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segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Ano Novo


O Réveillon transformou-se em uma das mais importantes festividades e celebrações ao longo do calendário de muitos países, apresentando raízes históricas e também culturais.


O Réveillon é a comemoração da passagem de ano do dia 31 de dezembro para o dia 01 de janeiro do ano seguinte. A palavra veio do francês e significa “despertar” ou “retomar”, em referência à nova etapa de uma vida que se inicia. Curiosamente, o termo era anteriormente empregado para nomear a noite da ceia de Natal e só posteriormente passou a designar a virada do ano.

A festa de Ano Novo já é uma tradição no Brasil e em boa parte do mundo, assumindo, em muitos casos, um caráter religioso cristão. No entanto, a origem do Réveillon é muito anterior ao cristianismo, sendo geralmente atribuída à Mesopotâmia, em 2000 a.C., em uma comemoração a algo como o “Festival de Ano Novo”. Persas, fenícios, assírios e gregos, desde tempos remotos, também realizavam as suas celebrações de passagem de ano.

Mas é claro que cada cultura e cada região comemoram a sua passagem à sua maneira e em datas específicas. Os chineses, por exemplo, marcam o seu ano novo ao final de janeiro ou no início de fevereiro, enquanto os judeus comemoram no que é, para nós, final de setembro ou início de outubro. Já para os muçulmanos a passagem de ano é celebrada no mês de maio.

No Brasil, assim como na maior parte dos países de tradição ocidental, o Réveillon é comemorado no dia 1º de janeiro. Isso resulta de uma decisão do calendário romano, por volta de 743 a.C., que foi mantida pelo calendário juliano e preservada quando a Igreja Católica adotou oficialmente o calendário gregoriano já no século XVI.

Atualmente, o mais comum durante a comemoração do Ano Novo é o show de fogos de artifício, além das inúmeras tradições que variam de um país para outro. No Brasil, por exemplo, existem várias tradições herdadas das religiões de matriz africana e afro-brasileira, tais como o candomblé e, principalmente, a umbanda.

O culto à Iemanjá com oferendas ao mar é praticado até mesmo por pessoas que não fazem parte dessas religiões, tendo uma grande receptividade junto ao público católico. Outro hábito herdado dessas religiões é o ato de vestir-se de branco, uma superstição pela promoção da paz e, na origem, um hábito para reverenciar as cores do orixá Oxalá.

Para muitos, o Réveillon é um momento de renovação, de planejar ou de colocar em prática planos antigos. Assim, são várias as simpatias e superstições para que tudo ocorra bem, como comer lentilhas, pular sete ondas (o número sete também se relaciona a religiões e crenças), entre outros inúmeros hábitos. É claro que isso tudo se trata de simbolismos, sendo, portanto, práticas de manifestação cultural que revelam as relações de identidade das pessoas em relação à sociedade e ao espaço.

Por Me. Rodolfo Alves Pena

Dicas para a Virada do Ano


1 – Use branco

Não falo da roupa. A roupa é o de menos! Use branco na alma. Não entre em disputas. Não chute cachorro morto. Entre um desaforo e uma resposta atravessada, escolha a paz.

2 – Varra a casa

Do fundo até a porta. Varra tudo! Mágoas, desgostos, rancores, amores não correspondidos. Varra! Aspire! Espane! Não deixe nem poeira. Entre limpo.

3 – Quebrou? Jogue fora

Se for a sopeira que você herdou da sua avó, conserte. Sua avó agradece. Mas em se tratando de amores, trabalhos, relações de todo tipo, amizades... Quebrou? Rachou? Avalie se vale guardar. Investir em quem não merece é desperdício de energia. Ponha a fila para andar.

4 – Louro na carteira

Dizem que garante dinheiro. Mas se preferir um moreno, não faça cerimônia! Vá em frente.

5 – Use cor amarela

A cor amarela é a cor da prosperidade. Ajuda nos caminhos do sucesso. Mas não faz milagre. Então use amarelo e trabalhe. Se esforce, estude, faça mais que o melhor possível. O melhor possível você já conseguiu até aqui.

6 – Sete ondas

Aliás, pule: ondas, desaforos, prejuízos. Se não der para pular, desvie.

7 – Use lingerie nova

Fala sério, isso não é só no primeiro dia do ano. Jogue fora aquela calçola velha, desbotada, furada, de elástico frouxo. É um corta-tesão danado. Pior que encosto. Sem maiores detalhes! Lixo com ela!

8 – Coma lentilha, uvas, romã

Olha só, coma o que quiser. E coma, principalmente, a vida! Coma com gosto! Caia de boca! Se lambuze!

9 – Não coma peru ou frango (porque ciscam para trás)

Agora vamos combinar, você gruda no passado como chiclete em cabelo, passa anos esperando o amor que já se foi, vive atrelada ao que já está desfeito? Não ponha a culpa no pobre do frango. Você cisca para trás muito mais do que ele. Caminho é em frente!

10 – Não deixe roupas viradas pelo avesso

Isso se você acreditar que avessos são ruins. Não são. Avessos são nosso lado mais verdadeiro. Nossa versão mais crua. Desvire, se não quiser ficar exposta por aí. Avessos devem ser mostrados a poucos. Apenas aos que merecem.

Algumas pessoas passam a vida viradas como tartarugas de casco para baixo. Balançam pernas e braços. Aflitas, não saem do lugar.

Um ano novo começa. Mas só vale se você se desvirar. Desvire a vida, os amores, os afetos. Arrume a alma. Faxine seu coração. Ponha a vida para andar.

Vida é renda de bilro. Teçamos o ano novo com capricho. Sem nós, sem embaraços. Nos melhores caminhos e nas mais lindas cores. Teçamos a vida que vamos vestir. No nosso número, sem apertos, sem sobras inúteis. Na plena beleza do que cada um merece e pode ter.

Dois, zero, um e nove essa é a senha para o recomeço

FELIZ Ano Novo!!

Texto: Mônica Raouf El Bayeh

domingo, 30 de dezembro de 2018

Poesia: Fim de ano



por Padre Ivo Pedro Oro

Fim de ano.

Nós passamos.

O tempo passa.

A vida se vai.

Nós nos vamos,

Como a fumaça...

Os últimos tempos,

De intensas festas,

Densamente funestas.

Para uns, de contratempos,

Para outros, indigestas.

Deram presentes,

Mas não se doaram

Nem deram de si mesmos,

Com generosidade,

Amor e gratuidade.

Muitos receberam coisas

Sem acolher

Quem as ofertou,

E sem oferecer.

Brindaram com ruídos

Nos momentos de prazer,

Mas sem encontrar sentido

De alegria verdadeira,

Sem amar e conviver.

Abraçaram sem afeto,

Brindaram sem emoção;

Em comum não há projeto,

Nem uma mesma opção.

E tantos, quem sabe, talvez,

Deram à mercadoria um valor

Que não atribuem às pessoas,

A quem negam o fraterno amor.

Bird Box: Psicóloga desvenda mensagens subliminares do filme



Bird Box: Psicóloga desvenda mensagens subliminares do filme

Protagonizado por Sandra Bullock, o filme “Bird Box”, estreou na Netflix já fazendo barulho e dividindo opiniões. Há os que não se agradaram, os que gostaram muito e, como sempre, os que inevitavelmente comparam com o livro, já que “Bird Box” foi baseado no livro de mesmo nome de Josh Malerman – publicado no Brasil pela Editora Intrínseca com o título “Caixa de Pássaros”.

O filme mostra a história de pessoas que são obrigadas a viver escondidas e vendadas, pois criaturas misteriosas e não visíveis para quem assiste, provocam o suicídio em quem enxergá-las. O maior desafio da personagem de Sandra Bullock é levar seus dois filhos para um abrigo em segurança, mas todo trajeto deve ser feito com venda nos olhos.

Segundo algumas interpretações (muito bem elaboradas, diga-se de passagem), a diretora dinamarquesa Susanne Bier usa o tema do “pós apocalíptico” apenas como metáfora para passar outra mensagem: a questão da depressão que afeta mais e mais pessoas em todo o mundo a cada dia.

Aqui apresentamos uma análise elaborada pela psicóloga Gabriela Granero, vale muito a pena a leitura.

No início do filme a personagem principal tem dificuldade de se vincular e mostra uma incapacidade de amar, pinta no quadro a solidão instaurada dentro de si, o que evidencia seus sintomas depressivos e uma latente infelicidade.

Correlacionado ao período que vivemos na qual depressão é a doença do nosso século.

Depois o filme mostra que a “coisa” está se espalhando por todos os países e ninguém está imune, a não ser aqueles que não olham, a “coisa” que se espalha, faz uma analogia a sociedade contemporânea, da qual está adoecida, e todos estão se contaminando só de olhar uns para os outros.

Esse adoecimento contemporâneo pode ser visto na enorme quantidade de pessoas com transtornos mentais (depressão, pânico, toc, TAG), além do isolamento social, a invasão tecnológica, o excesso de consumismo, etc.

O pânico é muito bem representado no filme em diversas cenas, mas talvez a mais visível seja quando estão indo ao supermercado e o personagem negro se desespera.

Esses sofrimentos estão levando as pessoas ao suicídio, muito bem representado no filme.

Também podemos relacionar com a onda de suicídios coletivos ocorridos nesse último ano, em pessoas de todas as faixas etárias.

Para não se “contaminar” os personagens fecham os olhos, às vezes precisamos fechar os olhos frente aos disparadores que causam adoecimento na contemporaneidade para que possamos sobreviver, porém mais do que fechar os olhos é preciso descobrir uma nova forma de viver.

Porém, se reinventar constitui-se em um árduo trabalho, as vendas fazem alusão a: Ah, como é difícil se acostumar a viver de uma outra maneira.

A travessia do rio no filme, representa as travessia diária que temos que fazer para não nos contaminarmos/adoecermos, porém essa travessia não é um caminho fácil mais composto de correntezas.

Além do que muitas vezes é preciso fazer difíceis escolhas, como no momento que a personagem tem que escolher entre o garoto e a garota.

Quantas vezes na nossa vida não nos vemos em um beco sem saída? Sem saber qual decisão tomar?

Outro ponto, são os “loucos” do filme, que fazem alusão aos transtornos mentais inerentes em todos ser humano, na qual ninguém está imune a escapar.

As cenas de suicídios, pânicos são chocantes e metaforicamente representam a fragilidade humana, o desespero muito bem retratado no filme, é o desespero interno que estamos vivenciando.

Outro ponto que não pode ser esquecido, é com relação aos pássaros, sensíveis a captar quando a “coisa” está chegando.

Quantas vezes sentimos uma “coisa” que não sabemos nomear, às vezes não somos capazes de reconhecer nossos próprios sentimentos.

Em uma determinada parte do filme, o personagem Tom diz que teve um sonho na qual os pássaros estavam em um ninho em cima da árvore, e eles foram embora e voaram.

Essa metáfora representa a liberdade emocional e social que todo ser humano almeja, mas que é muito difícil encontrar. Somos como pássaros presos em gaiolas.

As gaiolas representam a escravidão evidenciada no filme, as vendas fazem analogia ao fato de que não estamos vendo a gravidade da nossa situação, com o pânico instaurado a única saída possível é o suicídio. Será que não estamos engaiolados?

Será que não ouvimos vozes que nos querem convencer do contrário? Como a cena em que estão na floresta, a atriz principal e as crianças ouvem vozes que a confundem.

Quantas vozes nos atrapalham o nosso crescimento emocional?

Por fim, quando a personagem faz a travessia do rio, essa desenvolve a sua capacidade de amar, Tom não vai com ela, pois essa travessia é única, muitas vezes temos que fazê-la sozinha.

O final do filme é o mais surpreendente, os únicos que não foram contaminados são os cegos, outra metáfora muito forte.

Eles não veem fisicamente, mas tem a habilidade de olhar internamente pra si, por isso não são “contaminados pela coisa”.

Ao final a personagem principal, aprende a amar e a lidar com seus sintomas depressivos, a capacidade de amar a salva da sua solidão e dá sentido a sua vida.

Ao dar um nome ao garota e a garota, fica nítido que ela perdeu o medo de se vincular. E perdeu o medo de perder as pessoas, já que essa perdeu sua irmã, sua amiga grávida e outros amigos.

Chegar na comunidade é alcançar a liberdade, representada ao soltar os pássaros da gaiolas, chegar a comunidade é desejo de alcançar a “cura” e mais do que isso fugir desse adoecimento contemporâneo.

Nessa comunidade as pessoas estão convivendo uma com as outras e as crianças estão brincando, e detalhe as crianças não estão no celular.

Porém, ainda sim, os personagens não alcançaram a liberdade em sua completude, pois estão presos em uma “gaiola de pessoas”.

Será possível alcançar a felicidade em sua plenitude?

O conceito de saúde mental de acordo com a OMS é “o completo bem estar físico, mental e social.”

Será possível alcançar essa completude? O sofrimento não é inerente a nossa condição?

Enfim, o filme está cheio de mensagens subliminares mas às vezes estamos com os olhos vendados e não conseguimos ver.

Gabriela Souza Granero é psicóloga,
pós-graduada em psicoterapia psicanalítica pelo Uni-Facef
Mestranda em Psicologia pela UFTM