No dia 20 de novembro, comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra,
que coloca em foco, entre outros temas relacionados, a cultura afro-brasileira
e sua enorme contribuição para a formação ética, estética, poética e de valores
de um país tão venturosamente diverso como o Brasil.
“Os
tesouros de Monifa” / Sandra Rosa (texto) e Rosinha (ilustração)
A literatura é uma experiência poderosa nesse sentido, pois nos coloca
diretamente em contato com a sensibilidade e a essência das diversas culturas
que permeiam um texto, uma ilustração, uma rima, um ritmo, uma narrativa.
Abaixo se encontram cinco livros muito especiais sobre cultura
afro-brasileira, que tocam nossa sensibilidade e nos permitem conhecer e
reconhecer-nos.
1) Obax, de André Neves: a
menina que dá nome ao livro vive nas savanas africanas e tem uma imaginação
daquelas: tudo vira história e brincadeira em seu mundo habitado por seres
mágicos. Nele, Obax caça ovos de avestruz, aposta corrida com antílopes e
enfrenta crocodilos. No dia em que conta que viu uma chuva de flores, no
entanto, a aldeia toda ri dela. Obax parte então, com seu sábio amigo elefante,
em uma jornada para provar a veracidade de suas histórias. Uma metáfora sobre o
poder da literatura e da narrativa oral, que cresce com os traços fortes e
únicos do premiado André Neves. O livro venceu o Jabuti, principal prêmio da
literatura nacional, em 2011.
2) Os tesouros de Monifa, de Sonia Rosa
(texto) e Rosinha (ilustrações): como raríssimas vezes se viu na literatura
infantil e juvenil brasileira, Os tesouros de Monifa fala do encontro de uma
brasileirinha afrodescendente com sua tataravó, Monifa, que chegou aqui vinda
lá do outro lado do oceano, em um navio negreiro. Mesmo escrava, aprendeu a
escrever e, por meio das letras que aprendeu, deixou “para os meus filhos e os
filhos dos meus filhos!” o maior de todos os tesouros que alguém pode herdar.
Passado de geração em geração, chega o dia desse tesouro ir para as mãos da
garotinha, que se encanta e emociona muito ao receber tamanha preciosidade e,
com ela, descobrir a vida da sua tataravó e as suas próprias raízes. Premiado
pela FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) com o selo Acervo
Básico. Veja uma resenha do livro aqui.
3) Kalinda, a princesa que
perdeu os cabelos, de Celso Sistu: “os contos populares africanos me devolvem
as raízes do mundo. E trazem (imaginariamente) as vozes ancestrais para
sussurrarem nos meus ouvidos.” Neste surpreendente livro, o renomado autor e
ilustrador Celso Sisto traz diversos contos do continente africano, por meio
dos quais o leitor poderá explorar a riqueza da cultura dos diferentes povos
que lá vivem. Premiado pela FNLIJ com o Acervo Básico e também pela Seleção
Cátedra 10, esse livro narra em cada conto um pouco das tradições africanas e
mostra, por suas histórias e narrativas que remontam às conversas ao pé do
fogo, a importância da memória e dos mitos para a identidade e para os afetos.
4) Chuva de manga, de James
Rumford: neste livro, acompanhamos Tomás no interior semiárido do Chade. A
chuva nem sempre aparece, castigando por vezes famílias, animais, plantações. O
paralelo com o semiárido nordestino é inevitável. E não fica só nisso: assim
como muitos dos meninos brasileiros, também Tomás encontra em seu carrinho, nas
brincadeiras e em sua fruta preferida, o refresco para a secura. Note que os
traços e as cores escolhidas por Rumford evidenciam a beleza e o calor da
paisagem, a aridez do clima, mas também o brilho nos olhos de uma infância
plena de poesia e de pés no chão e a suculência de uma dourada manga, fruta que
rebrilha no desejo do menino Tomás. Ganhador do selo Altamente Recomendável da
FNLIJ.
5) Aminata, a tagarela, de
Maté: pesquisadora das culturas ancestrais, a francesa naturalizada brasileira
Maté escreveu e ilustrou diversos livros sobre a oralidade e as histórias
passadas de geração em geração em aldeias e tribos. Nesta obra, conta uma história
africana que fala de feminino, masculino e o poder das palavras e das artes.
Muito tagarela, a menina Aminata leva uma bronca do líder da tribo porque
queria conversar enquanto ele tramava um tecido. Naquele povo, apenas os homens
tecem e fazem silêncio, pois tecer e falar, dizem, são da mesma natureza,
masculina. Já as mulheres pintam e dançam, pois a pintura é se assemelha à
capacidade feminina de olhar mais para dentro. Uma metáfora sobre a linguagem
-que aparece aqui, como em muitos contos de muitos lugares, atrelado ao ato de
tecer.
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