Erick Morais
Recentemente, eu fui indagado por um amigo de que eu
tinha mudado bastante, na verdade, de que eu fui a pessoa que mais mudei desde
o ensino médio.
Prontamente o respondi dizendo que mais do que mudado,
eu havia me encontrado.
Aliás, há outra saída estando em um universo em
constante transformação?
Em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, lá para tantas,
Machado argumenta que nós estamos em constante mudança, o que ele chama de
edição. Estamos sempre nos transformando em uma nova edição, como se fôssemos
um livro que a cada ano passa por uma revisão. E conforme as edições vão se
alterando, nós adquirimos novos gostos, novos hábitos, novas experiências,
assim como, deixamos de lado coisas que na edição atual já não possuem tanta
importância ou significado.
Eu acredito que não há como não mudar com o passar do
tempo.
Somos expostos a situações e vivências que pouco a
pouco modificam o que somos. Mas, antes que alguém pense de forma errônea, não
me refiro a mudanças que alteram substancialmente a nossa essência, e sim, a
metamorfoses que nos tornam ainda mais próximos do que somos intimamente.
O que ocorre é que não raras vezes silenciamos o que
sentimos, deixando de modo abafado o que há de mais intrínseco e subterrâneo ao
nosso ser. Para que isso venha à tona, precisamos passar por situações
dolorosas, na maioria das vezes, para que sejamos obrigados a olharmo-nos no
espelho totalmente despidos e, assim, percebemos que a realidade que se
apresenta não está de acordo com a parte que não pode ser refletida.
Entretanto, nem sempre é uma situação específica (ou
situações) que nos obriga a repensar a nossa vida. Às vezes, como disse, é a
própria passagem do tempo, com a sua força inexorável, que nos leva a esse
“choque de realidade”, uma vez que só o tempo traz a experiência necessária
para que compreendamos alguns pontos-chave da nossa existência. E não é que ela
resolve tudo, até porque não há como. Mas, a experiência nos mostra que na vida
nada é tão simples, que toda escolha tem uma consequência, e, sobretudo, que
fugir daquilo que somos (por qualquer motivo que seja), só nos fará infeliz.
Porque a verdadeira mudança acontece internamente…
Para mudar, se tornar uma edição revisada, não são
necessários grandes acontecimentos no mundo externo, porque a verdadeira mudança
acontece internamente, quando sentimos que a pessoa que somos hoje reflete
muito melhor o nosso interior do que em edições anteriores. É claro que cada
fase possui a sua importância, contudo, se as nossas experiências servem muito
mais para nos aproximar de outros universos do que nosso, é preciso repensar o
que o tempo, na sua complexidade e magnitude, tem nos ensinado, já que como diz
o poeta – “A gente só muda quando a gente se encontra” – e ser forasteiro de si
mesmo é uma das maiores tristezas da vida.
Sobre o Autor:
Erick Morais
Poderia dizer o que faço, onde moro; mas,
sinceramente, acho clichê. Meus textos falam muito mais sobre mim. O que posso
dizer é que sou um cara simples. Talvez até demais. Um sonhador? Com certeza.
Mais que isso. Um caso perdido de poesia ou apenas um menestrel caminhando
pelas ruas solitárias da vida.
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