Lúcia Costa, diretora executiva da Stato, consultoria de RH, defende que
os jovens profissionais colocam muito a responsabilidade no mundo, sem levar em
conta que também fazem parte dele
Lúcia Costa, diretora executiva da Stato, define os jovens entre 23 e 30
anos como a geração mimimi (Foto: Divulgação)
Os jovens nascidos nas décadas de 80 e 90 são conhecidos como geração Y ou millennials.
Alguns, no entanto, são um pouco mais polêmicos ao defini-los. Lúcia Costa,
diretora executiva da Stato, consultoria de RH, refere-se a eles como geração mimimi. Para ela, o mimimi se
justifica principalmente pelas constantes reclamações, falta de protagonismo e
de responsabilidade desses jovens.
Nesta entrevista, ela explica porque acredita que essa geração, de
jovens entre 23 e 30 anos, não está preparada para os desafios do mercado de
trabalho e faz um alerta: “a reclamação em excesso gera falta de compromisso e até
uma baixa no resultado. Ocupa espaço do pensamento construtivo, da solução. É
preciso entender que a motivação vem de dentro de cada um e não é necessariamente
o mundo que vai trazê-la”.
Você classifica
a geração Y e dos millennials como geração mimimi. O que teria levado os jovens
desse grupo a ter esse tipo de comportamento?
Primeiro, acho importante destacar que não é todo mundo dessa geração
que é assim. Talvez essa geração, ou parte dela, tenha vindo para o mercado com
um nível de exigência muito alto. Talvez porque depois de seus pais terem
enfrentado muita dificuldade, essa geração conseguiu mais facilmente muitas
coisas. Ela tem várias oportunidades, pode escolher fazer o que quer e ter uma
vida mais equilibrada. É uma geração que tinha muitas possibilidades até se
deparar com sua primeira crise.
Como você acha
que essa geração deveria agir neste momento?
As pessoas que estão nesse caminho da reclamação deveriam ter em mente o
seguinte: para progredir na carreira, é preciso buscar a solução mais dentro de
você do que fora. Ter mais flexibilidade, aceitar o mundo como ele é, ter
resiliência e protagonismo, assumir aquilo que é sua responsabilidade. Você
deve deixar de culpar a empresa, o chefe, o outro, o cenário ou a falta de
tempo e recursos. É hora de o profissional se apropriar de sua capacidade para
poder realizar alguma coisa. Estamos vivendo um momento difícil no mercado de
trabalho. As empresas estão operando com menos recursos. Todo mundo
provavelmente está sobrecarregado. Quem se dedicar mais e se sobressair nesse
cenário vai se dar melhor e crescer. O mercado está pedindo mais por menos e
tenho certeza que se os jovens deixarem de focar naquilo que eles não têm em
recursos, mas sim usar suas energias para trazer soluções, inovar e ajudar as
empresas e os colegas a passarem por essa crise, eles serão protagonistas dessa
história.
Atualmente,
existe a percepção de que eles não estão ajudando?
Existe, sim, nas empresas e nos RHs a percepção de que a geração mimimi
não está ajudando. São jovens que têm potencial, boa formação, têm tudo para
dar certo, para ajudar a empresa, a área, mas em vez disso ficam focados no que
não têm, no que não está dando certo.
O que as
empresas esperam desses jovens?
A mudança de pensamento e atitude já é um grande começo, mas também
esperam a mesma coisa que esperam das gerações anteriores: um pensamento fora
da caixa, cooperação, entender o momento pelo qual todo mundo está passando e
ajudar a empresa a passar por esse momento. É preciso arregaçar as mangas. As
companhias querem a energia e a inovação que o jovem bem formado normalmente
traz, mas que venha com o pé no chão e não com reclamações sem resolver o problema.
Então falta essa
geração arregaçar a manga?
Exatamente isso. Ninguém quer ser executor, mas sim aquele que lidera,
toma a decisão. Mas para fazer isso você precisa da experiência da execução.
Não dá para pular etapas. Principalmente quando está faltando quem faça.
Mas também não
está faltando diálogo entre as outras gerações e esses jovens?
Talvez a geração anterior tenha preparado essa para um momento mais
sofisticado de trabalho, que é o que vinha acontecendo dos últimos 10 anos para
cá. Mas, com a crise, algumas atividades mais elaboradas do mercado voltaram
para o básico. As empresas precisam de quem faça e resolva, trazendo ideias
novas, mas as executando também. Houve uma perda de sintonia entre o que estava
para acontecer e o que de fato chegou a acontecer, gerando um certo retrocesso.
Como os jovens
podem ajudar as companhias?
Eles precisam pegar o que trazem de novo e adicionar uma atitude mais
positiva. Não só criticar. A crítica é boa quando se constrói algo a partir
dela. A geração mimimi talvez esteja criticando demais sem propor novas
soluções. A crítica pela crítica em um momento árido de mercado não vai
resolver o problema. O profissional tem que se sentir dono da sua própria
história. Se não há recursos, ele que tem que achá-los ou fazer acontecer sem.
Mas às vezes a
própria empresa não incentiva uma atitude diferente...
Sim, muitas empresas ainda operam em um modelo mais burocrático e não
dão abertura aos jovens para eles exporem as suas ideias. Há reuniões muito
engessadas e processos muito rígidos. Algumas companhias precisam se adaptar e
ouvir mais. Porém, existem empresas que são geridas por profissionais mais
sênior, mas que têm uma cultura mais aberta. Os jovens devem olhar para essas
oportunidades.
Fonte:
Época Negócios Online
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