Há pessoas que
não percebem o que fazemos por elas, até que paramos de fazer!
Todos nós em algum momento
ajudamos alguém. E nos sentimos bem com isso. O desgaste emocional começa
quando nossa ajuda não é reconhecida, quando damos e damos, sem receber nada em
troca, quando os outros não percebem tudo o que fazemos por eles e até mesmo
pressupõem que é nossa obrigação.
Esses gestos podem vir de
várias maneiras: pequenas ajudas que melhoram o dia a dia; grandes ajudas que
marcam o curso de uma vida; pode ser aquela pessoa que faz um grande sacrifício
com um sorriso nos lábios, sem revelar o verdadeiro custo daquilo que ele nos
oferece.
Quando através da ajuda ao
outro nos tornamos invisíveis, muitas vezes existe o que poderíamos chamar de “síndrome de assumir”. Essas pessoas
assumem que têm direito a nossa ajuda e apoio, e não a apreciam o nosso
empenho.
A “síndrome de assumir” está relacionada com a adaptabilidade, um
processo pelo qual as pessoas rapidamente se acostumam com o ambiente,
situações e relacionamentos. Na prática, é provável que a pessoa se sentiu
animada a primeira vez que você ajudou, e agradeceu o gesto, mas, em seguida, assumiu
como algo natural, corriqueiro e até familiar.
Obviamente, ser uma pessoa
flexível, que se adapta é importante, especialmente para evitar sofrimento
desnecessário causado por mudanças drásticas. Devemos pensar que nossos
relacionamentos devem ser tratados como uma planta que deve ser cuidada todos
os dias. Se assumirmos que a planta estará sempre lá e não precisa de nosso
cuidado, um dia simplesmente ela seca.
Quando isso acontece, a pessoa
se sentirá desorientada, como se de repente o que lhe dava apoio tivesse
desmoronado. De fato, é exatamente isso que aconteceu: por não cuidar de um
relacionamento e lhe dar valor real, perde-se essa fonte de ajuda. Só então
passa-se a valoriza o que tinha de garantido até então, embora muitas vezes
seja tarde demais.
Dar muito e receber pouco
Embora seja importante ajudar
sem esperar nada em troca, também precisamos receber. Na verdade, o psicólogo
Adam Grant, da Universidade da Pensilvânia, explicou que podemos imaginar as
relações interpessoais como uma linha, em um dos seus extremos é dar e no outro
extremo receber.
Em algumas fases da vida,
podemos estar mais perto de um ponto final, como quando cuidar de um ente
querido, mas, em geral, o ideal seria se encontrar em um ponto intermediário
onde podemos nos doar e também receber apoio e ajuda.
Não é nem mesmo sobre a pessoa
que ajudamos ter que “devolver um favor”.
Mas estabelecer um vínculo emocional profundo baseado na gratidão e no
reconhecimento. Pois quando ajudamos e o outro menospreza nossa contribuição,
essa ajuda se torna um fardo psicológico.
A ajuda também tem limites
“Ajudem
seus companheiros a levantarem sua carga, mas não se considerem obrigados a
tirá-los”, recomendou Pitágoras séculos atrás. Esse filósofo e matemático grego
sabia que há um limite para se render, sacrificar e ajudar; um limite além do
qual acabamos sendo drenados emocionalmente, especialmente quando outras
pessoas não reconhecem o que fazemos por elas.
Séculos depois, experimentos
psicológicos provaram o conselho pitagórico. Em um estudo realizado na University of British Columbia, os
participantes receberam uma quantia em dinheiro. Metade deles foram convidados
a gastá-lo em si mesmos e na outra metade para alocá-lo para outras pessoas. No
final, aqueles que gastaram dinheiro com os outros relataram sentir-se mais
felizes do que aqueles que gastaram o dinheiro neles mesmos. Sabemos, sem
sombra de dúvida, que ser compassivo e ajudar os outros nos beneficia
psicologicamente. Com certos limites.
Que lições práticas podemos tirar?
1. Desenvolva uma
preocupação empática
Lembre-se de que, por mais que
você possa ajudar, as decisões finais nunca estarão em suas mãos e, portanto,
seu envolvimento emocional também deve estar limitado ao que você pode fazer.
2. Não exagere
ajudando
Às vezes a ajuda, embora bem
intencionada, pode prejudicar gerando atitudes egocêntricas, exigentes ou
dependentes no outro. Portanto, a ajuda deve sempre ser dosada, projetada para
que a outra cresça, não para que ocorra dependência.
3. Não se perca
O filósofo Ayn Rand argumentou que, se desenvolver
uma boa saúde mental, devemos cultivar egoísmo racional, que é nada mais do que
cuidar de satisfazer as nossas necessidades e interesses que muitas vezes
relegamos para segundo ou terceiro lugar, terminando sofrendo com as
consequências.
Fontes:
–
Manczak, E.M. et. Al. (2016) A empatia
tem um custo? Efeitos psicológicos e fisiológicos divergentes nas famílias.
Psicol da Saúde; 35 (3): 211-218.
–
Dunn, E. W.; Aknin, L.B. & Norton, M.I. (2008) Gastar dinheiro com outros promove a felicidade. Ciência; 319
(5870): 1687-1688.
Fonte: Rincón de La Psicología
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