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domingo, 9 de dezembro de 2018

Filme - Aguirre, a Cólera dos Deuses


Aguirre, Der Zorn Gottes – 1972

Quando o diretor Werner Herzog, utilizando o senso de urgência documental da câmera 35mm na mão, registra intensivamente o confronto do personagem ganancioso de Klaus Kinski com a imponente e imponderável força da natureza, a megalomania ensandecida de Aguirre acaba se mostrando mais ameaçadora que as flechas envenenadas dos índios. A opção pelo realismo estético nessa alegoria poderosa, inspirada em um capítulo real da história da colonização da América Latina, enfatiza a distorcida autoimagem do homem, reforçada pela movimentação assimétrica que remete a um animal acuado, um nobre que enxerga na procriação com a própria filha adolescente o caminho para uma
linhagem pura. O contexto é essencialmente doente, o líder conquistador Francisco Pizarro, um analfabeto criador de porcos, dá o tom da deturpada missão conduzida por essa coletividade isolada da civilização, tendo como representação divina e narrador oficial para o espectador o Frei Gaspar de Carvajal, que afirma sem titubear: não importa com quem esteja a razão, a igreja sempre estará no lado do mais forte. A lei da sobrevivência, o domínio do mais agressivo pelo medo, a imposição cultural em terras estranhas, segurando o chicote sempre ao nível dos olhos dos escravos ajoelhados, a fundação da doutrina que ainda hoje se posiciona sobre os mais diversos assuntos, do alto de seus palácios dourados. O nível de falsidade que é necessário para manter o ritual relevante, mantos coloridos, frases repetidas e joias, assim como as roupas elegantes dos conquistadores que dificultam a travessia na floresta mostrada na longa sequência inicial, apenas evidenciam as rachaduras nos alicerces.


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