Pesquisar este blog

domingo, 5 de maio de 2019

Filme: O menino que descobriu o vento



O Menino que Descobriu o Vento estreou na Netflix e os assinantes classificaram essa inserção no catálogo como um verdadeiro presente. O longa, dirigido por Chiwetel Ejiofor, nos traz a história de um menino de Malawi que teria por “missão” salvar a sua família e comunidade em que vive da fome.

Trata-se de um filme baseado em fatos reais, havidos recentemente em Malawi, no continente africano.

Diante da falta de mantimentos em sua vila, o menino inventou um sistema de captação de energia eólica, O que possibilitou bombear água para o cultivo de alimentos na seca. Além de dirigir, Ejiofor, o diretor, é também ator. Ele representa, na trama, o pai do menino William, é interpretado pelo queniano Maxwell Simba. Este é a primeira atuação do queniano e tem arrancado aplausos da crítica.

O filme tem por base a história verídica de William Kamkwamba. Ele tornou-se conhecido mundialmente por sua invenção e se formou engenheiro na Universidade de Dartmouth, uma ivy league americana. Para o crítico Octavio Caruso: “A viagem emocional de um pai e seu filho excepcional em seu coração, captura a determinação incrível de um menino cuja mente inquisitiva superou todos os obstáculos em seu caminho.”

Um filme cravejado de emoções, reflexões, e, acima de tudo, pleno de humanidade.

Assista ao trailer:



Conheça a história real que originou o filme
“O menino que descobriu o vento”

Por Nara Rúbia Ribeiro


Em 2009, William Kamkwamba, jovem que inspirou a criação do protagonista do filme “O menino que descobriu o vento”, gravou um vídeo no qual ele introduzia a sua palestra com a seguinte observação: “Eu falarei rapidamente sobre uma das minhas invenções que tenho mais orgulho” e, a partir de então, descreve a “máquina simples” que mudou a sua vida para sempre.

Conforme descrito no site R7, William Kamkwamba nasceu em uma família de camponeses na vila de Kasungu, no Malaui. Apesar de sempre ter vivido na pobreza, a situação se complicou em 2001, quando uma seca assolou a região e causou grandes transtornos para toda a comunidade. Muitos morreram de fome e William e sua família passaram a se alimentar apenas uma vez ao dia.

Embora em condições precárias de existência, ele decidiu continuar na escola: “Eu estava determinado a fazer qualquer coisa para poder aprender. Então eu fui para a biblioteca e li livros de ciências, em particular de física”, conta. Ele não tinha domínio do inglês, contudo nem mesmo isso o impediu o analisar e de interpretar figuras e diagramas para tentar compreender o que estava nos livros.

Um desses livros, por “sorte” explicava como um moinho de vento poderia bombear água e até mesmo gerar eletricidade. Esse livro mudou para sempre o destino de William. “Bombear água significava irrigação. Uma defesa contra a fome, pela qual nós estávamos passando naquela época”. Foi aí que ele decidiu construir um moinho sozinho.

 Moinho construído por William

Com esse objetivo bem delineado, o menino inventor teve que improvisar matérias-primas essenciais para a construção. Para isso, valeu-se de um ferro-velho e juntou tudo o que julgou útil: “quadro de bicicleta, roldana, tubo plástico, ventilador de trator, amortecedor e outras peças enferrujadas bastaram para construir um moinho capaz de gerar 12 watts de eletricidade – suficiente para ligar quatro lâmpadas e dois rádios em sua casa. Depois, William partiu em outra missão: construir um moinho capaz de gerar no mínimo 20 watts, o suficiente para bombear água e irrigar toda a vila”.

Abaixo, confira a TED De William e saiba, por meio o próprio jovem, os detalhes que inspiraram o filme:


Fonte: Site Revista Pazes

Crítica de “O Menino Que Descobriu o Vento”,
de Chiwetel Ejiofor

 O Menino Que Descobriu o Vento (The Boy Who Harnessed The Wind -2019)

William Kamkwamba (Maxwell Simba) é um garoto de 13 anos que sai da escola que ama quando sua família não pode mais pagar pelos custos. Voltando em segredo para a biblioteca da escola, ele encontra um caminho, usando partes da bicicleta pertencente ao seu pai Trywell (Chiwetel Ejiofor), para construir uma bobina eólica que, em seguida, salva sua aldeia da fome.

O cenário é apocalíptico, um líder político populista que mantém seu próprio povo faminto na miséria controlada com fins ditatoriais, reagindo com extrema truculência diante de qualquer voz que ouse se levantar contra seu governo. Você pode pensar que estou escrevendo sobre o regime atual de Maduro na Venezuela, mas a baixeza moral encabrestada disfarçada de assistencialismo não é novidade, a administração da escassez é parte fundamental do processo existencialmente deteriorante de todos os sistemas que são contrários à alternância democrática de poder, já que é mais difícil de se controlar indivíduos com valores firmes e que estão física e mentalmente saudáveis.

Na trama desta promissora estreia de Chiwetel Ejiofor na direção, somos levados à um vilarejo de Malawi, no início dos anos 2000, para conhecer a incrível história real do pequeno William Kamkwamba, fruto de um lar forjado pela ousadia dos pais, que trilharam o caminho tortuoso e imprevisível das colheitas. Só que, apesar de valorizar os esforços de todos à sua volta, o menino possui uma fome insaciável por conhecimento. A resposta para as mazelas ele encontra nas páginas dos livros. Ele fica entristecido por não conseguir estudar à noite, por falta de eletricidade. A sua maior alegria é receber do pai um traje limpo e novo para utilizar na escola. Ele, por suas atitudes, ensina que o argumento da falta de oportunidades é a desculpa que o incompetente escolhe para justificar sua preguiça intelectual.

Ao contrário do que a narrativa socialista prega, incentivando o conflito entre semelhantes, o clássico “dividir para conquistar”, reduzindo as minorias à estereótipos rasteiros, estimulando nelas o vitimismo e, por conseguinte, a desesperada necessidade da mão salvadora estatal, moeda de troca para a perpetuação política, não há pobreza que impeça alguém de tentar (e, com esforço, conseguir) ser melhor, apenas a pobreza de espírito, que atinge todas as classes sociais. A união da comunidade em tempos de crise é o que apavora e enfraquece um ditador. William busca no lixão as ferramentas para construir a ponte que o conduzirá para um futuro minimamente esperançoso, mas o garoto não pensa apenas em seu benefício, ele arrisca tudo para garantir que seu povo sobreviva.

Se a figura de autoridade educacional expulsa ele da sala de aula por falta de pagamento, o garoto não pensa duas vezes, dá um jeito de se infiltrar naquele recinto, absorvendo o máximo possível de informação. Como ele afirma para o pai, durante uma acalorada discussão: “Há coisas que eu sei e você não sabe”. E cabe ao mais velho engolir o orgulho e compreender que a escolha do filho pela educação naquelas circunstâncias é intensamente mais corajosa do que tudo que ele já fez na vida. O homem, com o suor do trabalho braçal, tornou possível para o menino o ensinamento acadêmico, mas foi ele quem recebeu a lição mais valiosa.

“O Menino Que Descobriu o Vento” entrega atuações impecáveis de todo o elenco, alta dose de emoção (sem forçar no melodrama), uma fotografia elegante do experiente Dick Pope, soluções narrativas que evidenciam a mão segura de seu diretor, além de um frescor revigorante na forma como trabalha a linda mensagem de resiliência, em suma, desde já, um dos melhores filmes do ano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário