João Guimarães Rosa inovou trazendo
uma escrita muito próxima da linguagem falada pelo sertanejo das Gerais. Ainda
assim, como ele mesmo gosta de dizer "O
sertão está em toda parte". E não é que há mesmo muitas semelhanças
nos regionalismos do sertão de Minas Gerais e do sertão do nordeste?
O livro traz a História de Riobaldo,
que empreende uma viagem pelo sertão das gerais em busca de vingança pela morte
de Joca Ramiro, honra para si e para Diadorim, alguém que veio a ser mais
querido do que um amigo.
A magia dessa obra se dá na constante busca pelo antagonismo entre o bem
e o mal, Deus e o diabo, inclusive com a ideia de pacto fáustico, mas
questionando se tudo isso era real mesmo, a todo instante. Por que um personagem
ficou mais corajoso de repente?! Por que parece que teve sorte numa
empreitada?!
E o que definia que o pacto ocorrera de fato?! Quando lhe seria
requerida a alma?!
Outra magia do sertão é o fato de ser tratado como um organismo vivo. O
sertão meio que guia tudo o que acontece com as personagens. Essa ideia é tão
forte que da aparição de um personagem notável, o próprio Riobaldo (nosso narrador, jagunço) se questiona: "você é o sertão?!" Sem
dúvidas, a carga poética dessa obra é incomparável.
Contudo, ainda assim, por ser uma obra de uma escrita regional e
complexa são necessários tempo, paciência, e talvez um pouco de desapego a
entender a obra em toda sua plenitude e se deixar ser levado pelas sonoridades,
regionalismos e sentimentos expressos nas entrelinhas.
E o que dizer da sabedoria de João Guimarães Rosa?? Mire e veja... "Sertão não é malino nem caridoso, mano oh mano!: -
...ele tira ou dá, ou agrada ou amarga, ao senhor, conforme o senhor
mesmo."
Vale a pena a leitura! Uma obra escrita para ser sentida, mais do que
compreendida em sua plenitude.
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