A linguagem e o
fracasso escolar
Para alguns, as criança provenientes de
famílias desfavorecidas, ou baixa renda, são o motivo do fracasso escolar.
Estas provêm de uma linguagem “pobre” e com um vocabulário reduzido. Isso seria
resultado da condição de vida social em que ela se encontra.
Os defensores dessa teoria afirmam a
necessidade de oferecer programas compensatórios para tentar corrigir essa
falha na educação, causadas por seu ambiente familiar, cultural.
Tal teoria da deficiência linguística deve ser criticada. Ela não procura as
causas do fracasso escolar nas relações que se estabelecem entre educação e
sociedade no sistema capitalista. A função da escola não é eliminar as
diferenças sociais, mas adaptar os alunos as mesmas. Admitir a
existência de uma deficiência cultural nas populações de baixa renda significa
acreditar que elas possuem uma cultura inferior, fato contestado pela
antropologia. Todas as culturas possuem integridade e coerência, não sendo
possível, portanto, estabelecer comparações de uma relação a outras. Todas as
línguas atendem as necessidades e características da cultura que servem,
constituindo instrumentos efetivos de comunicação social. Não há porque
considerar que existem linguagens “deficientes”.
Outra teoria, a da diferença linguística, nos mostra que a linguagem das crianças das
classes sociais desfavorecidas é reconhecida como diferente daquela empregada
pelas classes privilegiadas, mas não como deficientes.
Há ainda ma terceira teoria para
explicar a questão, a do capital linguístico.
Essa nova teoria questiona os pressupostos das teorias anteriores, segundo
as quais a escola poderia ajudar a superar as diferenças sociais. Para ela,
tanto a primeira, como a segunda teoria pecam por não investigarem as causas
estruturais, de natureza socioeconômica, que se encontram na base das
diferenças entre diferentes classes sociais. Tais causas se refletem nas
diferentes modalidades de linguagem que as diferentes classes sócias utilizam e
terminam tendo peso distinto para o sucesso escolar. A desvalorização dos
padrões linguísticos e culturais das classes dominadas, que perpassam tanto a
teoria da deficiência como a da diferença linguística, as levou,
portanto, a contribuir para manter as desigualdades sociais.
Para combater a seletividade escolar,
defendendo o direito de todos a educação e a apropriação dos conhecimentos, é
preciso assumir uma postura política em relação a linguagem. O dialeto de prestígio falado pelas
classes sociais privilegiadas deve ser colocado a serviço das classes
desfavorecidas. Isso pode se feito criando situações nas quais os alunos,
dialogando com o professor acerca do mundo, do livro, dele mesmo, etc., possam
ir-se apropriando da variante linguística privilegiada pela escola, ao mesmo
tempo em que a sua cultura e o modo de expressão próprio dela não deixem de ser
reconhecidos.
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