“A arte de ser mãe e pai é desenvolver os filhos para que se tornem
independentes e cidadãos do mundo.” – Içami Tiba
Gente gosta de
gente
– Ao contrário dos demais seres vivos, já nascemos predispostos a ter
companheiros. Nossa condição ao nascer é de total dependência da mãe.
Precisamos que ela (ou um substituto) nos dê os cuidados básicos, sem os quais
não sobrevivemos. Não somos como os animais, que já nascem praticamente capazes
de andar e de se alimentar. Nós nascemos já nos relacionando com nossos
geradores e cuidadores. Nenhum ser humano é indiferente a outro ser humano. Ele
se aproxima, agride, finge não ligar ou se afastar mas percebe sua presença.
Sempre!
Nossa força relacional é praticamente tudo na espécie
humana.
Os animais tem seus companheiros, porém de forma primitiva. Os bandos
são movidos pela ética da sobrevivência: tudo o que fazem tem a finalidade de
defender a vida e garantir a perpetuação da espécie. Um animal ataca outro
quando se sente ameaçado física ou territorialmente. O que vale é a lei do mais
forte.
O macaco é o animal com o cérebro mais desenvolvido. Forma bandos
migratórios que atacam territórios alheios para roubar, pensando na
sobrevivência de sua espécie. Nisso, ele se aproxima de seu parente célebre, o
homem: povos mais fortes dominam os mais fracos.
E brigam entre si em busca de mais poder do que
necessitam para viver.
Seria a inteligência uma das responsáveis pelo poder destrutivo do ser
humano?
Nem sempre o homem destrói seu semelhante para sobreviver. Então por que
o faz?
Dentre as inúmeras causas, destaco o problema básico, ou seja, a falta
de civilidade e a ambição da ética dos humanos.
Não adianta o ser humano ser simplesmente inteligente. Assim como a
força física, a inteligência, que já nasce com ele, pode ser desenvolvida. O
que comanda a inteligência e a força física é a mente humana. Elas podem ser
usadas tanto para o mal quanto para o bem, conforme a ética do indivíduo. O
grande traficante de drogas usa a inteligência para o mal.
Os grandes políticos precisam ter inteligência corrigir racional para
conseguir ser eleitos pelo, povo. Mas o que torna uns corruptos e outros não, é
a presença da ética, que os faz honrar os cargos para os quais foram eleitos.
Nem os neurologistas nem os psiconeurofisiologistas conseguiram ainda
mapear exatamente a localização anatômica da ética, mas sabe-se que ela reside
no cérebro superior. Ali fica a instância que exerce o poder de avaliar
situações e orientar caminhos da saúde social.
Mas só a ética não explica o companheirismo do ser humano. O que faz uma
pessoa gostar das outras é a religiosidade. Esse sentimento é a força-mestra da
convivência social. A religião, que é a espiritualização da religiosidade, une
pessoas com a mesma afinidade espiritual, estabelecendo rituais, regras,
hierarquias, locais próprios e modus operandi para sua funcionalidade.
O feto quase sempre é o produto do amor entre duas pessoas. Depende
totalmente da mãe para se desenvolver. Mesmo depois, fora do útero, a criança
prossegue dependendo integralmente da mãe ou de seus substitutos. À medida que
cresce e vai se tornando autossuficiente, ela conquista aos poucos sua
independência.
Quanto mais competentes os pais forem, menos necessários eles se
tornarão para os filhos, e o vínculo afetivo será mantido eternamente, em nome
da saudável integração relacional.
–
Içami Tiba, no livro “Quem ama, educa”. São Paulo Editora Gente. 2002.
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