Parece óbvio o que vou dizer, mas os seres
humanos são diferentes. Sim, ninguém é exatamente igual a ninguém. E,
isso, apesar de evidente, parece não ser ou estar tão claro assim. Explico. A
vida tem se tornado cada vez mais veloz e mecânica, cobra-se eficiência o tempo
inteiro e para que isso aconteça, faz-se necessário aderir a um determinado
tipo de comportamento. Isto é, se adequar a um plano de conduta que
possibilitará atingir a eficiência cobrada é quesito obrigatório em qualquer
currículo humano. Todavia, qual o problema em ser mais “eficiente”? Nenhum,
desde que isso não automatizasse as pessoas e destruísse a sua humanidade.
Nesse modelo (de sucesso) você deve seguir algumas regras. Claro, tudo é
muito organizado (ordem e progresso sempre!). A primeira regra é deixar de ser quem você é. Isso mesmo, você deve
deixar de fazer, pelo menos em público, tudo aquilo que possa ser julgado como
esquisito ou estranho. Melhor, tudo aquilo que possa ser visto como inadequado
perante os padrões de comportamento estabelecidos pela sociedade. Isso inclui
os seus sentimentos, de tal maneira que eles devem permanecer escondidos, a fim
de não prejudicar a sua evolução enquanto um “ser social”. No mínimo, você deve
soltá-los apenas quando estiver sozinho. Sabe como é, lágrimas e dores não são
permitidos, nem alegrias com coisas simples. Elas são muito baratas.
Dessa maneira, além de nos tornarmos completamente iguais, ficamos
sufocados pelos sentimentos não externalizados, pelas palavras não ditas, pelas
emoções contidas. E, assim, as relações podem viver plenamente com o sistema e
de modo pobre com o homem. As relações tornam-se superficiais, porque nós nos
tornamos superficiais, fúteis e mesquinhos. Totalmente
adequados ao mundo e inadequado a nós mesmos. Nesse modelo de vida que
se apresenta como maravilhoso, somos transformados em ilhas
afetivas cercadas de um mar de angústias.
Nos tornamos cheios de medos e fobias. Receosos em
demonstrar qualquer emoção ou comportamento que nos retire do reino da
adequação, preferimos nos esconder em nós mesmos, até que nada reste a não ser
uma imensa tristeza, que dia após dia só faz aumentar. Uma tristeza que nos
afasta ainda mais do que realmente somos e da conexão com o que é real no
mundo, já que o mar de hipocrisia existente nele não merece essa alcunha. E o
pior é que se tentarmos procurar nos outros um suspiro de naturalidade, de
beleza, na maior parte dos casos, não encontraremos, porque estamos todos
adaptados, adequados, automatizados, sendo superficiais e frios e
compartilhando dessa mesma superficialidade e frieza nas nossas distantes
relações (solidões).
Apesar de conseguirmos viver essa “fantasia” por algum tempo, chega uma
hora em que os olhos não aguentam mais e, então, você deixa cair uma gota e
toda a torrente de dores, desejos e sentimentos guardados vem abaixo. Não há
como controlar, não há como segurar, não mais. O mar de angústias é alimentado,
a ilha torna-se menor e o mundo distante. E por mais que se chore, parece que
as lágrimas nunca são suficientes para colocar tudo que estava guardado para
fora. Parece que algumas tralhas se tornaram tão profundas, que já não saem do
lugar. E tomam todo o (in)consciente.
Mas, o mais curioso nisso tudo é que passamos
uma maquiagem e fingimos que nada está acontecendo. Continuamos fingindo
ser quem não somos, fazendo sempre o que a cartilha manda, mesmo que não
entendamos bem o porquê. Preferimos estar mortos
por dentro a ser estranhos, esquisitos, inadequados por fora.
E, neste momento, colocado isso, vem a pergunta de um milhão de dólares:
por quê? Por que aceitamos viver de uma forma tão degradante para a nossa alma
só para agradar à sociedade, ao sistema ou a quem quer que seja, enquanto,
tornamo-nos cadáveres? É preciso se aceitar e
deixar transparecer o eu verdadeiro que há em cada um de nós, as
esquisitices que alguns assim chamam, mas, que chamo de idiossincrasias, porque
são elas que nos tornam belos. E se formos chamados
de loucos, qual o problema? Ou será que sanidade é estar preso nos
próprios sentimentos e desejos, afogados em hipocrisia, tristeza, depressão e
medo?
Você não possui um número de série, tampouco foi feito em uma forma,
portanto, livre-se das amarras que te impedem de se
olhar no espelho e se reconhecer, pois reflexo algum vai tornar a sua
alma mais viva do que o seu. O mundo já está repleto de cadáveres cheios de
“sanidade” presos em suas ilhas. Seja você, lou(cure-se) e transforme o seu
oceano de angústias em um mar navegável de prazeres.
Fonte:
Site Genialmente louco, Por Erick Morais
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