Carol Bensimon
Eu provavelmente estava distraída quando os
guardanapos das lanchonetes começaram a vir em invólucros de plástico. Você
precisa abri-los antes de sujar as mãos, senão pode ser tarde e complicado
demais. Isso me deixa irritada todas as vezes. Embora essa questão de natureza
prática seja importantíssima, não é sobre ela que eu gostaria de falar. O que
me intriga de fato é em que momento e por que nós começamos a exagerar tanto no
uso das coisas plásticas (copos, pratos, mexedores, embalagens para um único canudo).
Vou chamar o fenômeno de hiperassepsia.
Será que alguém morreu por um guardanapo contaminado, e eu não fiquei sabendo?
E quanto ao copo descartável que acompanha a garrafa
também descartável, nós precisamos mesmo dele? E do prato de plástico contendo
um muffin que, por sua vez, já está
devidamente protegido por uma redoma cujo rápido destino é o lixo? E o que
dizer dos seis saquinhos de shoyu
ofertados por um único temaki? Quando
as tele-entregas japonesas me mandam um porte de gosma verde sem perguntar (não
gosto de wasabi, eu diria, lamento),
tenho pontadas no coração pensando em todo aquele plástico desperdiçado.
Talvez eu possa esboçar duas razões para esse excesso
de itens destinados às lixeiras. Em primeiro lugar, em tempos de álcool gel, é
natural que um dispensador de canudos nos pareça uma monstruosa colônia de
germes. Melhor embalá-los um a um. Não custa lembrar, no entanto, que, nesse
exato momento, na França, há um funcionário recebendo uma nota de cinco euros e
depois entregando um sanduíche a alguém com aquelas mesmas mãos sem luvas. Como
bons brasileiros que contraíram a hiperassepsia,
a cena pode nos causar caretas de nojo, mas provavelmente revela mais sobre
diferenças culturais e menos sobre reais riscos à saúde.
Em segundo lugar, e mais importante: o exagero dos
plásticos parece estar ligado à tendência de querer agradar a qualquer custo.
Pela natureza um tanto infantilizada dessa relação estabelecimento-cliente,
talvez seja mais adequado usar a palavra mimar. Só isso pode explicar o que
observo cotidianamente nos caixas de supermercado. Embora a maioria de nós seja
perfeitamente capaz de pôr objetos dentro de uma sacola, nós temos
empacotadores. E você já percebeu que esses empacotadores sãos instruídos a não
colocar no mesmo saco uma pasta de dente e um pacote de biscoitos? A
consequência disso é o uso de uma quantidade absurda de sacolas. Eu me pergunto
que tipo de horror aconteceria caso esses itens, bem seguros dentro de suas
respectivas embalagens, dividissem o mesmo espaço.
Na minha sacola de pano, sob os olhos atônitos do
empacotador que acabo de dispensar, é claro que tudo vai misturado. Continuo
viva.
In: Uma estranha na
cidade, de Carol Bensimon, Editora Dubliense, 2016.
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