Por Erick Morais
A vida
contemporânea cheia de regras e adestramento fez com que houvesse uma
padronização completa das pessoas, de tal maneira que todos se comportam do
mesmo modo, falam das mesmas coisas, se vestem mais ou menos do mesmo jeito,
possuem as mesmas ambições, compartilham dos mesmos sonhos, etc. Ou seja, as
particularidades, as idiossincrasias, aquilo que os indivíduos possuem de
único, inexistem diante de um mundo tão pragmático e controlado.
Vivemos
engaiolados, tendo sempre que seguir o padrão, que se encaixar em normas
pré-determinadas, como se fôssemos todos iguais. Sendo assim, a vida acaba se
transformando em uma grande linha de produção, em que todos têm que fazer as
mesmas coisas, ao mesmo tempo e no mesmo ritmo, de modo a tornar todos iguais,
sem qualquer peculiaridade que possa definir um indivíduo de outro e, por
conseguinte, torná-lo especial em relação aos demais.
Somos enjaulados em
vidas superficiais e nos tornamos seres superficiais, totalmente
desinteressantes, inclusive, para nós mesmos. Sempre conversamos sobre as
mesmas coisas com quer que seja, ouvindo respostas programadas pelo padrão, o
qual nos torna seres adequados à vida em sociedade.
Entretanto, para
que serve uma adequação que transforma todos em um exército de pessoas
completamente iguais e chatas, que procuram sucesso econômico, enquanto suas
vidas mergulham em depressões?
Qual o sentido de
adequar-se a uma sociedade que mata sonhos, porque eles simplesmente não se
encaixam no padrão? Uma sociedade que prefere teatralizar a felicidade a
permitir que cada um encontre as suas próprias felicidades. Uma sociedade que
possui a obrigação de sorrir o tempo inteiro, porque não se pode jamais
demonstrar fraqueza. Uma sociedade que retira a inteligência das perguntas,
para que nos contentemos com respostas rasas. Então, por que se adequar?
Os nossos
cobertores já estão ensopados com os nossos choros durante a madrugada. O choro
silencioso para que ninguém saiba o quanto estamos sofrendo. Para manter a
farsa de que estamos felizes. Para fazer com que mentiras soem como verdade,
enquanto, na verdade, não temos sequer vontade de levantar das nossas camas.
O pior de tudo isso
é que preferimos vidas de silencioso desespero a romper com as amarras que nos
aprisionam e nos distanciam daquilo que grita dentro de nós, esperando
aflitamente que o escutemos, a fim de que sejamos nós mesmos pelo menos uma vez
na vida sem a preocupação de agradar aos outros.
Somos uma geração
com medo de assumir as rédeas das próprias vidas. E, assim, temos permitido que
outros sejam protagonistas destas. É preciso coragem para retomá-las e viver
segundo aquilo que arde dentro de nós, mesmo que sejamos vistos como loucos,
pois só assim conseguiremos sair das depressões que nos encontramos. É preciso
sacudir as gaiolas, já que, como diz Alain de Botton: “As pessoas só ficam realmente interessantes quando começam a sacudir
as grades de suas gaiolas”. E, sobretudo, é preciso ser inadequado, porque
não se adequar a uma sociedade doente é uma virtude.
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