“ELA era poesia. ELE não sabia ler” – Juhan E
Ela apostava mais na doçura que na amargura, e tinha uma fé inabalável de
que, mesmo que seu caminho estivesse mais nublado que ensolarado, Deus
sussurrava em seu ouvido: “Não desista, menina!
Ela sabia que
havia diferença entre os finais felizes e os finais necessários, mas ainda
assim insistia em acreditar que, do seu jeito torto, devagar, e cheio de
ilusões, era capaz de modificar a realidade e enxergar felicidade nas
circunstâncias miúdas, muitas vezes esquecidas e despercebidas. Ela apostava
mais na doçura que na amargura, e tinha uma fé inabalável de que, mesmo que seu
caminho estivesse mais nublado que ensolarado, Deus sussurrava em seu ouvido:
“não desista, menina!”
Ela não fingia
ser assim. Nem tampouco se esforçava. Tinha nascido poesia, e se encantava com
pequenos galanteios, letras de música falando de saudade, versos de Caio
Fernando Abreu num livro antigo e cheiro de café numa livraria charmosa. Não
sabia guardar rancor, esforçava-se para se desapegar daqueles que a rejeitavam
e rascunhava sonhos num caderno doado.
Ela acostumou-se
a ser poesia, a enxergar poemas, a extrair delicadezas, a desejar gentilezas. E
acabou calculando errado. Na sua mente tão congestionada, permitiu que ele, tão
frio e errado, ali fizesse morada. Dentro do seu coração generoso, não cabiam
dúvidas e divagações.
E por isso ela insistia em ver nele versos que ele nunca soube ler. Ela
teimava em ouvir dele poemas que ele nunca quis recitar.
Ela esperava
dele danças que ele nunca ousou convidá-la para dançar. Ela dançava sozinha,
escutando em seu ouvido canções que ela jurava que ele havia composto para
eles, mas era tudo fruto de sua imaginação, de seu encanto pela vida, de sua
alma colecionadora de ilusões.
Um dia ela
acordou e percebeu que talvez a felicidade também tivesse a ver com pontos
finais. Que estava na hora de guardar seu amor por dentro e direcionar seu
afeto para si mesma.
Começou a
entender que não era fácil desistir dele, porque, mais do que amá-lo, amava a
sensação que amá-lo lhe provocava.
Devagar descobriu que poderia fazer poesia do vazio e das esperas. E
que, em algum lugar, não muito longe dali, haveria um menino poema como ela,
capaz de lembrá-la todos os dias que é preciso força e coragem para insistir na
doçura num mundo cheio de amargura…
Sobre a Autora:
Fabiola Simões
Fabíola Simões não é jornalista nem publicitária, desde menina adora
bordar histórias. Dentista por formação e profissão, inventa enredos no blog
"A Soma de todos os Afetos" www.asomadetodosafetos.com No facebook:
ASomaDeTodosOsAfetos No instagram: @asomadetodosafetos.
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