Tradições portuguesas: história e origem do Coração de Viana
O Coração de Viana é o elemento principal de todo o ouro que as mulheres
do Minho trazem ao peito. Um coração minhoto mas que simboliza o universal.
Se houvesse medalha para a província portuguesa que
mais símbolos oferece ao país, a premiada seria o Minho. Nas danças e cantares
do vira, nos lenços minhotos, nos galos de Barcelos, no caldo verde, no uso
popular do cavaquinho que até extrapolou fronteiras nacionais… as gentes do
Minho estariam ricas se ganhassem por direitos de autor.
Mas um pequeno objeto, em forma de coração, chegou
mais longe, e é hoje usado um pouco por todo o mundo, enquanto colar ou brinco:
o Coração de Viana.
O coração do tamanho do Minho
É bom frisar que convencionou-se entregar-lhe Viana ao
nome, embora ele não seja exclusivo desta cidade, nem sequer deste distrito. Na
realidade, o uso do coração é, numa visão mais ampla, uma tradição minhota,
seja ela do Baixo-Minho ou do Alto-Minho. Hoje em dia, o seu fabrico
encontra-se ligado a umas quantas oficinas artesanais. Quase todas de Gondomar
ou da Póvoa de Lanhoso.
Ao contrário do que se poderia pensar, o propósito
primeiro do Coração de Viana não foi ser um símbolo de amor, mas sim um símbolo
de dedicação e de culto ao Sagrado Coração de Jesus. Terá sido a rainha D.
Maria I que, grata pela “bênção” de lhe ter sido concedido um filho varão,
mandou executar um coração em ouro.
O sagrado no Coração de Viana
Esta é apenas uma das muitas versões explicativas e a
sua origem é de cálculo difícil. Há quem sustente que se enraizou na cultura do
noroeste português por via religiosa, fazendo o paralelismo com o coração
flamejante representado no imaginário do Sagrado Coração de Jesus – as suas
ilustrações e pinturas figuram sempre um coração visível do lado de fora e
centrado a meio do peito como símbolo do amor universal – como se usa o Coração
de Viana.
Na Povoa de Lanhoso | Clique na imagem para aceder à página original
Há alusões ao Coração de Jesus desde o século VI, mas
foi no século XVII que a devoção se tornou oficial, e foram vários os santos e
santas católicos a promovê-lo.
Esta veneração poderá ter-se fundido com um costume
arcaico das gentes minhotas, o vestir do ouro, que terá a sua fundação em anos
ainda mais remotos, provavelmente pré-cristãos, havendo quem lhe atribua origem
nos cultos solares celtas, ou galaico-castrejos, e quem fale dos fenícios como
seus pais ao invés – contudo, acreditamos mais na primeira hipótese do que na
segunda.
O Coração de Viana na atualidade
Esta combinação entre forma (o coração) e matéria (o
ouro) transformou a imagem do Coração de Viana num ex-líbris da ourivesaria
portuguesa, sendo os seus exemplares em chapa e trabalhados com fios de
filigrana os mais procurados – há-os também em outros materiais, como a prata,
e até alternativas mais orientadas ao marketing turístico, onde alguma matéria-prima
sulista (como a cortiça) já foi aproveitada.
Normalmente, são adornados com motivos vegetalistas e
florais, sendo frequente a parte acima do coração representar o fogo, ou em
alternativa, redundar num segundo coração, mais pequeno.
Filigrana ou… a arte de torcer fios de ouro ou prata
Rota da
Filigrana – A Filigrana
Gondomar é um território conhecido pela Ourivesaria,
boa parte da sua história é uma relação estabelecida entre Homem – Oficina –
Ouro.
A presença da exploração mineira do ouro vem desde
os povos pré-romanos, intensificando-se durante a presença romana com a
exploração de minas espalhadas nas serras de Pias e Banjas. A partir da
segunda metade do século XVIII, Gondomar começa a afirmar-se como um dos
núcleos mais importantes e prolíferos da Ourivesaria Portuguesa.
A Filigrana é o campo privilegiado na Ourivesaria
gondomarense, a produção artesanal é praticada em oficinas de pequena escala,
de cariz familiar, utilizando técnicas passadas de uma geração à próxima.
Esta herança continua a vigorar com força no
Município, exemplo disso, no ranking das oito maiores empresas portuguesas de
joalharia e ourivesaria cinco são gondomarenses. A Ourivesaria em Gondomar
regista cerca de 60% da produção nacional.
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A grande peculiaridade, além da complexidade do seu
interior, é a existência de uma curva e contra-curva num dos seus lados,
dando-lhe uma beleza contemporânea e festiva, algo relativamente comum na arte folk do Minho, por contraponto à
das demais províncias portuguesas, tradicionalmente mais taciturnas.
E que bem ficou aquele coração no peito de Sharon Stone…!
Este Coração em filigrana ganhou ultimamente fãs fora
do país, chegando a ir parar ao peito de uma celebridade improvável, Sharon
Stone.
Além das internacionalizações, o seu desenho suave e
moderno virou padrão para muita da estética folclórica nacional e serviu mesmo
de fonte de inspiração para alguma classe empresarial que pretendeu
aportuguesar as suas imagens de marca. O logo do Euro 2004 é bom exemplo disso.
Fonte: portugalnummapa
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