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sábado, 14 de julho de 2018

Há pessoas que não percebem o que fazemos por elas



Há pessoas que não percebem o que fazemos por elas, até que paramos de fazer!

Todos nós em algum momento ajudamos alguém. E nos sentimos bem com isso. O desgaste emocional começa quando nossa ajuda não é reconhecida, quando damos e damos, sem receber nada em troca, quando os outros não percebem tudo o que fazemos por eles e até mesmo pressupõem que é nossa obrigação.

Esses gestos podem vir de várias maneiras: pequenas ajudas que melhoram o dia a dia; grandes ajudas que marcam o curso de uma vida; pode ser aquela pessoa que faz um grande sacrifício com um sorriso nos lábios, sem revelar o verdadeiro custo daquilo que ele nos oferece.

Quando através da ajuda ao outro nos tornamos invisíveis, muitas vezes existe o que poderíamos chamar de “síndrome de assumir”. Essas pessoas assumem que têm direito a nossa ajuda e apoio, e não a apreciam o nosso empenho.

A “síndrome de assumir” está relacionada com a adaptabilidade, um processo pelo qual as pessoas rapidamente se acostumam com o ambiente, situações e relacionamentos. Na prática, é provável que a pessoa se sentiu animada a primeira vez que você ajudou, e agradeceu o gesto, mas, em seguida, assumiu como algo natural, corriqueiro e até familiar.

Obviamente, ser uma pessoa flexível, que se adapta é importante, especialmente para evitar sofrimento desnecessário causado por mudanças drásticas. Devemos pensar que nossos relacionamentos devem ser tratados como uma planta que deve ser cuidada todos os dias. Se assumirmos que a planta estará sempre lá e não precisa de nosso cuidado, um dia simplesmente ela seca.

Quando isso acontece, a pessoa se sentirá desorientada, como se de repente o que lhe dava apoio tivesse desmoronado. De fato, é exatamente isso que aconteceu: por não cuidar de um relacionamento e lhe dar valor real, perde-se essa fonte de ajuda. Só então passa-se a valoriza o que tinha de garantido até então, embora muitas vezes seja tarde demais.

Dar muito e receber pouco

Embora seja importante ajudar sem esperar nada em troca, também precisamos receber. Na verdade, o psicólogo Adam Grant, da Universidade da Pensilvânia, explicou que podemos imaginar as relações interpessoais como uma linha, em um dos seus extremos é dar e no outro extremo receber.

Em algumas fases da vida, podemos estar mais perto de um ponto final, como quando cuidar de um ente querido, mas, em geral, o ideal seria se encontrar em um ponto intermediário onde podemos nos doar e também receber apoio e ajuda.

Não é nem mesmo sobre a pessoa que ajudamos ter que “devolver um favor”. Mas estabelecer um vínculo emocional profundo baseado na gratidão e no reconhecimento. Pois quando ajudamos e o outro menospreza nossa contribuição, essa ajuda se torna um fardo psicológico.

A ajuda também tem limites

“Ajudem seus companheiros a levantarem sua carga, mas não se considerem obrigados a tirá-los”, recomendou Pitágoras séculos atrás. Esse filósofo e matemático grego sabia que há um limite para se render, sacrificar e ajudar; um limite além do qual acabamos sendo drenados emocionalmente, especialmente quando outras pessoas não reconhecem o que fazemos por elas.

Séculos depois, experimentos psicológicos provaram o conselho pitagórico. Em um estudo realizado na University of British Columbia, os participantes receberam uma quantia em dinheiro. Metade deles foram convidados a gastá-lo em si mesmos e na outra metade para alocá-lo para outras pessoas. No final, aqueles que gastaram dinheiro com os outros relataram sentir-se mais felizes do que aqueles que gastaram o dinheiro neles mesmos. Sabemos, sem sombra de dúvida, que ser compassivo e ajudar os outros nos beneficia psicologicamente. Com certos limites.

Que lições práticas podemos tirar?

1. Desenvolva uma preocupação empática

Lembre-se de que, por mais que você possa ajudar, as decisões finais nunca estarão em suas mãos e, portanto, seu envolvimento emocional também deve estar limitado ao que você pode fazer.

2. Não exagere ajudando

Às vezes a ajuda, embora bem intencionada, pode prejudicar gerando atitudes egocêntricas, exigentes ou dependentes no outro. Portanto, a ajuda deve sempre ser dosada, projetada para que a outra cresça, não para que ocorra dependência.

3. Não se perca

O filósofo Ayn Rand argumentou que, se desenvolver uma boa saúde mental, devemos cultivar egoísmo racional, que é nada mais do que cuidar de satisfazer as nossas necessidades e interesses que muitas vezes relegamos para segundo ou terceiro lugar, terminando sofrendo com as consequências.

Fontes:
– Manczak, E.M. et. Al. (2016) A empatia tem um custo? Efeitos psicológicos e fisiológicos divergentes nas famílias. Psicol da Saúde; 35 (3): 211-218.

– Dunn, E. W.; Aknin, L.B. & Norton, M.I. (2008) Gastar dinheiro com outros promove a felicidade. Ciência; 319 (5870): 1687-1688.


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