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segunda-feira, 28 de março de 2022

Leitura: Gregório Duvivier - Caviar é uma ova

"Todo dia uma palavra morre e a gente não se dá conta. Ao contrário das pessoas, que por vezes morrem de desastre, as palavras só morrem aos poucos, devagarinho, cada dia um pouco - à medida que as pessoas que as usavam vão morrendo também. Minha avó, por exemplo. Tenho certeza de que levou junto com ela a palavra 'lorota'."

(Gregório Duvivier, "Caviar é uma ova")

quarta-feira, 23 de março de 2022

Eu sou o maior!

O Ponto Final, a Vírgula e o Ponto de Interrogação tentavam descobrir qual deles era o mais importante.

- Quem é que faz todas as perguntas? Quem é que põe todas as dúvidas? Alguém duvida que o mais importante sou eu? – disse o Ponto de Interrogação.

- Eu sou a resposta a todas as perguntas. O fim de todas as discussões. Eu sou o mais importante – disse o Ponto Final.

- E tu serves para quê? – perguntou o Ponto de Interrogação à Vírgula.

E a Vírgula respondeu:

- Experimentem dizer: "Ana Teresa Maria José Rita Sofia eram da mesma família!". Sem mim, quantos irmãos tem a família?

- Seis - disse o Ponto Final.

- Serão mesmo seis? - perguntou ponto de interrogação.

- Comigo, podem ser apenas três: "Ana Teresa, Maria José, Rita Sofia". Sem mim, nunca saberão.

Mas também podem ser quatro: "Ana, Teresa Maria, José, Rita Sofia". Sem mim, nunca saberão.

- Pronto – disse o Ponto Final. – Digamos que valemos todos o mesmo, pois sem pontos, vírgulas e pontos de interrogação, as palavras andavam todas perdidas pelo meio das histórias...

Alice Vieira. In. Livro com Cheiro a Chocolate. Ilustração Daniela Gonçalves.

quarta-feira, 9 de março de 2022

Feminicídio

  

 
 
 
 
 
  
 

O Feminicídio é um crime de ódio baseado no gênero, amplamente definido como o assassinato de Mulheres em contexto de violência doméstica ou em aversão ao gênero da vítima.

Entenda e ajude a dar um basta nessa realidade.

 

Emergência? Ligue 190

Use o app PMSC Cidadão.

Fonte: @MPSC

terça-feira, 8 de março de 2022

08 de Março - Dia Internacional da Mulher

  

As mulheres sempre tiveram um papel relevante nas atividades de Monteiro Lobato, seja em sua obra ficcional, seja em suas funções como editor.

 

O Sítio do Picapau Amarelo é um matriarcado. Lá, o poder está nas mãos das mulheres, principalmente nas figuras de Tia Nastácia, a quem Lobato associa bom senso e sabedoria prática, e Dona Benta, que Lobato descreve como um “rei-filósofo na pessoa de uma mulher”.

 

Em "A reforma da natureza", Tia Nastácia e Dona Benta – duas mulheres de idade, uma das quais negra – são convidadas pelos chefes de Estado da Europa para participar de uma fictícia "Conferência da Paz de 1945", onde representam a Humanidade, devido a sua Sabedoria e Bom Senso.

 

Lobato também foi apoiador de sua sobrinha e nora Gulnara de Moraes e a incentivou a seguir a carreira de tradutora, uma forma de manter a independência financeiramente. Foi seu tutor e mestre na atividade, tradutor e editor experiente que era.

 

Ele ainda editaria e publicaria livros de uma respeitável quantidade de mulheres, em diversas etapas de sua atividade editorial. Muitas dessas autoras exerceram sua escrita durante os agitados anos de 1920: Francisca Cordeiro, Rosaura Lins, Selda Potocka, Maria José Dupré, Francisca Julia, Maria Eugênia Celso e Rosalina Coelho Lisboa, entre outras.

 

Se citarmos Anita Malfatti, provavelmente invadirá a lembrança a famosa crítica de arte que Lobato escreveu a respeito da exposição da artista plástica em 1917, não é verdade? Mas hoje, neste dia tão especial, queremos que você também saiba que anos mais tarde, em 1922, os dois trabalhariam harmoniosamente juntos. Lobato contratou Anita para ilustrar a capa do livro "O homem e a morte", de Menotti Del Picchia. Lobato exerceu em 1917 seu papel de crítico de arte e, Anita, de mulher artista que aceitava críticas porque isso faz parte da rotina de sua profissão.

 

Feliz Dia internacional da Mulher!

quarta-feira, 2 de março de 2022

Bullying: quando a escola não é um paraíso


 

Geane de Jesus Silva,
psicopedagoga, professora de Psicologia da Educação e
coordenadora pedagógica, Jitaúna, BA.
Endereço eletrônico:
enaeg@hotmail.com


Brigas, ofensas, disseminação de comentários maldosos, agressões físicas e psicológicas, repressão. A escola pode ser palco de todos esses comportamentos, transformando a vida escolar de muitos alunos em um verdadeiro inferno.

 

Gislaine, aluna da 2ª série, de oito anos, estava faltando frequentemente à escola. Quando comparecia, chorava muito e não participava das aulas, alegando dores de cabeça e medo. Certo dia, alguns alunos procuraram a professora da turma dizendo que a garota estava sofrendo ameaças. Teria que dar suas roupas, sapatos e dinheiro para outra aluna, caso contrário apanharia e seria cortada com estilete.

 

Carlos, da 5ª série, foi vítima de alguns colegas por muito tempo, porque não gostava de futebol. Era ridicularizado constantemente, sendo chamado de gay nas aulas de educação física. Isso o ofendia sobremaneira, levando-o a abrigar pensamentos suicidas, mas antes queria encontrar uma arma e matar muitos dentro da escola.

 

Os casos descritos acima são reais e revelam a agressão sofrida por crianças dentro da escola, colhidos e narrados por Cleo Fante como parte de uma pesquisa sobre a violência nas escolas, publicados em seu livro “Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz”. Esses e muitos outros casos de agressões e violências entre os alunos desde as séries iniciais até o ensino médio, demonstram uma realidade assustadora que muitos desconhecem, ou não percebem, trazendo à tona a discussão sobre o fenômeno bullying, o grande vilão de toda essa história. Mas o que é? Quais as causas? Como prevenir?



Significado do termo

 

A palavra bullying é derivada do verbo inglês bully que significa usar a superioridade física para intimidar alguém. Também adota aspecto de adjetivo, referindo-se a “valentão”, “tirano”. Como verbo ou como adjetivo, a terminologia bullying tem sido adotada em vários países como designação para explicar todo tipo de comportamento agressivo, cruel, intencional e repetitivo inerente às relações interpessoais. As vítimas são os indivíduos considerados mais fracos e frágeis dessa relação, transformados em objeto de diversão e prazer por meio de “brincadeiras” maldosas e intimidadoras.



Desconhecimento e indiferença

 

Estudos indicam que as simples “brincadeirinhas de mau-gosto” de antigamente, hoje denominadas bullying, podem revelar-se em uma ação muito séria. Causam desde simples problemas de aprendizagem até sérios transtornos de comportamento responsáveis por índices de suicídios e homicídios entre estudantes.

 

Mesmo sendo um fenômeno antigo, mantém ainda hoje um caráter oculto, pelo fato de as vítimas não terem coragem suficiente para uma possível denúncia. Isso contribui com o desconhecimento e a indiferença sobre o assunto por parte dos profissionais ligados à educação. Pode ser manifestado em qualquer lugar onde existam relações interpessoais.


Consequências marcantes

 

As consequências afetam a todos, mas a vítima, principalmente a típica (ver quadro), é a mais prejudicada, pois poderá sofrer os efeitos do seu sofrimento silencioso por boa parte de sua vida. Desenvolve ou reforça atitude de insegurança e dificuldade relacional, tornando-se uma pessoa apática, retraída, indefesa aos ataques externos.

Muitas vezes, mesmo na vida adulta, é centro de gozações entre colegas de trabalho ou familiares. Apresenta um autoconceito de menos-valia e considera-se inútil, descartável. Pode desencadear um quadro de neuroses, como a fobia social e, em casos mais graves, psicoses que, a depender da intensidade dos maus-tratos sofridos, tendem à depressão, ao suicídio e ao homicídio seguido ou não de suicídio.

Em relação ao agressor, reproduz em suas futuras relações, o modelo que sempre lhe trouxe “resultados”: o do mando-obediência pela força e agressão. É fechado à afetividade e tende à delinquência e à criminalidade.

Isso, de certa maneira, afeta toda a sociedade. Seja como agressor, como vítima, ou até espectador, tais ações marcam, deixam cicatrizes imperceptíveis em curto prazo. Dependendo do nível e intensidade da experiência, causam frustrações e comportamentos desajustados gerando, até mesmo, atitudes sociopatas.

O papel da educação

 

A educação do jovem no século XXI tem se tornado algo muito difícil, devido à ausência de modelos e de referenciais educacionais. Os pais de ontem, mostram-se perdidos na educação das crianças de hoje. Estão cada vez mais ocupados com o trabalho e pouco tempo dispõem para dedicarem-se à educação dos filhos. Esta, por sua vez, é delegada a outros, ou em caso de famílias de menor poder aquisitivo, os filhos são entregues à própria sorte.

Os pais não conseguem educar seus filhos emocionalmente e, tampouco, sentem-se habilitados a resolverem conflitos por meio do diálogo e da negociação de regras. Optam muitas vezes pela arbitrariedade do não ou pela permissividade do sim, não oferecendo nenhum referencial de convivência pautado no diálogo, na compreensão, na tolerância, no limite e no afeto.

A escola também tem se mostrado inabilitada a trabalhar com a afetividade. Os alunos mostram-se agressivos, reproduzindo muitas vezes a educação doméstica, seja por meio dos maus tratos, do conformismo, da exclusão ou da falta de limites revelados em suas relações interpessoais.

Os professores não conseguem detectar os problemas, e muitas vezes, também demonstram desgaste emocional com o resultado das várias situações próprias do seu dia sobrecarregado de trabalhos e dos conflitos em seu ambiente profissional. Muitas vezes, devido a isso, alguns professores contribuem com o agravamento do quadro, rotulando com apelidos pejorativos ou reagindo de forma agressiva ao comportamento indisciplinado de alguns alunos.


O que a família pode fazer?

 

Não há receita eficaz de como educar filhos, pois cada família é um mundo particular com características peculiares. Mas, apesar dessa constatação, não se pode cruzar os braços e deixar que as coisas aconteçam, sem que os educadores (primeiros responsáveis pela educação e orientação dos filhos e alunos) façam algo a respeito.

A educação pela e para a afetividade já é um bom começo. O exercício do afeto entre os membros de uma família é prática primeira de toda educação estruturada, que tem no diálogo o sustentáculo da relação interpessoal. Além disso, a verdade e a confiabilidade são os demais elementos necessários nessa relação entre pais e filhos. Os pais precisam evitar atitudes de autoproteção em demasia, ou de descaso referente aos filhos. A atenção em dose certa é elementar no processo evolutivo e formativo do ser humano.


O que a escola pode fazer?

 

Em relação à escola, em primeiro lugar, deve conscientizar-se de que esse conflito relacional já é considerado um problema de saúde pública. Por isso, é preciso desenvolver um olhar mais observador tanto dos professores quanto dos demais profissionais ligados ao espaço escolar. Sendo assim, deve atentar-se para sinais de violência, procurando neutralizar os agressores, bem como assessorar as vítimas e transformar os espectadores em principais aliados.

Além disso, tomar algumas iniciativas preventivas do tipo: aumentar a supervisão na hora do recreio e intervalo; evitar em sala de aula menosprezo, apelidos, ou rejeição de alunos por qualquer que seja o motivo. Também pode-se promover debates sobre as várias formas de violência, respeito mútuo e a afetividade tendo como foco as relações humanas.

Mas tais assuntos precisam fazer parte da rotina da escola como ações atitudinais e não apenas conceituais. De nada valerá falar sobre a não-violência, se os próprios profissionais em educação usam de atos agressivos, verbais ou não, contra seus alunos. Ou seja, procurar evitar a velha política do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.


Ações exemplares

 

Há diversos exemplos claros de ação eficiente contra o bullying no espaço escolar. Uma delas é o programa “Educar para a paz”, criado e desenvolvido por Cleo Fante e equipe, que trabalha com estratégias de intervenção e prevenção contra a violência na escola. Além disso, também existem sites sobre o assunto como que visam a alertar e informar profissionais e pais no combate ao bullying. Destaca-se o trabalho da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Criança e ao Adolescente, com os sites: www.abrapia.org.br e www.bullying.com.br

 

Características de bullying

 

Segundo Cleo Fante, no livro “Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz”, os atos de bullying entre alunos apresentam determinadas características comuns:

• Comportamentos deliberados e danosos, produzidos de forma repetitiva num período prolongado de tempo contra uma mesma vítima;


• Apresentam uma relação de desequilíbrio de poder, o que dificulta a defesa da vítima;


• Não há motivos evidentes;


• Acontece de forma direta, por meio de agressões físicas (bater, chutar, tomar pertences) e verbais (apelidar de maneira pejorativa e discriminatória, insultar, constranger);


• De forma indireta, caracteriza-se pela disseminação de rumores desagradáveis e desqualificantes, visando à discriminação e exclusão da vítima de seu grupo social.