Breve
reflexão acerca do consumismo e a produção de lixo
Roseli Bregantin Barbosa
Nos dias atuais o ser humano vem sendo assolado
pelo consumismo! Mas o que vem a ser consumismo? Qual o papel do consumidor no
mercado? E o que isso tem haver com o problema da produção e destinação do
lixo? A quem compete resolver o problema? O ser humano, mais do que qualquer
outro ser vivo na face da Terra, tem necessidades que precisam ser satisfeitas
diariamente, alimentar, hidratar, vestir, morar, educar, transportar,
comunicar, divertir etc. Mas além dessas necessidades básicas tem outras
advindas da cultura de cada povo. Na cultura ocidental, por exemplo, os bebês
são tratados como reis, todas as atenções de todos os seres humanos a sua volta
lhe reafirmam o quanto é belo, inteligente e gracioso! De acordo com a
psicanálise, essa forma de educação tem suas consequências na vida adulta,
pois, com o crescimento o indivíduo perde o “trono” e passa a ser tratado como
mais uma pessoa entre tantas.
Consumismo
Produção de Lixo
Mas, o crescimento não apaga da mente da pessoa o
seu reinado perdido, e ela passa o resto de sua vida tentando reconquistar o
prestígio que tinha quando era apenas um bebê. Ciente dessa “necessidade” do
ser humano, o mercado busca forjar esse prestígio, dizendo ao consumidor aquilo
que ele deseja ouvir, e cobra caro por isso. Levando-o a acreditar que se ele
comprar este ou aquele produto estará recuperando o seu reinado e passando à
condição de alguém muito especial. Sem perceber o indivíduo passa a pensar que
o que precisa é o produto e não se dá conta de que o que está buscando é o
prestígio.
O produto comprado, jamais irá satisfazer sua
“necessidade”, sendo trocado por outro com promessa mais convincente, e por
outro e mais outros. Induzindo, assim, o indivíduo a ser um consumidor
irracional, levado pela emoção da necessidade artificial criada pelo mercado.
Isso é o consumismo. A necessidade artificial de consumir cada vez mais! Os
produtos são desenvolvidos com o intuito de criar e satisfazer necessidades do
consumidor. Dessa forma, o alvo do mercado é o consumidor. Sem consumidor não
existe mercado! Em tempos de globalização política e econômica, tudo é reduzido
a produto: animal, vegetal, intelectual, industrial, ideológico, psicológico,
educacional, religioso etc. O poder político, sobrevivente aristotélico, com a
globalização perdeu muito de sua força, abrindo espaço para o mercado. Os
próprios representantes públicos, muitos deles, foram reduzidos a produtos
publicitários.
Assim, o cidadão se vê perdido, sem saber em quem
ou no que acreditar. Pois nem mesmo consegue saber, ao certo, quem é a pessoa
em quem depositou seu voto, se ela é real ou uma criação da mídia. Muito menos
qual a sua ideologia. Assim, o voto se torna mais uma atitude de consumo
irracional. Diante desse panorama, nota-se que o poder se encontra concentrado
no mercado, e que o protagonista do mercado é o consumidor, cabendo a ele dizer
o que deseja consumir. Ocorre que o consumidor não desempenha seu papel
adequadamente, pois sequer tem consciência do poder que possui, sendo
constantemente manipulado pelo fornecedor, através da mídia. Nessa corrida pelo
consumo, o indivíduo precisa de cada vez mais poder aquisitivo, e isso
significa mais trabalho, mais compromissos, mais responsabilidades e menos tempo
para pensar e decidir o que, porquê e quando consumir, tornando-se cada vez
mais irracional enquanto consumidor. Podendo, muitas vezes, chegar à depressão
por não conseguir manter determinado padrão de consumo, o que o fragiliza ainda
mais diante do mercado.
Ocorre que além da perda de poder do cidadão, o
consumismo trouxe um grave problema, o excesso de dejetos resultantes do
consumo desenfreado. Em outras palavras, “LIXO”! Por “falta de tempo”, pois
trabalha muito para manter seus padrões de consumo, o indivíduo não pensa na
melhor forma de cuidar dos materiais que não lhe interessam mais,
depositando-os de forma inadequada no meio ambiente e causando graves danos à
natureza! Danos estes que retornam ao ser humano em forma de desequilíbrio. Um
antigo ditado oriental já ensinava: “O seu lixo sempre volta à sua porta, cabe
a você escolher a cara dele!”! Assim como também ditava Antoine Laurent
Lavoisier, inspirado em pensadores que o antecedeu: na natureza nada se cria,
nada se perde e tudo deve ser transformado. Mas parece que a humanidade ainda
não entendeu conceitos básicos e necessários para manter equilíbrio e a vida.
Nos últimos anos, com o fenômeno da globalização, houve um grande aumento na
oferta de crédito, principalmente para as classes menos abastadas. Isso
ocasionou aumento do poder de consumo entre os mais pobres. O que não quer
dizer que hoje tenhamos menos indivíduos em situação de pobreza do que antes da
globalização, mas sim, que muitos povos pobres foram inseridos no mercado,
através do crédito, tornando-os, além de pobres, endividados. O fato é que, o
aumento do poder aquisitivo das classes menos abastadas teve reflexo direto no
aumento da produção e na destinação inadequada do lixo.
O problema do lixo está estreitamente relacionado
ao consumismo, agravado pela explosão demográfica, males que precisam ser
sanados urgentemente pelo ser humano, sob pena de levá-lo à degradação.
Indivíduos, famílias, sociedades, governos, todos devem contribuir para a
solução do problema. Começando por cuidar cada um do seu próprio lixo.
Buscando: Repensar o que é de fato lixo; Reduzir, diminuindo o consumo
desnecessário; Reutilizar, evitando o desperdício de energia e dos recursos
naturais; e reciclar transformando a matéria que seria dispensada em recurso renovável.
Não podemos nos deixar consumir pelo consumismo do mercado, pois afinal, nós
estamos no topo dessa cadeia, somos consumidores!
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