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sexta-feira, 8 de março de 2019

Crônica: Dia Internacional Da Mulher


Nesta crônica, Martha defende alguns homens que têm uma 'porção mulher', e acha que esse dia "Internacional Da Mulher" não deveria ser dedicado apenas às mulheres.

Hoje é "Dia Internacional Da Mulher".

Eu poderia falar sobre a resistência feminina, simbolizada por aquela senhora que foi contemplada com 90 facadas, dois tiros e três atropelamentos, a mando do marido, e sobreviveu.
Poderia falar sobre o inaceitável desrespeito às mulheres do Afeganistão, que são obrigadas a ficar confinadas em casa e são linchadas quando expõem acidentalmente uma parte do corpo... [...]
Talvez eu volte a esses assuntos, mas hoje, véspera do nosso dia, quero falar de outra coisa: a porção mulher que há em todo homem.
Dedico esta crônica àqueles que, ao contrário dos fundamentalistas islâmicos, apoiam a carreira de suas esposas e não se sentem inseguros diante de uma mulher com opinião e renda próprias.
Aos homens que saem mais cedo do trabalho para buscar seus filhos na escola, que continuam atenciosos depois do orgasmo, que não têm medo de entrar na cozinha, que são vaidosos, que se permitem uma dúvida, uma insegurança, um vacilo.
Aos homens que acompanham suas mulheres na sala de parto e às consultas realizadas no pré-natal.
Aos homens que não têm pudor em falar sobre coisas íntimas com aqueles em quem confiam.
E aos homens que escutam.
Seu pai talvez tenha conseguido escapar do machismo reinante; seu avô, é pouco provável. Não por falta de carácter, não porque não quisesse, mas por não conhecer outro modelo.
Homem que era homem não concedia à mulher um espaço público: ela era assunto privado, e entre quatros paredes deveria limitar-se.
Homem que era homem não chorava, olhava-se no espelho só na hora de fazer a barba e era sempre o portador da última palavra.
Homem que era homem não dividia a conta nem a responsabilidade, e aí dele se usasse camisa cor-de-rosa. Parece que foi ontem, e foi.
Uma reportagem da revista Veja revelou os resultados de uma pesquisa, em que se constatou que, ao contratar ou promover um funcionário homem, o patrão dá prioridade para aquele que tiver certas características femininas, como saber trabalhar em equipe, planejar a longo prazo, preocupar-se com detalhes e seguir a intuição.
Não tremei, galera. É apenas o nivelamento natural da espécie: nós desenvolvemos a agressividade reprimida, vocês a sensibilidade escondida.
Nenhum dano para as diferenças que nos unem, que seguem gigantescas e necessárias.
Sabemos como é difícil abandonar uma fórmula consagrada, e é por isso que precisamos cada vez mais uns dos outros, o que descarta a hipótese de ser provocação o convite para comemorarmos juntos o dia de hoje.
Parabéns a nós e aos homens com uma Porção mulher.

(Martha Medeiros)

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