por
ter sido educador de parte deste povo,
por
ter batalhado sempre pela justiça,
por
compactuar com a honestidade,
por
primar pela verdade
e por
ver este povo já chamado varonil
enveredar
pelo caminho da desonra.
Sinto
vergonha de mim
por
ter feito parte de uma era
que
lutou pela democracia,
pela
liberdade de ser
e ter
que entregar aos meus filhos,
simples
e abominavelmente,
a
derrota das virtudes pelos vícios,
a
ausência da sensatez
no
julgamento da verdade,
a
negligência com a família,
célula-Mater
da sociedade,
a
demasiada preocupação
com o
'eu' feliz a qualquer custo,
buscando
a tal 'felicidade'
em
caminhos eivados de desrespeito
para
com o seu próximo.
Tenho
vergonha de mim
pela
passividade em ouvir,
sem
despejar meu verbo,
a
tantas desculpas ditadas
pelo
orgulho e vaidade,
a
tanta falta de humildade
para
reconhecer um erro cometido,
a
tantos 'floreios' para justificar
atos
criminosos,
a
tanta relutância
em
esquecer a antiga posição
de
sempre 'contestar',
voltar
atrás
e
mudar o futuro.
Tenho
vergonha de mim
pois
faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando
por caminhos
que
não quero percorrer...
Tenho
vergonha da minha impotência,
da
minha falta de garra,
das
minhas desilusões
e do
meu cansaço.
Não
tenho para onde ir
pois
amo este meu chão,
vibro
ao ouvir o meu Hino
e
jamais usei a minha Bandeira
para
enxugar o meu suor
ou
enrolar o meu corpo
na
pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao
lado da vergonha de mim,
tenho
tanta pena de ti,
povo
deste mundo!
'De
tanto ver triunfar as nulidades,
de
tanto ver prosperar a desonra,
de
tanto ver crescer a injustiça,
de
tanto ver agigantarem-se os poderes
nas
mãos dos maus,
o
homem chega a desanimar da virtude,
A
rir-se da honra,
a ter
vergonha de ser honesto'.
Cleide
Canton/Rui Barbosa
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