondicionais em defesa de seus filhos, quando os protegem da repercussão do jogo, falsificam a vida para eles. Até quando conseguirão essa façanha? Qualificar a criança de modo positivo, não significa elogiá-la fora da medida, nem tão pouco xingá-la, menosprezando sua performance. Vale a pena lembrar que essas relações deixam marcas,  positivas ou negativas na autoestima, que podem ficar para sempre!

Já pensaram que mundo está sendo construindo, se os familiares ensinam às crianças que só o 1° lugar é honroso? Um mundo extremamente excludente e derrotista!

Você deseja esse mundo para seu filho?

Ensinar a jogar,  ensinar a torcer, ensinar a ganhar e ensinar a perder, sem perder-se em suas emoções e competência, desenvolvendo valores como dignidade, respeito, solidariedade e sobriedade é, imagino,  o que desejam pais educadores.

Bom trabalho!

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